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Qualificando os índios

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
27 de Fev de 2003

Mato Grosso deu importante passo, ontem, com a definição e confirmação pela secretária de Trabalho, Emprego e Cidadania, Terezinha Maggi, de realização de cursos de qualificação em áreas indígenas.

Ao anunciar a programação dos cursos em 12 aldeias de várias etnias nos vales dos rios Xingu e dos Peixes, Terezinha Maggi não era um voz isolada. Juntamente com ela, líderes indígenas dentre os quais Magaron Txucarramãe, e o filho do lendário cacique Raoni, Tedje Metuktire, reforçaram que o índio tem necessidade de se capacitar.

Pelo menos cinco cursos com início em março serão ministrados nas aldeias. Eles fazem parte de um ambicioso projeto do governo, que pretende incorporar o índio - parcial e paulatinamente - ao processo produtivo que lhe assegure melhores condições, sem que isso interfira em seus costumes, tradições, crenças e em seu modus vivendi.

A convergência de interesses do governo e das lideranças indígenas sinaliza com a perspectiva de maior interação. O cacique Megaron Txucarramãe - uma das lideranças indígenas brasileiras mais respeitadas no país e no exterior - defende o direito à qualificação de seu povo e das demais etnias. Megaron entende que o índio tem que aprender técnicas de produção agrícola e pecuária, sem lançar mão de adubação química e de medicação alopática dos animais. Quer usar ao máximo o conhecimento acumulado geração após geração por seus antepassados, com a pesquisa do homem dito colonizador. Com isso espera produzir mais alimentos, além de tecer roupas e melhorar as condições de produção de artesanato indígena.

Seria utópico imaginar que o índio pode viver em seu estado primitivo quando se sabe que ele é cercado por todos os lados pela civilização, e que ao longo de décadas absorveu costumes do consumismo. Melhor é reconhecer que ele pode se tornar menos dependente sem que isso implique na destruição de seus valores culturais.

A população mato-grossense deve se integrar ao processo interativo do governo com as etnias indígenas. Quanto maior a participação popular, melhor. Afinal, o estado está lançando as sementes de uma nova relação com um segmento populacional em torno de 19 mil indivíduos, que até então era mantido à margem das relações sociais, e nessa condição toda iniciativa deve ser estimulada e compartilhada.

A dolorosa página dos massacres dos povos indígenas, da violentação de sua crença e da miscigenação por estupro é coisa do passado. De um tenebroso passado. O tempo agora é de interação, de se estender as mãos, de se criar melhores condições de vida dentro e fora das aldeias, como acredita a secretária Terezinha Maggi e como querem os índios.

"O tempo agora é de interação, de se estender as mãos, de se criar melhores condições de vida nas aldeias"

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