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"Quanto mais gente a gente chama, fica um pouquinho menos pesado esse céu caindo sobre a nossa cabeça", diz Paloma Costa, uma das conselheiras jovens do secretário-geral da ONU

Um Só Planeta - https://umsoplaneta.globo.com/podcast/noticia/2022/11/03/
03 de Nov de 2022

"Quanto mais gente a gente chama, fica um pouquinho menos pesado esse céu caindo sobre a nossa cabeça", diz Paloma Costa, uma das conselheiras jovens do secretário-geral da ONU
Em entrevista ao podcast Entre no Clima, Paloma cita o xamã Davi Kopenawa, do povo indígena Yanomami, ao falar sobre o aumento do número de jovens engajados com a pauta socioambiental

Por Sabrina Neumann, do Um Só Planeta
03/11/2022

Desde 2020, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, conta com a ajuda de um grupo de sete jovens de diferentes partes do mundo para compreender melhor as angústias e demandas da juventude frente à crise climática. A brasileira Paloma Costa é uma das conselheiras do Grupo Consultivo de Jovens sobre Mudança Climática, ou Youth Advisory Group on Climate, e está lá representando a América Latina e o Caribe.

Em entrevista ao podcast Entre no Clima, Paloma conta como o coletivo foi formado e cita alguns avanços ocorridos desde a criação do grupo, como o estabelecimento de uma agência especial para os jovens dentro da estrutura multilateral das Nações Unidas. "Eu não diria que é a toa que este ano, depois de dois anos do nosso trabalho, a gente viu sair, por exemplo, a ONU Juventudes, transformada em agência, trazendo uma estrutura melhor para atender e receber os jovens", conta.

Com a aproximação da COP27, o próximo encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que começa no domingo (6) em Sharm el-Sheikh, no Egito, Paloma também falou sobre a expectativa para as discussões deste ano e as pautas que os jovens pretendem levar para a conferência. Segundo ela, o debate sobre um mercado global de carbono ainda deve chamar atenção este ano, mas o principal assunto deve ser o financiamento climático, ou seja, de onde vai sair o dinheiro para financiar as ações de mitigação e adaptação e também reparar as perdas e danos sofridas nos países mais pobres, como aconteceu este ano com as fortes enchentes na Nigéria e no Paquistão.

Paloma lembrou ainda dos desafios que a sociedade civil passou para poder participar desta COP -como os percalços para conseguir credenciais e a parte logística de viagem e acomodação -, mas fala com otimismo sobre os possíveis resultados. "Eu ouvi um boato, eu que nunca participei de uma COP no sul global, que em áreas quentes os negócios andam mais rápido. Eu, como uma eterna pessoa que acredita, eu tendo a acreditar que sendo essa COP, como todo mundo diz, a COP da implementação, que depois desses mais de 26 anos de conversa, agora chegou o momento de a gente falar: 'beleza, chegamos a muitos acordos, e agora? Como a gente vai botar isso para girar e o que vai ser daqui para frente?'"

A jovem conselheira do secretário-geral, que apesar da pouca idade tem formação em Direito e em Ciências Sociais e acumula experiências na mobilização de juventudes pelo mundo, citou uma frase do xamã do povo indígena Yanomami para falar sobre o crescimento do ativismo socioambiental. "Eu acho que, conectando um pouco com o financiamento, uma coisa que me ensinou Davi Yanomami, nosso grande xamã Yanomami, é que o céu está caindo, e quanto mais gente a gente chama, fica um pouquinho menos pesado esse céu caindo sobre a nossa cabeça", afirmou. Nos últimos anos, Paloma viu com esperança e euforia o aumento do número de pessoas engajadas com essa pauta, ocupando diversos espaços e fazendo suas vozes serem ouvidas nos mais diversos fóruns.

Um desses lugares simbólicos foi ocupado por Txai Suruí na abertura da Conferência do Clima do ano passado, a COP26, que aconteceu em Glasgow, na Escócia. A jovem ativista, que é fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia e defende o povo amazônida paiter suruí, abriu a cúpula com um discurso que citou "mentiras vazias e promessas falsas" e, sem citar diretamente o governo brasileiro, disse que os povos indígenas, que estão na linha de frente na defesa da floresta, precisam, sim, estar presentes nas decisões sobre como enfrentar as mudanças climáticas. "Eu fico muito feliz em ver a Txai, que foi minha indicação, ter sido essa pessoa que abriu a conferência, que o mundo todo pode escutar e agora conhece a história dela, do povo dela", disse.

Paloma, que também atua como assessora do Instituto Socioambiental, falou ainda sobre os avanços no Congresso brasileiro, com a eleição de duas mulheres indígenas, e destacou a importância da representatividade e da inclusão para ampliar o debate político e implementar ações de enfrentamento à crise ambiental e climática. "Eu acho que é muito óbvio a pauta da inclusão. Ela é sobre tomar decisões que façam sentido para o maior número de pessoas. Não significa que todas as pessoas discutindo vão estar de acordo, mas significa que diferentes pontos de vista vão estar sendo levados em consideração para que cada um possa chegar à conclusão, chegar a um lugar em que a gente possa implementar políticas públicas, direcionar os fundos e recursos disponíveis e a capacidade física e intelectual para mais empregos verdes, mais espaços que façam sentido".

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