VOLTAR

RAPOSA SERRA DO SOL - Transarrozeira é liberada com restrição

Folha de Boa Vista
Autor: Andrezza Trajano
09 de Mai de 2008

A RR-319, estrada que dá acesso à reserva Raposa Serra do Sol pela região do Passarão e que havia sido bloqueada por índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) na segunda-feira, foi liberada ontem, segundo informou o delegado executivo da Polícia Federal, Ivan Herrero.

Os indígenas tinham fechado a rodovia, impedindo a retirada de 25 mil sacas de arroz da fazenda Tatu, de propriedade dos rizicultores Ivo e Regina Barilli. Uma negociação feita por Herrero na quarta-feira, entre os rizicultores e os indígenas permitiu o acesso à região, mas com restrições.

Segundo Regina, após o acordo, ficou acertado que o caminhão só poderia entrar na lavoura apenas com o motorista, sem levar insumos ou combustível. "Era só para pegar o arroz que havia sido colhido e estava no chão apodrecendo, e trazer para Boa Vista. Os outros três funcionários que seguiram no caminhão tiveram que descer e dormir na rua", relatou.

Às lágrimas, Regina disse que não sabia mais a quem recorrer. "Tenho vergonha de ser brasileira. Estão nos impedindo de trabalhar. Se a Polícia Federal não consegue tirá-los de lá, quem vai tirá-los?", questionou.

Conforme Ivan, o acordo foi realizado como forma de manter a ordem e a segurança pública. "Havia duas situações, ou deixava bloqueado do jeito que estava ou aceitaria aquela condição já que os líderes deles não se faziam presentes. Os fatos ocorridos recentemente na fazenda Depósito ganharam corpo entre os indígenas e geraram todo esse conflito", disse.

No início da noite de ontem, Herrero afirmou que a estrada foi liberada após uma reunião realizada entre lideranças indígenas e a cúpula da PF. Mas os produtores de arroz estão proibidos de levar para as fazendas insumos para iniciar novo plantio.

Arrozeiros podem perder quatro mil toneladas e pedem apoio ao Estado

Índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) bloquearam duas rodovias federais que dão acesso a fazendas de arroz. Além do produto que está sendo colhido impedem que os produtores levem insumos e sementes para o plantio da próxima safra.

Angustiados com a possibilidade de perderem 80 mil sacos de arroz (quatro mil toneladas) em fase de colheita, os produtores se reuniram ontem com o governador Anchieta Júnior (PSDB). Em síntese, para pedir apoio na adoção de medidas que consideram imprescindíveis à segurança da produção.

Ao tempo em que demonstrou preocupação com uma das mais importantes atividades econômicas do Estado, Anchieta Júnior pediu que todos tivessem calma na expectativa de que até o final deste mês o Supremo Tribunal Federal (STF) decida a ação que questiona a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol.

O governador disse aos rizicultores que atitude insana de alguns está atrapalhando o processo. Ele acredita que ações extremas não representam o sentimento da maioria dos indígenas que vivem na área em questão. Para tranqüilizar, disse aos produtores que o STF vai decidir a questão com rapidez.

Não é exagero dizer que parcela dos produtores está desesperada diante da iminência dos prejuízos. Isoladamente, sugeriram medidas para minimizar os efeitos causados à produção. Pediram a intervenção do Exército para pacificar a região, a presença da Polícia Militar para desbloquear estradas e também o envio de documentos ao presidente da República e ao ministro da Justiça, colocando-lhes a par da situação.

Em entrevista à imprensa, o governador informou que vai endereçar ofícios ao presidente, ao ministro da Justiça e ao comandante do Exército, transmitindo a preocupação dos produtores. "O que vamos efetivamente conseguir com esses ofícios eu não sei dizer", comentou.

Mesmo diante do visível desconforto de alguns produtores que esperavam por respostas mais arrojadas, ele insistiu para que todos mantivessem a calma. "Sem sombra de dúvida o momento exige clama. Nosso discurso é no sentido de aguardar a decisão do Supremo e seja ela qual for nós a acataremos", destacou Anchieta Júnior.

PRODUTORES - Empresária do setor da rizicultura, Izabel Itikawa disse que a classe sabe do empenho do governador em resolver a questão, mas espera uma resposta para o drama em que vivem. Conforme ela, ontem, os indígenas interditaram a BR-319 que liga Normandia a Surumu e há mais de um mês restringem o tráfego na BR-433, que dá acesso a Normandia.

Ela disse ter compreendido a posição do governador no sentido de evitar o acirramento de ânimos. "Na avaliação dos rizicultores, indígenas ligados ao CIR estão desesperados e procuram um cadáver e com isso ganhar simpatia para a causa que defendem", comentou.

Inquieta diante da perspectiva de novos prejuízos para a classe, reforça que não sendo desobstruída a estrada, além dos dez mil sacos que estão praticamente perdidos e de apenas um produtor, outros 70 mil podem não chegar às indústrias. Seriam então 80 mil sacos de prejuízo.

"Ao contrário do esperado, a Polícia Federal não trouxe a paz. Deixa insatisfeitos a população do Estado e os indígenas que lá estão. Por isso defendemos a presença de uma instituição como Exército para impor o respeito de todos, coisa que a Polícia Federal não conseguiu", declarou Izabel.

Segundo a empresária, mesmo coberto por lonas, o arroz que está sendo colhido é armazenado no chão, recebe umidade, esquenta e estraga. "Além do prejuízo por não industrializarmos o produto, não podemos levar insumos e sementes para plantar a próxima safra. Os índios dizem que não podemos transportar. Então, como continuar produzindo? É um prejuízo muito grande, especialmente quando o mundo reclama a falta de arroz. Em razão disso temos depositado nossa confiança no Poder Judiciário", declarou Izabel Itikawa. (C.P)

Índios devem voltar a bloquear acesso à Raposa Serra do Sol

O acordo entre a Polícia Federal (PF), índios e arrozeiros para a liberação do acesso à terra indígena Raposa Serra do Sol encerra-se hoje (8), às 18h. Segundo o coordenador de Projetos da Comunidade Raposa Serra do Sol, ligado ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), o macuxi Jaci José de Souza, os índios aceitaram liberar a via apenas para os arrozeiros retirarem a produção da fazenda Depósito, localizada dentro da reserva. O caminho está interditado desde terça-feira pelos indígenas.

Às 18h, a comunidade vai fechar [a estrada]. Estamos fiscalizando, olhando os arrozeiros tirar o arroz. Amanhã, a comunidade continua levantando suas casas dentro da área deles, mas fora da área cercada da fazenda, informou o representante indígena em entrevista à Agência Brasil.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.