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Quem virá atrás da usina do Xingu?

Jornal Pessoal
Autor: Lúcio Flávio Pinto
13 de Nov de 2003

Certos elementos do projeto mudaram, críticas feitas a partir de fora estão sendo incorporadas, mas o governo Lula se rendeu a Belo Monte. A sisuda ministra de minas e energia, Dilma Rouseff, classificou a hidrelétrica de "jóia da coroa". Entre outros motivos, principalmente porque cada megawatt nela instalado custará 12 dólares. Esse era o valor mirífico que os responsáveis pelo projeto esgrimiam como um abre-te-sésamo, capaz de derrubar as portas da incredulidade. Ceticismo que era partilhado por técnicos que agora pularam o balcão da oposição e estão agora do lado do governo, repetindo o número cabalístico.

Tenha 11 mil megawatts, como estava decidido no governo Fernando Henrique Cardoso, ou 7,5 mil MW (ou mesmo 5,5 mil MW, como alguns já falam), a usina é um doce de coco. Inundará área menor ainda do que o previsto, será submetida a uma avaliação de impacto ambiental muito mais rigorosa, para minorar ou prevenir seus aspectos negativos, e continuará mais barata do que qualquer outra forma de geração energética em escala comparável. Por isso, a ministra de minas e energia adiantou, na semana passada que há "uma pilha de investidores interessados em participar do projeto". Não um interesse em abstrato, mas já com negociações em curso. O governo pretende apresentar Belo Monte como um dos primeiros casos enquadráveis no modelo PPP (parceria público-privada), que constitui a menina dos olhos do mundo dos negócios no momento.

Ainda há quem garanta que mesmo com o reinício do zero do EIA-Rima e mais rigor nas obras, a usina poderá estar pronta em 2008 ou, no mais tardar, em 2009. Esse apertado cronograma seria possível graças ao novo esquema associativo. Três empresas ainda estatais (Furnas, Chesf e Eletronorte) subscreveriam 49% das ações da nova companhia, enquanto um consórcio privado ficaria com 51%. A composição do consórcio ainda não foi totalmente fechada, mas por ele já manifestaram interesse grandes fabricantes estrangeiros de equipamentos, como a Alstom, ABB, General Electric e Voith Siemens, e as construtoras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, todos eles tradicionais no ramo (e nas suas extensões e derivações) . O grupo foi, significativamente, batizado de "Consórcio Brasil". O mesmo do grupo que tentou assumir a Companhia Vale do Rio Doce, com calor oficial. Convém, portanto, acompanhar atentamente os passos que dará a partir de agora para assumir uma das maiores hidrelétricas do mundo.

Mesmo com sua nova roupagem petista, Belo Monte, se conserva o encanto precioso do passado, para quem sabe ver coroas, também traz alguns de seus mistérios. O maior deles, ainda por decifrar, é: com todas as mudanças e correções, o empreendimento só é viável se, além da barragem da grande curva do Xingu, outra ou outras forem construídas rio acima? Nesse ponto, não se toca. Talvez por ser um "detalhe", agora como antes.

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