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Quase extinto e perdido na cidade

CB, Cidades, p.22
27 de Dez de 2004

Mundo animal
Morador do Recanto das Emas captura um filhote de Gato Palheiros, de aproximadamente dois meses. Espécie silvestre, parecida com os felinos domésticos, era considerada eliminada do Planalto Central
Quase extinto e perdido na cidade
Darse Júnior
Da equipe do Correio
A espécie é rara e está ameaçada de extinção. Não havia mais registro da existência de gatos palheiros no Centro-Oeste. Para os especialistas, o felino já tinha sido dizimado do Planalto central. Um filhote com aproximadamente dois meses e 340 gramas apareceu no Recanto das Emas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) resgatou o animal e o levou para o Zoológico de Brasília para ser tratado. Ele estava desnutrido, com diarréia e vômito.
A história começou com um telefonema. Os biólogos do Ibama receberam uma ligação na quinta-feira. Um morador do Recanto das Emas afirmava que havia encontrado um gato silvestre. Os técnicos foram até o local e encontraram o felino ameaçado de extinção amarrado com uma fita vermelha nos fundos de um terreno. Não havia sinal de maus tratos, mas o animal estava fraco e muito magro. De acordo com o morador do local, o gato estava perdido na rua em frente à residência.
A aparência do bicho é semelhante ao dos gatos domésticos. Apenas alguns detalhes diferenciam as duas espécies (leia quadro). Apesar de ser silvestre, o animal estava dócil. Rosnou quando os biólogos tentaram pegá-lo, mas logo se acostumou com a presença deles.
O comportamento menos arisco do gato pode ser um indício que prova que ele estava em contato com humanos há mais tempo. Não foi agressivo. Pelo contrário, parecia que era acostumado com os seres humanos, conta o biólogo do Ibama responsável pelo resgate, Alexandre David Zeitune.
Mesmo os filhotes de espécies silvestre costumam ser bravos, explica a chefe do serviço de mamíferos do Zoológico de Brasília, Tânia Borges.
Geralmente, as ninhadas da espécie são de dois ou três filhotes. É possível que encontremos outros recém-nascidos, conta Zeitune. O futuro do gato palheiro ou dos pampas, como também é conhecido popularmente, ainda é incerto. O filhote de 34cm de comprimento, contando a calda, ainda exige cuidados especiais.
O animal é acompanhado 24 horas pelos veterinários do Zôo. Recebe mamadeira no colo, mas não consegue sugar por conta própria o leite. Aparecido, como foi apelidado pelos veterinários por ter aparecido inesperadamente no Recanto das Emas, não será exposto às visitas no zoológico. O felino ainda não tem destino certo.
O futuro dele será decidido por uma comissão do Ibama. Os integrantes analisarão as possibilidades e escolherão o melhor lugar para Aparecido. Existem alguns criadores especializados, precisamos avaliar quais são as condições e necessidades de cada um, para ver onde a adaptação será mais fácil, afirma Zeitune.
De janeiro a setembro deste ano, o Ibama apreendeu 1,2 mil animais no Distrito Federal. A maioria, pássaros, num total de 805 aves e bichos. Além das apreensões da autarquia, alguns animais aparecem no espaço urbano e são capturados pela Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA). Só em dezembro duas capivaras apareceram em Brasília — uma na QL 2 do Lago Sul, no quintal de um casa de família, no dia 13 de dezembro, e outra na 608 Sul, na Associação de Moços Cristãos, em 23 de dezembro. Eles foram levados para a CPMA, na Candangolândia.
Ilhas ecológicas
De acordo com o chefe da Floresta Nacional de Brasília, o biólogo Guilherme de Almeida, o aparecimento cada vez mais freqüente de animais silvestres no meio urbano é conseqüência do crescimento da cidade e da proximidade com as unidades de conservação. Há algumas áreas habitadas pelos animais e não há corredores ecológicos entre esses locais. Enquanto isso não mudar, fatalmente os bichos continuarão aparecendo, afirma.
O biólogo cita a mata próximo ao Zoológico, a Área de Proteção Ambiental (APA) Gama Cabeça-de-Veado, no Lago Sul, a Reserva Biológica da Contagem, no Lago Oeste, e o Parque Nacional de Brasília, no final da Asa Norte como ilhas de preservação dentro da área urbana. Os bicho estão ilhados. Quando saem à procura de alimento ou para procriar, fatalmente, invadem a cidade.
Os corredores ecológicos são fundamentais para garantir a variedade da espécie, completa.

Solitário e de hábito noturno
O Gato Palheiro ou Gato dos Pampas, como é conhecido popularmente, parece com o gato doméstico
A diferença entre as duas espécies de felinos é que o animal silvestre tem a cara mais larga, o pêlo mais longo, listras nas patas, a orelha mais pontuda e o focinho arredondado
O nome científico é Felis colocolo, Oncifelis colocolo, Leopardus colocolo, Lynchailurus colocolo ou Lynchailurus braccatus; Quando adulto, o tamanho médio é de 52cm, a cauda tem 28cm e o peso é aproximadamente de 3,5 Kg A coloração é variada. Apresenta seis padrões diferentes: do amarelo ao cinza escuro, incluindo o marrom avermelhado.
O corpo pode ou não ter manchas As patas apresentam listras escuras e largas em número de dois ou três nas anteriores e três a cinco nas posteriores É solitário, de hábito alimentar noturno. Come principalmente pequenos roedores e aves terrestres O período de gestação varia de 80 a 85 dias e a prole de um a três filhotes O habitat natural vai dos Andes ao Equador e Peru até o extremo sul do continente. A distribuição é incerta no Brasil.
Pode surgir na região dos Pampas, no Rio Grande do Sul, no Piauí, Minas Gerais, Pantanal, Cerrado e oeste da Bahia

CB, 27/12/2004, p. 22

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