VOLTAR

Provas do crime ambiental

O Globo, Ciência, p. 33
15 de Mai de 2008

Provas do crime ambiental
Estudo mostra relação de causa e efeito entre ação humana e mudanças na natureza

Há uma relação de causa e efeito entre o aumento nas temperaturas globais associado à ação humana registrado entre 1970 e 2004 e mudanças ocorridas em animais e plantas, além de geleiras, florestas, oceanos e lagos. É o que revela um estudo publicado ontem na revista "Nature". Um outro estudo, também divulgado ontem na revista, mostra que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é a maior dos últimos 800 mil anos.
Plantas florescendo mais cedo, ursos polares transformados em canibais, folhas de outono caindo fora da época normal e desequilíbrio do padrão migratório das aves. Esses são alguns dos diversos impactos das mudanças climáticas, causadas pelo homem, na natureza.
Centenas de trabalhos já haviam apontado essas e outras alterações, com a maioria deles sugerindo uma ligação com o aquecimento global.
Mas o novo estudo foi além, cruzando dados de vários desses estudos e mostrando como essas alterações estão, de fato, relacionadas com as mudanças climáticas.
- Quando reparamos as geleiras derretendo, as aves botando ovos antes do tempo e plantas confundindo as estações, estamos claramente diante de sinais que nos levam à concluir que esses são efeitos da ação do homem no clima - garante Cynthia Rosenzweig, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, líder do estudo.
Os cientistas selecionaram cerca de 30 mil trabalhos sobre mudanças biológicas e físicas em todo o mundo, e então cruzaram essas informações com um banco de dados detalhado sobre mudanças de temperatura. Eles excluíram observações que pudessem ter sido causadas por outros fatores que não as mudanças climáticas devido a ações do homem.
- Sobrepusemos dois bancos de dados globais e então fizemos uma análise em busca de padrões que pudessem ser observados mundialmente, procurando por localizações que apresentassem, ao mesmo tempo, padrões de mudanças significativas de temperatura e alterações consistentes com o aquecimento - disse a pesquisadora. - Concluímos que ambos estão ligados.
Em uma escala global, a correlação é de mais de 99% entre os dois fatores (aumento de temperaturas e mudanças biológicas e físicas). E em uma escala continental, segundo Cynthia Rosenzweig, a correlação fica entre 90 e 99%.
- Temos evidências claras sobre a forma como o aquecimento global está mudando o planeta - alerta a pesquisadora da Nasa. - Precisamos agora atuar juntos, tanto para nos adaptarmos a essas mudanças como para reduzirmos os seus efeitos a longo prazo.
Nível de CO2 tem alta histórica
Um outro estudo, também divulgado ontem na "Nature", realizado com base em amostras de gelo da Antártica revelou que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera está mais alta atualmente do que em qualquer momento dos últimos 800 mil anos. O resultado da pesquisa representa mais uma prova de que a Humanidade está alterando o clima do planeta.
- Podemos dizer com segurança que a concentração de dióxido de carbono e de metano é hoje, respectivamente, 28 e 124 por cento maior do que durante os últimos 800 mil anos - afirma Thomas Stocker, da Universidade de Berna, um dos autores do estudo.
Os pesquisadores escavaram quase até o leito de pedra da região. Assim, recuperaram camadas formadas por gelo comprimido, que guardam características da época em que surgiram.
Segundo Stocker, cientistas chineses e australianos analisam agora a possibilidade de escavar em regiões da Antártica onde há camadas de gelo ainda mais antigas, o que poderia fornecer dados sobre o clima existente na Terra há 1.5 milhão de anos.

O Globo, 15/05/2008, Ciência, p. 33

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.