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Que inveja da repercussão do caso do leão Cecil

Época - http://epoca.globo.com
Autor: Maria Teresa Jorge Padua
30 de Jul de 2015

A morte de um leão cria polêmica no mundo, enquanto no Brasil ninguém se importa com peixes-boi e tartarugas

Como invejo a repercussão mundial, e principalmente a dos cidadãos dos Estados Unidos da América, onde a caça esportiva de determinadas espécies é praticada legalmente e aceita pela sociedade, da notícia da caçada de um leão jovem e icônico em um Parque Nacional do Zimbábue. A grande maioria da população está contra e esbraveja contra o ato, que também está sob investigação de ter sido ou não um ato legal, ou que o dentista envolvido pensou ser legal. Ele pode ter sido enganado mesmo. Ou não. Este é um assunto da Justiça.

Mas quem dera se outros atos atrozes também tivessem a mesma repercussão. Já pensaram se alguns crimes que matam muito mais indivíduos de várias espécies, quer sejam do reino animal e/ou vegetal, como, por exemplo, os enormes incêndios criminosos de muitas áreas protegidas do Brasil, e em especial seus Parques Nacionais, recebessem o mesmo repúdio barulhento da população? Nossa biodiversidade teria muito mais futuro.

Já pensaram se a população expressivamente se voltasse contra a pesca predatória de espécies marinhas ameaçadas de extinção, ou à caca ilegal de espécies terrestres? Contra a presença de espécies invasoras que tanto prejuízo causam à nossa fauna ou flora silvestres, como, por exemplo, o javali, considerado o vigésimo predador do mundo, ou bambus exóticos, ou o capim Jaraguá nas nossas áreas protegidas? Já pensaram quão importante seria eliminar os teiús predadores de Fernando de Noronha, que comem os ovos de aves das espécies nativas?

O que não dá mesmo para discutir são os posicionamentos religiosos sobre o tema de se manejar ou não áreas silvestres. De se matar, quer seja necessário ou não, espécies de flora e fauna. Posicionamentos pessoais e mesmo aqueles sem base científica têm de ser respeitados.

Uma pergunta colocada por um filho meu, que não é caçador, no Facebook dele, merece ser repetida: porque a população não se revolta tanto quando se trata de peixes, tubarões, golfinhos, ou tartarugas. Por quê?

Não quero defender o dentista. Não o conheço, também não gosto de caçadores em geral, mas a discussão deve estar centrada na legalidade ou não do ato por ele praticado. Foi bonito? Não posso acreditar que alguém tenha coragem de dizer que foi. Mas o problema como tentei explicar um pouco vai mais além de só se proibir como querem muitos. A caca esportiva é legal na grande maioria dos países africanos. Hoje, ouvi na CNN que se matam legalmente 700 leões por ano na África. Muitas populações vivem de caça e pesca, mesmo dentro de áreas protegidas.

Finalmente, por enquanto, eu fico com a versão, antes de crucificar o tal dentista, de que ele foi enganado, pois era muito dinheiro envolvido. Fico, também, com a inveja de não assistir a tanto protesto aqui quando se mata ilegalmente um bicho não tão bonito, como o peixe boi, ou tartarugas, ou baleias ou o temerário tubarão, seja de que espécie for, ou quando se comercializa e se exporta à vontade aves atraentes de nossa fauna, em especial as araras.

A discussão novamente deve ser fundamentada na ciência e na Lei e não em achismo. Pelo menos é o que eu acho.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/07/…

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