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Realidade paralela

Folha de Boa Vista - http://folhabv.com.br
Autor: Jessé Souza
03 de Mai de 2012

A opinião pública roraimense começou a despertar para um fato que era mais que óbvio: a questão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol já foi definida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não há nada mais a fazer senão passar a planejar o futuro de Roraima a partir dessa nova realidade.

Roraima perdeu longos anos de sua trajetória por culpa de políticos que colocaram a Raposa Serra do Sol como se fosse a única e exclusiva alternativa para o Estado, talvez não só por incompetência, mas porque sempre acreditavam que a opinião pública iria perdoá-los em caso de derrota de suas ações no STF, como acabou ocorrendo.

Sem um plano B, sem projetos alternativos, sem vontade política de propor ações que enfrentassem os verdadeiros problemas de Roraima, há quem ainda tente manter vivo um assunto que foi enterrado por decisão da mais alta Corte brasileira. Não há mais outra saída, a não ser sarar as feridas, compensar produtores que têm interesse em realmente em desenvolver o Estado e então passar a ter os povos indígenas como parte integrante do processo de desenvolvimento.

Mas surge outro grande problema: não há interesse da classe política em incluir ninguém no processo de desenvolvimento, nem os povos indígenas de qualquer região, mesmo os fora da Raposa Serra do Sol, muito menos as famílias pobres que vivem na cidade, inchando os bairros pobres na periferia de Boa Vista.

Interessa à politicalha manter o povo na fila do assistencialismo e os índios em uma dupla condição: a de inimigos (os que não comungam com a política deles) e a de eternos necessitados (os que se submetem à politicalha e estão prontos a trocar seus votos por qualquer presente ou promessa, assim como é feito na periferia da Capital).

Muitos ainda não conseguem entender que a politicalha tem um projeto único: manter um discurso renovado de que a questão indígena é "o" problema, como forma de alimentar as mentes anestesiadas pelo anti-indigenismo; e, paralelamente, fortalecer o cabresto dos que vivem na cidade, submetidos ao subemprego, aos benefícios sociais, às benesses governamentais e uma lavagem cerebral que esconde a falta de projetos e ações concretas para tirar Roraima do buraco.

Enquanto o povo desvia suas atenções para assuntos "polêmicos", as falcatruas vão passando ao largo, como se o ataque aos cofres público não tivesse nada a ver com a situação crítica por qual passa o Estado, sem perspectiva de crescimento e sem uma solução para tirá-lo da dependência dos cofres da União.

O objetivo de continuar fomentando a discussão "Raposa Serra do Sol" é apenas um: "criar uma realidade paralela". A politicalha sabe que o sentimento anti-indigenista da população funciona com mais poder de persuasão do que fazer propagandas espetaculares a fim de manter as mentes anestesiadas. É por isso que o discurso político (e apocalíptico) contra a questão indígena vai se manter viva por longos anos.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza - Facebook: http://www.facebook.com/jesseroraima

http://folhabv.com.br/noticia.php?id=128625

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