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Autor: Marcelo Lima
14 de Set de 2023
De acordo com Adriana da Silva Alexandre Felipe, uma das organizadoras, a feira tem como objetivo promover a interação da comunidade quilombola com os visitantes
Por Marcelo Lima
A Comunidade Quilombola da Restinga, situada na área rural do município da Lapa, vai realizar neste sábado (16) a 1ª Feira de Sementes Crioulas, que terá início às 8h30 e se estenderá até o final da tarde. Além da troca de sementes, o evento contará com uma programação cultural diversificada, incluindo o lançamento do livro "Sangue sobre (t)ela", produzido pelo Coletivo Vozes Escarlates, às 13h.
As atividades terão início às 9h, com a apresentação do grupo de capoeira da Lapa. Às 10h, será a vez do grupo musical afro Pretinhosidade. Durante a tarde, às 14h30, está prevista a palestra "Violência contra a mulher", ministrada pela quilombola Silmara Xavier. Em seguida, ocorrerá a apresentação do grupo Guerreiras do Quilombo, de Arapoti. Para encerrar, será realizada uma oficina de pintura para crianças e sorteio de uma cesta com produtos da agricultura familiar.
De acordo com Adriana da Silva Alexandre Felipe, uma das organizadoras, a feira tem como objetivo promover a interação da comunidade quilombola com os visitantes e com outras comunidades tradicionais que participarão do evento. Segundo ela, embora a comunidade sempre tenha participado de outras feiras, esta é a primeira vez que a Restinga consegue organizá-la.
"Este evento é relevante, pois proporciona um encontro entre as pessoas e as comunidades quilombolas, bem como a troca de conhecimentos tradicionais que contribuem para a preservação de práticas agrícolas que protegem a natureza", afirma Adriana.
Ela conta que existe preocupação ambiental na comunidade da Restinga, daí a importância da troca de sementes crioulas e de práticas tradicionais de agricultura, evitando o uso de agrotóxicos na produção de frutas e verduras.
O uso e a troca de sementes crioulas é uma prática frequente entre comunidades quilombolas, indígenas e agricultores familiares. Elas são variedades que se desenvolveram em locais específicos, adaptando-se melhor ao ambiente.
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Ao mesmo tempo, a troca permite diversidade genética, garantindo maior resistência a doenças e pragas. Outra vantagem é que o cultivo de sementes crioulas está relacionado com a preservação da diversidade, já que o agronegócio geralmente trabalha com uma variedade muito reduzida de sementes.
Despertando o coletivo
As comunidades quilombolas frequentemente testemunham uma participação extremamente ativa das mulheres, e isso não é exceção nas comunidades da Lapa. Não é por acaso que o livro coletivo "Sangue sobre (t)ela" tenha sido escolhido para ser lançado na feira de sementes. "As mulheres possuem o poder de despertar o espírito coletivo", afirma Ná Silva, organizadora do livro.
Trata-se de uma antologia de textos que inclui narrativas e poemas abordando conquistas, direitos, liberdades e desafios enfrentados pelas mulheres. "Nas páginas, encontramos narrativas de experiências de mulheres, como a história de uma mãe que enfrentou a perda de seu filho, de uma jovem que ensina em uma comunidade e testemunha as desigualdades, e a metáfora de uma mulher que se afunda no amor", relata Ná Silva.
Quilombolas no Paraná
No município da Lapa, conforme o Censo de 2022, existem 1381 pessoas autodeclaradas quilombolas, sendo um dos municípios paranaenses com a maior presença desse grupo. O território quilombola da Lapa conta com três comunidades: Feixo, Restinga e Vila Esperança, todas situadas na mesma região. O território recebeu a certificação da Fundação Cultural Palmares em 18 de outubro de 2006.
De acordo com o Censo, o Paraná conta com 7.113 quilombolas autodeclarados. Dentre eles, apenas 9,11% vivem em territórios quilombolas reconhecidos pelo governo federal. Com isso, o Estado ocupa o 20o lugar em número de integrantes dessa população e é o segundo na região Sul, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul, que conta com 17.496 pessoas.
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