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Protestos de ambientalistas irritam Lula

JT, Politica, p.A4
29 de Nov de 2003

Protestos de ambientalistas irritam Lula
Presidente reagiu com muita irritação às cobranças de ambientalistas, durante a abertura da Conferência Nacional de Meio Ambiente. Lula interrompeu a leitura do discurso e partiu para o improviso, bradando que não tem medo de grito
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com irritação e mau humor ao protesto de ambientalistas, que, durante seu discurso na abertura da Conferência Nacional de Meio Ambiente, levantaram faixas cobrando providências contra a desfiguração do projeto de biossegurança nas discussões do Congresso. "Não tem forma mais autoritária de comportamento do que uma pessoa querer fazer prevalecer seus interesses sobre os da maioria do povo. Perdi três eleições, sei dos meus compromissos", afirmou Lula, irritado. "Nem direita, nem esquerda farão acontecer nada sem que haja debate, porque a vontade da maioria tem de prevalecer."
Lula lia seu discurso na conferência quando foram ouviram apitos na platéia e os manifestantes levantaram faixas de protesto. Uma delas dizia: "0 Pi- da biossegurança está sendo destruído no Congresso. O governo não vai fazer nada?"
O presidente - que falava do projeto de biossegurança e da preservação da Mata Atlântica - deixou o texto prévio de lado e mudou o tom tranqüilo de voz.
"Eu nasci na política da adversidade. Aprendi a fazer política na confrontação.. Se eu tivesse medo de grito, nem tinha nascido", bradou aos manifestantes.
Rodrigo Faria, 30 anos, do Vale do Jequitinhonha, que usava o nariz de palhaço, estranhou a reação do presidente e jurou que não pretendia ofender ninguém. Criticou, porém, o fato de o governo Lula decidir a questão dos transgênicos "na cúpula do poder" ao invés de fazer uma campanha popular.
Lula afirmou que a resposta para pobreza não é o "vale-tudo ambiental". Após ressaltar que é preciso encontrar uma solução para que o meio ambiente não seja entrave ao desenvolvimento, garantiu que levará adiante o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. "Vamos resolver o problema da (falta de) água, da seca no Nordeste porque é muito fácil ficar lá em São Paulo ou Brasília fazendo crítica sem ter sofrido com a seca". E emendou: "É mais fácil colocar obstáculos ao invés de construir."
Para mostrar a disposição do governo em resolver as questões do meio ambiente, Lula citou o projeto do ex-deputado tucano Fábio Feldman. 0 projeto, que trata da Mata Atlântica, foi apresentado há 10 anos, e não foi aprovado até hoje. "0 Fábio Feldman, que está aqui - e o partido dele foi governo por 8 anos - tinha maioria absoluta no Congresso e durante todo esse tempo não foi votado o projeto da Mata Atlântica." Segundo o presidente, um acordo de lideranças vai permitir que o projeto seja votado pela Câmara na sessão de 3 de dezembro. "Nós não temos mais de 200 deputados e vamos votar. Porque política não é imposição. Política se faz com capacidade de articular e convencer", disse o presidente.
Em outra critica indireta ao governo anterior, Lula disse que, após o fim de seu mandato, nenhum de seus ministros vai morar em Paris ou Nova York, trabalhar para bancos ou multinacionais. "Vou voltar para a minha São Bernardo e dizer aos metalúrgicos que, se não fizemos tudo, fizemos mais do que esperávamos", afirmou Lula.

Más notícias tiram humor do presidente
Depois de afirmar que estava "de alma lavada" com a aprovação da reforma da Previdência no Senado, o presidente Lula acabou desabafando ontem, em duas ocasiões diferentes. Muito irritado com um cartaz provocativo, na conferência do meio ambiente, disse não ter medo do grito. Mais tarde, no 23.Q Encontro Nacional de Exportadores, no Rio, Lula se referiu aos números negativos do mercado de trabalho e, mais uma vez, pediu paciência. "Mesmo para os trabalhadores desempregados ou que tiveram queda na renda, digo: meu filho, espere que as coisas vão acontecer", apelou Lula.
Foi uma semana de altos e baixos, em que o presidente discursou muito, cometeu gafes, elogiou alguns ministros e comemorou a aprovação da reforma. Mas indicadores da economia, como o PIB de 0,4%, tiraram o humor do presidente, que acabou explodindo ontem.
Sobrou cobrança para a ministra Marina
Ao contrário do fez nas últimas cerimônias, quando aproveitou o discurso para afagar ministros presentes, ontem Lula evitou elogios à ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Em vez disso, cobrou: "A companheira Marina e a sua equipe terão que se sentar com outros ministros, com o governador, com trabalhadores, empresários, e vamos encontrar a solução adequada para que a gente faça, pelo menos uma vez na vida, as coisas corretas e bem feitas neste País." Lula referia-se ao plano de ampliar o Parque Grande Sertão Veredas, entre Minas e Bahia. 0 assunto já era consenso no Ministério e no Ibama que, chegaram a preparar uma minuta do decreto. Mas Lula recusou-se a assinar o documento e deixou claro que nada faria sob pressão.

JT, 29/11/2003, p. A4

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