VOLTAR

Quilombo ganha ponte, mas espera estrada

FSP, Brasil, p. A17
11 de Abr de 2010

Quilombo ganha ponte, mas espera estrada
Obra prometida por Lula antes de chegar à Presidência foi concluída em 2009, mas acessos ainda não foram construídos
Sem estradas, descendentes de escravos precisam escoar sua produção usando barcos; governo culpa chuvas pela não execução de acessos

Sílvia Freire
Da agência Folha, em Eldorado (SP)

A construção de uma ponte sobre o rio Ribeira de Iguape (interior de São Paulo), prometida por Lula a uma comunidade quilombola quando ainda era candidato a presidente, foi concluída há quatro meses ao custo de R$ 6,7 milhões. Mas a ponte, pronta, não pode ser usada: as estradas de acesso a ela não foram construídas.
Um desnível de cerca de 1,5 metro separa a estrutura de suas duas cabeceiras. Sem a ponte, as 98 famílias que moram no quilombo Ivaporunduva, em Eldorado (250 km de SP), continuam tendo que utilizar a balsa para escoar sua produção de bananas -como vêm fazendo há mais de 15 anos.
A dificuldade aumentou a partir de dezembro -justamente quando a ponte de concreto de 128 metros foi concluída- com o deslizamento da estradinha que dá acesso à balsa, por causa das fortes chuvas.
Na semana passada, com o aumento do nível do rio, os descendentes de escravos não conseguiram entregar à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) as 300 caixas de banana previstas em contrato, sua principal fonte de renda.
Das 98 famílias, 75 estão inscritas no Bolsa Família. A comunidade também vive da venda de artesanato e do turismo.
A ponte ligando o quilombo à rodovia SP-165 foi prometida por Lula ainda antes de ele chegar à Presidência, em 1995.
"Lula viu a nossa dificuldade e disse que, se fosse eleito presidente, faria a ponte para nós. Ele cumpriu a promessa, porque muitos achavam que a ponte nem sairia. Estamos batalhando para sair a estrada", diz Maria da Guia Silva, presidente da associação do quilombo.
O mecânico Rogério Aparecido Cunha, que mora em São Paulo e tem família no quilombo, investiu R$ 30 mil na plantação de banana, acreditando na facilidade que a ponte trará para a comercialização.
A Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), que coordena a construção da ponte, diz que a chuva que atinge a região desde dezembro impediu a execução dos acessos.
Falta pavimentar um trecho de 280 metros e abrir outros 770 metros de estrada na margem direita do rio, entre a ponte e a rodovia. Na terça, quando a Folha visitou o quilombo, o canteiro de obras na cabeceira da ponte estava vazio, sem maquinários ou trabalhadores.
"Há uma burocracia horrorosa que atrapalha a celeridade da obra", afirma o ministro Eloi Ferreira de Araújo (Seppir), citando a demora na concessão da licença ambiental e um problema fundiário -um posseiro reivindicou a propriedade da área da estrada.
De acordo com o Exército, que gerencia a construção da ponte, a previsão é que os acessos sejam entregues em três meses após reiniciada a obra.
A Cetesb, órgão do governo de São Paulo que faz licenciamento ambiental, disse que não houve atraso na concessão da licença de instalação dos acessos, dada em fevereiro.
A construção foi ordenada por Lula em 2003. No último dia 31, Lula cobrou a conclusão dos acessos e disse que não poderia deixar o cargo sem inaugurar a ponte.

FSP, 11/04/2010, Brasil, p. A17

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.