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Quilombolas temem o aumento do número de homicídios no campo com a vitória de Bolsonaro

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Autor: Thalyta Martins
30 de Nov de 2018

Eleito presidente da República no dia 28 de outubro, Jair Bolsonaro (PSL), pretende não mais reconhecer ou demarcar terras indígenas e quilombolas e almeja liberar esses territórios para a exploração mineral e agropecuária, o que, segundo ativistas, pode aumentar o número de conflitos no campo. O novo chefe do poder executivo também chegou a ser acusado de racismo, depois de declarações direcionadas ao quilombolas, no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro.

Givânia Maria da Silva, integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), diz que o grupo ainda não sabe quais políticas devem ser adotadas por Bolsonaro, mas espera por tempos de retrocessos e retirada de direitos.

"Estamos nos preparando para viver dias muito difíceis", afirma.

Um relatório feito pela CONAQ e a Terra de Direitos, em parceria com o Coletivo de Assessoria Jurídica Joãozinho de Mangal e a Associação de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da Bahia (AATR), mostra que houve um aumento no número de quilombolas assassinatos.

O trabalho aponta que 2017 foi o ano mais violento para este grupo populacional nos últimos 10 anos. As mortes aumentaram 350% em relação ao mesmo período de 2016. Em reportagem publicada no site da organização Terra de Direitos, a falta de atuação do Estado para a garantia dos territórios é um fator para a perpetuação e o aumento da violência.

Para Givânia, esses números podem crescer com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, que promete flexibilizar o porte de armas e liberar a exploração de terras reivindicadas por quilombolas para a iniciativa privada.

"Essa violência tem feito muitas vítimas no campo e isso em um momento em que as pessoas não estão autorizadas a matar como está sendo anunciado".

Demarcação de terras

Em palestra dada no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro em abril de 2017, Bolsonaro frisou que a frente do poder executivo "não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola". O candidato defende que as terras demarcadas para quilombolas possam ser utilizadas para a mineração e venda para a iniciativa privada.

"A elite econômica e política, em sua maioria comandada por homens brancos e descendentes de escravocratas, mantém um sistema de privilégios e riquezas que resulta da exploração do trabalho de negras e negros e do seu sistemático não acesso a políticas e recursos", explica o relatório "Racismo e violência contra quilombos no Brasil".

Desde o início do governo Temer, em 2016, uma série de retrocessos contra esse segmento social foi decretada.

Entre as medidas alarmantes, estão a de estimular vendas de lotes já assentados por meio da titulação privada e individual; corte de verbas para órgãos como o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) (o valor destinado ao Incra em 2013 foi de R$ 42 milhões, quantia que retraiu para R$ 1 milhão em 2018); legalizar pagamentos de assalariados rurais com comida e aluguel; e acabar com a demarcação de terras dos povos indígenas, quilombolas e reservas ambientais.

Tudo isso pode e deve ser perpetuado e até intensificado pelo governo de Bolsonaro.

"Ele já anunciou que interromperá a política para comunidades quilombolas e indígenas e isso nos deixa em certo nível de apreensão", afirma Givânia.

Ela também acredita que, diante do que tem sido colocado pelo representante federal do poder executivo, outras estratégias de resistência podem ser adotadas, como a maior aproximação a governos estaduais e municipais.

"Algumas coisas teremos que ter mais atenção: governos estaduais, municipais e parlamentos. Esses alvos merecem um olhar mais cuidadoso por parte do movimento. Não tenho como dizer mais do que isso porque a conjuntura não tem ajudado a termos uma estratégia melhor definida".

Acusação de racismo e falta de conhecimento sobre os quilombolas

No mesmo evento no Clube Hebraica, Bolsonaro disse que visitou um quilombo no município de Eldorado, no Vale do Ribeira, e que constatou que o "afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas", medida utilizada para quantificar o peso de animais. Também afirmou que os residentes não faziam nada e não serviam nem para procriar.

Depois das falas, o na época candidato à presidência foi alvo de denúncia de racismo por parte da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. No entanto, em setembro de 2018, por três votos a dois, a primeira turma do Supremo Tribunal Federal livrou Bolsonaro da acusação, porque considerou que as declarações estavam dentro da liberdade de expressão. O caso foi arquivado

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