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Raras, serpentes do litoral correm riscos

FSP, Ciência, p. A18
18 de Dez de 2007

Raras, serpentes do litoral correm riscos
Inventário inédito feito em 18 ilhas de São Paulo identifica 36 espécies, 69% delas são grupos difíceis de encontrar
Para pesquisador, a pressão humana e a presença de animais em terras privadas dificultam a preservação da biodiversidade da região

Eduardo Geraque
Da reportagem local

Um boa parte da biodiversidade das serpentes do litoral paulista está ameaçada de extinção. O risco ocorre porque essas espécies vivem em ilhas sob pressão ambiental.
O primeiro inventário desses animais feito para 18 ilhas do Estado revelou a existência de 36 espécies de apenas quatro famílias. Deste total, 44% são consideradas "raras" e outras 25% "pouco freqüentes".
"As serpentes estão entre os animais mais perseguidos pelos humanos, pois elas podem causar inúmeros acidentes. As ilhas do litoral do Estado, em sua maioria, são habitadas por populações humanas, o que pode extinguir essas espécies sem que possamos conhecê-las", explica à Folha o pesquisador Paulo Cicchi, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu. Ele é um dos autores do inventário.
O biólogo, ao lado de outros colaboradores, rastreou todas as coleções herpetológicas (de serpentes) existentes no Sudeste do Brasil.
E, além disso, coletou espécies na natureza em 11 ilhas. Entre os locais estudados estão áreas bastante conhecidas, como ilha Anchieta e ilha de São Sebastião (do arquipélago de Ilhabela), ambas no litoral norte; ilha de Santo Amaro (onde está o Guarujá), além de Cananéia e ilha do Cardoso, ambas situadas no litoral sul.
Em Bertioga, na ilha do Monte de Trigo, os pesquisadores não conseguiram encontrar nenhuma espécie. Dados levantados no local indicam que elas foram exterminadas pela ação humana.
"Muitas dessas áreas são zonas privadas, o que dificulta bastante a conservação", explica Marcelo Duarte, do Instituto Butantan de São Paulo, outro autor do inventário, que foi publicado na revista "Biota Neotropica". Das 18 áreas de estudo, apenas três têm zonas sob proteção ambiental.
No caso, por exemplo, das ilhas de Queimada Grande e de Alcatrazes, apesar de as espécies jararaca ilhoa e jararaca alcatrazes serem exclusivas dessas regiões, além de abundantes, elas não estão livres de desaparecer.
"Pela vulnerabilidade desses dois locais, as serpentes que vivem nessas ilhas já estão sob perigo de extinção", avisa Cicchi, pesquisador da Unesp.

Cobras à vista
Apesar do quadro preocupante da biodiversidade das serpentes paulistas que vivem em ilhas, os pesquisadores conseguiram ampliar a ocorrência de 13 espécies com esse novo estudo. "Neste caso, os animais nunca haviam sido identificados nas ilhas, apenas no continente", afirma Duarte.
A coral-verdadeira, pelo inventário, é a espécie mais comum nas ilhas paulistas. Do total de grupos catalogados pela pesquisa, 31% foram classificados como freqüentes.
Segundo Cicchi, pesquisadores no mundo todo, hoje, tentam entender por que as ilhas são ambientes muito vulneráveis. E, a partir do conhecimento sobre quais plantas e animais existem nesses locais, será mais fácil preservar a biodiversidade dessas regiões.
"Ninguém entende que a maioria das serpentes é inofensiva e não causa riscos. E, além disso, elas são importantes tanto do ponto de vista biológico, quanto utilitário."
O pesquisador do Butantan lembra que hoje o veneno de algumas cobras tem sido usado pela medicina.
"No caso da floresta, como grande parte das serpentes se alimenta de anfíbios, elas são fundamentais para a manutenção da cadeia alimentar."

As espécies foram separadas pela subida do mar?

Segundo Paulo Cicchi, do Butantan, o inventário das serpentes paulistas trouxe dados interessantes sobre algumas das espécies estudadas. É o caso da Dispas albifrons, uma cobra que vive em apenas três ilhas: Alcatrazes, Queimada Grande e ilha de São Sebastião. "Existem muitas opiniões em relação à presença desta espécie só nas ilhas", diz Chicci. Futuros estudos tentarão descobrir se o aumento do nível do mar após o início do período quaternário, há mais de 1 milhão de anos, é aquilo que fez esse grupo de cobras se separar das outras do continente.

FSP, 18/12/2007, Ciência, p. A18

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