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Quando futuro é presente

O Globo, Opinião, p. 21
Autor: AZEVEDO, Tasso
28 de Out de 2015

Quando futuro é presente
Nossa alimentação será mais saudável e retomaremos o contato com a natureza

Tasso Azevedo

Dia desses passou um carroceiro em minha rua com uma máquina de escrever a caminho da reciclagem como plástico e ferro. Por R$ 20, arrematei a preciosidade e dei-a de presente para minha filha Clara, então com 4 anos. Ela fuçou daqui e dali, testou, observou e concluiu: "Muito legal pai, este computador já vem com impressora!"
Toda vez que a Clara vê uma tela, seu impulso é tocar e interagir. Muitas vezes, lendo um livro para ela dormir, Clara pede coisas do tipo:
- Pai, pega lá o iPad e me mostra uma foto da Malala quando era pequena?
Para ela, as telas sensitivas, a busca na internet ou o computador como interface para produção de conteúdo são quase nativos na sua concepção de mundo.
O que serão os conceitos nativos da geração dos filhos da Clara? Penso nisso enquanto observo a instalação do sistema de painéis fotovoltaicos em casa, sob o olhar curiosos dos passantes. Em pouco mais de um dia, a equipe de quatro pessoas liderada por uma jovem engenheira elétrica instalam um sistema que proverá por 25 anos toda a energia elétrica que consumo em casa e no escritório.
Algumas coisas são mais fáceis de imaginar. Em um par de décadas, a autoprodução e o armazenamento de energia (solar, eólica, resíduos...) serão tão naturais como é hoje ter acesso à internet. Os veículos elétricos serão o padrão, motor a combustão será o modelo vintage, reciclagem, reuso e ressignificado farão parte de nosso padrão de comportamento e economia circular será intrínseco no nosso dia a dia. Também interagiremos com objetos e equipamentos como se estivéssemos conversando com o vizinho e a produção industrial será muito mais customizada e distribuída a partir da massificação da impressão 3D, aumentando exponencialmente nossa eficiência.
Outras transformações são mais desejos que caminhos óbvios. Nossa conexão facilitada nos tornará colaboradores nativos. Nossa alimentação será mais saudável e retomaremos o contato com a natureza como valor fundamental. Teremos acesso à educação de qualidade em qualquer língua através de plataformas universais de aprendizagem.
Essas transformações do nosso modo nativo são essenciais para vencermos o desafio dos objetivos do desenvolvimento sustentável, limitar o aquecimento global e as mudanças climáticas e a garantir a proteção dos recursos naturais essenciais à nossa vida.
Enquanto finalizo a coluna, Clara chega da escola no momento em que a engenheira testa o sistema solar recém-instalado e dá seu veredicto:
- Genial, papai! Igual ao carregador de celular do parque, né?

Tasso Azevedo é engenheiro florestal

O Globo, 28/10/2015, Opinião, p. 21

http://oglobo.globo.com/opiniao/quando-futuro-presente-17897431

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