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Recorde de despejo rural no Para

JB, Pais, p.A6
12 de Jun de 2005

Recorde de despejo rural no Pará
Justiça paraense concede 48 liminares de despejo contra trabalhadores rurais em áreas ocupadas, devendo atingir 20 mil pessoas. Segundo CPT e Incra, parte das áreas são projetos consolidados de reforma agrária do governo. Caso será denunciado às Nações Unidas.

São Paulo - Apesar de o governo federal ter se proposto, logo após o assassinato da irmã Dorothy Stang em fevereiro deste ano, a acelerar o processo de reforma agrária no Estado do Pará para minimizar os conflitos agrários e a violência, iniciou-se na semana passada uma ação coordenada da Justiça para execução de cerca de 48 liminares de reintegração de posse em áreas ocupadas por trabalhadores rurais. Os despejos atingirão, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), cerca de 20 mil pessoas no Sul e Sudeste do Estado.

Em nota divulgada nesta quarta (8), movimentos sociais como o MST, a CPT, os movimentos de Atingidos por Barragens (MAB), de Pequenos Agricultores (MPA) e de Mulheres Agricultoras (MMA) denunciaram um acerto político entre fazendeiros e o juiz de Marabá, Líbio Araújo Moura, para o desalojamento de 48 acampamentos da região, onde 10 mil famílias vivem, trabalham e produzem seus alimentos. Com a profunda truculência costumeira, prometem arrancar as lavouras e os Sem Terra de suas ocupações e colocar novamente os antigos latifundiários improdutivos, conforme havia mandado a Vara Agrária”.

Segundo a ONG de direitos humanos Justiça Global, em 40% das fazendas com liminares concedidas as famílias já estão ocupando a terra há mais de quatro anos, com casas construídas, produção de arroz, feijão, milho, mandioca, banana e criação de pequenos animais como porco e galinha. Em todos esses imóveis há escolas funcionando, atendendo crianças e jovens.

A operação, que cumpre liminares de até dez anos desde a sua expedição e conta com a participação de cerca de 40 juízes, foi iniciada em Conceição do Araguaia, já atuou em Parauapebas e Curionópolis, e deve ser concluída em 60 dias pelo Grupo de Operações Especiais, o Pelotão de Choque e o Grupo Tático, com o apoio de uma equipe da Delegacia de Conflitos Agrários da Polícia Civil.

Uma tentativa de ação similar à presente havia sido feita no final de 2004, mas acabou abortada com ajuda da intervenção da Ouvidoria Agrária Nacional. Segundo o advogado e coordenador nacional da CPT, José Batista Afonso, no entanto, o mutirão de despejos” desta vez se deu através da barganha política entre fazendeiros e o governo do Estado, Simão Jatene (PSDB), que busca apoio à sua reeleição no pleito de 2006.

Em resposta às ações de despejo, agricultores ligados ao MST ocuparam, no decorrer dos últimos dias, as rodovias PA-160, Transamazônica e BR-222, o que, por sua vez, gerou protestos de fazendeiros. A situação na região está extremamente tensa, e não sei porque, até agora, não tivemos noticias da Ouvidoria Agrária. Tememos que possam ocorrer confrontos entre agricultores e fazendeiros, e parece que estamos sós”, cobra Afonso.

JB, 12/06/2005, País, p.A6

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