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Protesto indígena resulta em morte

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Autor: Darci Debona
17 de Fev de 2004

Presidente do Sindicato Rural de Abelardo Luz foi assassinado com tiro na cabeça e outras seis pessoas foram feitas reféns, por causa da falta de solução para um conflito de terras no município do Oeste

A falta de solução em um conflito de terras entre índios e agricultores no Oeste causou uma morte e deixou seis reféns em Abelardo Luz. Por volta da 1h de ontem, foi assassinado com um tiro o presidente do Sindicato Rural de Abelardo Luz, Olices Stefani, que completaria 52 anos quinta-feira.

Ao conferir a informação de que índios iriam invadir uma área em disputa, onde planta 120 hectares de soja, ele foi surpreendido por uma barreira humana na estrada que liga o Centro ao Bairro São João Maria. Levou um tiro. Outras seis pessoas em duas caminhonetes que passaram pelo local foram feitas reféns pelos índios.

Dois foram libertados às 9h40min, após negociação com a Funai e as polícias Federal, Militar e Civil. Ardeche Pedroso Vieira, 49, era funcionário da vítima. Ele disse que voltava de uma pescaria com Luiz Carlos de Souza, 44, também libertado pela manhã. Os reféns contaram ter sido coagidos com armas e presos em banheiro.

Às 4h30min foram levados para uma sala, com os outros quatro. O maior medo foi ao ouvir no rádio que Stefani havia morrido. A mãe de Luiz Carlos, Onorina de Souza, ficou das 2h às 10h em uma barreira da polícia aguardando notícia. Quando viu o filho sair do carro da Funai, chorou de alegria.

Outros quatro foram libertados à noite

A angústia foi maior para os familiares dos outros reféns. Martinho Dal Ben, irmão do advogado Sérgio Dal Ben, que ficou em cativeiro em uma escola, disse que sua mãe, de 70 anos, passou mal. Às 19h15min Dal Ben foi libertado, com o agricultor José Trevisan, o vereador Carlos de Cenes Pinto e o cortador de lenha Reginei José Vaz. Após exames, eles foram ao enterro do amigo.

Um dos melhores amigos da vítima, Valmir Zandoná, conversou com Stefani, a vítima, às 23h30min de domingo. Zandoná o aconselhou a não ir atrás dos índios. "É perigoso." Duas horas depois soube do homicídio. A Federação da Agricultura do Estado (Faesc) divulgou nota na qual critica a atuação da Funai e dos órgãos envolvidos.

A mais velha das três filhas da vítima, Franciele Stefani, disse que a família quer justiça. A maioria dos comerciantes fechou as lojas e pendurou faixas pretas nas portas em sinal de luto. O prefeito decretou luto oficial.

Como foi
Por volta das 23h30min de domingo, Olices Stefani (foto ao lado) recebeu a informação de que índios do Paraná estavam chegando no município para fazer uma invasão na área em disputa, onde plantava 120 hectares. Ele contatou outros produtores e, próximo da 1h, foi na Polícia Militar pedir reforço. O crime ocorreu em uma estrada que liga a cidade de Abelardo Luz ao Bairro São João Maria, na periferia, a 800 metros do quartel da Polícia Militar. Os índios dizem que não vão sair do local até que seja dada a declaração de que a terra é mesmo deles.
Olices saiu na frente do grupo com uma Caminhonete Ranger 4x4 e, ao chegar chegar próximo ao Bairro São João Maria, encontrou uma barreira humana. Ele foi atingido com um tiro na cabeça. Outro tiro atingiu o radiador da caminhonete. O veículo se desgovernou, saiu da estrada e tombou (foto acima). Os índios dizem que ele atirou primeiro, mas a polícia informou que as janelas do veículos estavam fechadas. A perícia vai tirar a dúvida.
Um carro da Polícia Militar chegou em seguida. Os ocupantes ouviram e viram os disparos e viram o veículo tombar. Dois veículos que fizeram outro trajeto chegaram na barreira e pararam, quando seis pessoas foram feitas reféns.
Após o tiro, os policiais militares pediram aos índios para socorrer a vítima, que foi encaminhada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Morreu à 1h30min. Ele foi velado e enterrado ontem.

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