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A queda de braço no governo sobre as metas do clima

O Globo, Ciência, p. 38
05 de Nov de 2009

A queda de braço no governo sobre as metas do clima
Carlos Minc diz que Brasil terá proposta ousada para reunião em Copenhague

Leila Suwwan
Brasília

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, voltou a afirmar que o Brasil irá apresentar uma meta de redução de emissão de CO2 na conferência de Copenhague e reiterou que o adiamento do anúncio oficial até o dia 14 não é uma estratégia de protelação diplomática. Na disputa interna do governo sobre a posição a ser apresentada na reunião prevalece, até agora, a visão - defendida sobretudo pelo Itamaraty - de que o Brasil não pode se comprometer internacionalmente com metas ousadas, de pelo menos 35%, como quer o MMA.

- O Brasil vai ter uma meta, um número, um protagonismo - garantiu Minc. - O presidente já decidiu que irá apresentar uma meta ambiciosa. E é claro para todos no governo que precisamos ter compromissos sérios para captar recursos.

Ele se refere às propostas brasileiras que dependerão de financiamento externo, conhecidas pela sigla Nama (Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas, em inglês). Esses compromissos, se aceitos, receberão verbas do fundo internacional.

Em outro eixo, o Brasil terá compromissos próprios, bancados por recursos internos.

Para Minc, as avaliações recentes que apontam uma redução de emissão de gases do efeito estufa de 35% seriam conservadoras já que não levariam em conta ações já anunciadas, como o "aço verde" (o uso exclusivo de carvão de replantio pelas siderúrgicas), o fim da queima de canade-açúcar e a substituição de nitratos na agricultura.
'Só temos um planeta', diz Minc
O ministro defende sua proposta original, de "20+20", uma referência à redução de 20% das emissões em razão da diminuição do desmatamento na Amazônia somada à redução de outros 20% das emissões derivadas de outras ações na siderurgia, agricultura e setor energético.

- Teremos a melhor proposta entre os países em desenvolvimento - assegurou Minc.

Segundo ele, há prognósticos desfavoráveis entre algumas nações, como a Índia. Por outro lado, outros grandes desmatadores devem apresentar metas que se aproximam do patamar de 40% de redução, como a Indonésia.

Mas ele negou que o Brasil esteja "segurando uma carta na manga" e considerou salutar a pressão para que o país divulgue seu número o quanto antes, como forma de pressionar positivamente outras nações.

- Não vamos seguir essa linha de dizer que os EUA estão emperrando, então não vamos avançar.

Se for assim, todo mundo vai lentamente recuando e acabamos com o planeta. Isto não é uma negociação de preço de algodão, em que, se der errado, discutimos alguma outra fibra. Isto é uma negociação sobre o planeta, e não temos outro planeta.

As propostas de cada país

Estados Unidos: O Senado americano não aprovou até agora a lei de mudanças climáticas. Assim o Governo Obama deve chegar a Copenhague sem metas concretas. A proposta no Congresso tem sofrido críticas e estima corte de 17% das emissões em 2020, em relação a 2005. Para o Greenpeace, este índice equivale a 0% de diminuição em relação a 1990 (ano do Protocolo de Kioto), ou seja, quase nada. Os EUA são, historicamente, os maiores emissores do planeta. Sem sua adesão, não há acordo efetivo.
China: No país apontado como o maior emissor de gases-estufa da atualidade, com uma economia fortemente baseada na queima de combustível fóssil, as emissões aumentam 5% ao ano. O governo chinês tem metas internas, entre as quais a que destina destina 35% dos recursos do pacote de estímulo à economia para ações de baixo carbono, além de ampliar em 15% o uso de energias renováveis nas próximas duas décadas. Mas a China dificilmente se comprometerá internacionalmente com metas de redução. Na conferência, o país vai defender que os países ricos cortem em 40% suas emissões. O governo chinês também não quer que o Protocolo de Kioto seja substituído por um novo acordo que determine obrigação de corte por parte de nações emergentes.
Índia: O governo indiano deve chegar a Copenhague com um plano semelhante ao chinês. Isto significa evitar que as nações em desenvolvimento sejam obrigadas a fazer reduções e a ter metas controladas pela comunidade internacional. Os indianos aceitam no máximo desacelerar o ritmo das emissões de CO2. Eles alegam que suas emissões per capita são de apenas uma tonelada, contra 19 toneladas dos EUA. E, como está classificado como país em desenvolvimento, ainda quer créditos externos para aumentar os seus esforços no controle das mudanças climáticas. O governo se reuniu com a China e deve se associar a outros sete países do sul do continente para levar uma proposta em comum.
União Europeia: O bloco de 27 de países atua em conjunto. A UE propõe reduzir em 20% suas emissões nas próximas duas décadas unilateralmente. Mas este índice pode chegar a 30%, se outras nações fizerem o mesmo. E há ainda uma outra proposta de maior impacto, que seria a redução em 95% em 40 anos. Isso se em Copenhague for estabelecido um novo tratado. Poucos ambientalistas acreditam nisso. Até porque os representantes de cada país nem chegaram a um acordo final para o bloco, principalmente quanto aos recursos para atenuar as mudanças climáticas.
Brasil: Os representantes brasileiros ainda não decidiram quais metas concretas serão apresentadas nas negociações em Copenhague. O único consenso, por enquanto, é a redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020.

O Globo, 05/11/2009, Ciência, p. 38

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