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R$ 109 bi na orla do Rio estão sob ameaça do clima

OESP, Metrópole, p. A14
03 de Nov de 2015

R$ 109 bi na orla do Rio estão sob ameaça do clima
'Brasil 2040' analisou vulnerabilidade da capital fluminense e de Santos; cidade paulista tem mais de 60% de sua área em alto risco

Giovana Girardi - O Estado de S. Paulo

Uma área avaliada em pelo menos R$ 109 bilhões no Rio de Janeiro pode ser afetada até 2040 por conta da elevação do nível do mar causada pelo aquecimento global. Em Santos, toda a infraestrutura necessária para lidar com eventos climáticos extremos, como hospitais e corpos de bombeiros, está ameaçada por estar localizada nas áreas de maior vulnerabilidade a alagamentos.
Essas são as principais conclusões do capítulo de infraestrutura costeira do estudo "Brasil 2040", divulgado na última quinta-feira (29) pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. O trabalho é considerado o mais importante já feito no Brasil para avaliar os impactos, pelos próximos 25 anos, que os mais diversos setores da economia vão sofrer diante das mudanças climáticas.
A avaliação costeira foi conduzida no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) pelo engenheiro civil Wilson Cabral e seu aluno Vitor Zanetti. Eles mapearam a vulnerabilidade das duas cidades ao aumento do nível do mar em relação ao risco de ressaca, deslizamentos de terra e inundações.
Foram considerados dois cenários do IPCC (o painel da ONU de cientistas do clima): um mais pessimista, que o mundo não age para combater as mudanças climáticas; e um intermediário, em que ações são tomadas, mas ainda não o suficiente para evitar um aquecimento de cerca de 3oC até o final do século. Nesses dois cenários, as cidades foram, então, divididas em áreas de muito baixa a muito alta vulnerabilidade.
No caso do Rio, os pesquisadores cruzaram o mapa de vulnerabilidade com o de valores imobiliários (veja abaixo). "É ainda uma análise preliminar, qualitativa, mas que aponta que no cenário mais brando, uma área de R$ 109 bilhões pode estar ameaçada nos próximos 25 anos. No pior cenário, o valor sobe para R$ 124 bilhões", afirma Cabral.
Ele se refere à orla na zona Sul, que inclui bairros como Barra da Tijuca, Ipanema e Copacabana. "Em termos de vulnerabilidade, o risco nessas regiões é médio - há áreas no Rio muito mais vulneráveis, como a Ilha do Fundão e o aeroporto de Santos Dumont - mas como elas concentram os imóveis mais caros, o valor em risco passa a ser mais proeminente", explica o pesquisador.
Hospitais alagados. Em Santos a maior ameaça é justamente aos setores que precisam agir no caso de um evento extremo. "Mais de 60% do município está em área de alta vulnerabilidade, incluindo a chamada infraestrutura crítica", diz Cabral. "Com a elevação do nível do mar, se ocorrer um alagamento, observamos que todos os hospitais de Santos podem ficar alagados. E isso nos dois cenários. Unidades do Corpo de Bombeiros também estão em área de risco no pior cenário."
Os pesquisadores avaliaram também os riscos dos portos do Brasil. Segundo eles, a maioria já sofre com o aumento do nível do mar e passa por uma redução da borda livre - espaço seco entre o cais e a água - e redução do calado (profundidade) por causa de assoreamento. O porto de Santos, por exemplo, que foi projetado para ter uma borda livre de 1,18 m, fica com apenas 0,95 m em momentos de maré baixa. Isso pode cair para 0,72 cm até 2040 no pior cenário.
Os pesquisadores avaliaram também os riscos dos portos do Brasil. Segundo eles, a maioria já sofre com o aumento do nível do mar e passa por uma redução da borda livre - espaço seco entre o cais e a água - e redução do calado (profundidade) por causa de assoreamento. O porto de Santos, que foi projetado para ter uma borda livre de apenas 1,18 m (quando o recomendável é de 1,58 m), já fica hoje com apenas 0,95 m de borda em momentos de maré baixa. Isso pode cair para 0,72 m até 2040 no pior cenário.
Cabral defende que os governos nacionais e locais precisam começar a inserir a variável das mudanças climáticas no planejamento das cidades e de infraestruturas estratégicas para o País, como os portos.
"Em Santos, por exemplo, o código de habitações ainda permite construções insulares que são muito vulneráveis, como os estacionamentos em subsolo. Eles já sofrem com inundações e isso tende a ser exacerbado com a mudança climática. O zoneamento urbano e o plano de mobilidade têm de levar isso em conta", afirma.

OESP, 03/11/2015, Metrópole, p. A14

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