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Questão Indígena Local XI

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: *Riobranco Brasil
05 de Mai de 2003

O pequeno índio

Pois é. O índio Pemón, é um índio integrado que, ao longo dos séculos, aprendeu a ser um cidadão participativo que não quer mais ficar isolado da sociedade civil.
Aproveito, para lhes comentar a história que li e que muito bem retrata o índio contemporâneo, integrado à sociedade civil. Adapto à etnia local, sem contudo, fugir ao texto e à sua essência.
Quando o pai do índio veio fazer a matrícula do filho; chegou à escola, sem camisa, de umbigo preto para fora, com dois penachos coloridos de pena de arara na cabeça e a senha número "um" na mão e foi logo dizendo com voz grossa e firme:
¾ Vim matricular meu filho.
Pronto! A celeuma estava criada. A pobre da secretária não sabia como proceder. Nunca, ninguém havia matriculado um índio no colégio público. Aliás, não se sabia se o índio poderia freqüentar a escola do não-índio. A secretária foi, imediatamente, conversar com a Diretora do colégio que promoveu uma reunião com todos os professores para resolverem o problema da matrícula do índio. Haviam, ainda, muitas dúvidas. A primeira idéia de que temos do índio, é aquela que vemos nas páginas dos livros de história do Brasil, em que ele aparece nu, de arco e flechas na mão, pronto para atacar o homem branco para, em seguida, comê-lo assado sobre um braseiro infernal. Ou aquele índio, nu, sendo ajudado pelo padres jesuítas que trabalhavam para salvar a alma do pobre herege. Ainda, aquele índio pendurado nas árvores, manso e pacífico, igualmente nu, assistindo a primeira missa na terra recém descoberta, cujo belo quadro, imortalizou o grande pintor Pedro Américo. Ou, o índio nu, retratado pelos invasores, quando Maurício de Nassau, fincou a bandeira da Holanda em Pernambuco. Ainda, o indolente índio amazônico, nu, que fora caçado impiedosamente por homens civilizados, fortes, bem armados, que o vendia como escravo. Ou, aquele, igualmente, nu, conhecido pelas muitas expedições que estiveram em nosso Estado, desde a presença do Sir Walter Releigh, no século XVI, até a presença aqui do sábio Thodore Koch-Grünberg em 1911.
O General Rondon, quando em expedição, ao Monte Roraima, perguntou ao índio Alberto:
¾ Êh, Parente Alberto, de que era feita aquela damorida tão esquisita?
¾ Camarão-do-campo, Chefe. Coisa muito boa, melhor do que sapinho moqueado.
¾ Mas o que é camarão-do-campo, homem?
¾ Gafanhoto, Chefe, gafanhoto dos grandão, de perna cor de jerimum...(sic)
Rondon sorriu meio amarelo e calou-se. (Nenê Macaggi -A Mulher do Garimpo - p.149/1976)
O índio que os estrangeiros e as suas organizações querem que seja, nas áreas de campo ou lavrados, não existe mais. Há muito, o índio Pemón veste calças, deixou de andar nu. Não é mais o índio encontrado pelos conquistadores e, muito menos, carente de proteção por estrangeiros e seus asseclas. Não é mais! Não é mais aquele índio que perambulavam descalço e nu por ai, e, muito menos, a mulher índia que carregava, o filho e, em suas costas, o jamaxí com pertences dos exploradores, cujo peso, poucos homens brancos suportariam.
Assim, o caso da matrícula do curumim índio já havia causado enorme polêmica, primeiro, porque não se sabia se índio poderia estudar em colégio público. Segundo, se o índio poderia assistir à aula nu. Se não teria sido melhor consultar a FUNAI, órgão federal, responsável pelo índio. E, como seria ele? Seria ele um índio brabo e falaria ele o português? Mas, cá estava o nosso índiozinho contemporâneo sendo aguardo pela Diretora do colégio, seus colegas de classe, a comunidade em geral, todos, em fim, da escola estavam esperando o novo estudante.
¾ É mesmo ele, um índio? Indagava a Diretora.
Tudo pronto para receber o índio. Todos aguardavam, junto ao portão do colégio o índio, quando surge, distante, no começo da rua o fuscão. Todos se entreolham surpresos quando do carro volkvagen, do fuscão, de cor vermelha, rebaixado, turbinado, roncando... ..uma freada brusca... a porte se abre... e, de dentro, sai o tão esperado índio... aquele menino todo incrementado.
.Todos exclamaram:
¾ Oh! Oh!!!...
O menino índio robusto, roliço, cabelos negros, lisos, vestia uma calça jeans americana, mascava chicletes, na cabeça um boné do Chicago Bulls, sapato tênis Reebok, camiseta, escrito no peito: Make love. No war. Nas orelhas o walkman... dirigiu-se à Diretora que, estupeficada, ouviu do índio:
¾ "Posso assistir aula de walkman?"
Na próxima 2o feira A Questão Indígena Local XII

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