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Protesto e desagravo na morte de índio Terena na Cargill

CIMI-MS
Autor: Egon Heck
22 de Jul de 2007

"A Cargill declara que o trabalhador falecido se suicidou. O caso de Marcos Antonio Pedro está se convertendo em um símbolo da luta contra a deshumanização do trabalho e o reinado absoluto do lucro a todo custo". (As duas mortes de Marcos Antonio Pedro, La Rel-Carlos Amorim,16/07/07)

Tarde de sol, do dia 21 de julho. Algumas centenas de pessoas se concentraram em frente ao portão da indústria Cargill, no município de Sidrolância, no Mato Grosso do Sul. Sindicalistas, representantes dos movimentos sociais e dos povos indígenas se juntaram a operários do turno na empresa para manifestar seu desagravo contra a sórdida afirmação da empresa de que o indígena Marcos teria se suicidado.

Nas manifestações foram destacadas as arbitrariedades cometidas pela empresa, dentre as quais a acusação de suicídio e abandono da família de Marcos Pedro são apenas um exemplo. O trabalhador Josinei Paz de Oliveira, 39 anos, denunciou que foi descartado como lixo pela empresa, depois que ficou inutilizado para o trabalho. Com o braço direito enfaixado e segurando seu cachorrinho embaixo do outro braço, desabafou: "Fui dispensado injustamente, e agora estou jogado na rua, passando fome, inutilizado, sem poder mais trabalhar".

Pedro Terena se suicidou?

Uma faixa postada em frente ao portão da indústria dizia: "Seara Cargill diz que Pedro suicidou-se. Com certeza suicídio não". Essa foi uma afirmação unânime nas manifestações. Infelizmente os familiares e outros parentes da Terra Indígena Cachoeirinha não puderam estar presentes. O representante do sindicato Sidnei de Oliveira explicou aos presentes que uma delegação indígena estava sendo esperada, e confirmada até o final do dia de ontem. Porém, a Funai foi para desarticular a vinda dos índios.

Nito Nelson, da Comissão de Direitos Kaiowá Guarani, da aldeia urbana Água Bonita, também denunciou a discriminação que normalmente sofrem os índios nas cidades e em postos de trabalho. Lembrou que seu povo está submetido a enormes violências por não terem terras demarcadas.

O representante do Cimi também explicou que a afirmação de suicídio é de um cinismo cruel da empresa, pois entre os Terena não se tem notícias de suicídios e não existia nenhuma razão de alguém que estava em harmonia com sua família (esposa e dois filhos) com emprego, cometesse suicídio. Lembrou que existe sim um grande número de suicídios entre os Kaiowá Guarani em conseqüência da situação de genocídio a que estão submetidos. Porém esse não é o caso dos Terena.

O representante do Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza também demonstrou a indignação e solidariedade, lembrando que os povos indígenas no Mato Grosso do Sul estão submetidos a uma violência brutal, já tendo sido assassinados 22 índios só neste ano.

Antonia Joana, em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais, exclamou: "Quantos Pedros terão que morrer para a conquista de dignidade para os trabalhadores? Temos que dar um basta a essa invasão, que só explora o trabalho e nossas riquezas e não tem respeito à vida dos trabalhadores".

Solidariedade e luta dos trabalhadores

Gerardo Iglesias, dirigente da União Internacional dos Trabalhadores em Alimentos - UITA, trouxe a solidariedade internacional dos trabalhadores. Também o secretário geral da CUT, Quintino Severo, veio trazer seu apoio à luta dos trabalhadores da Cargill por melhores condições de trabalho, e o repúdio à forma como a empresa tem tratado a morte de Pedro, abandonando a família e falando em suicídio.

"A Cargill é uma empresa muito diversificada, que tem problemas em todos os setores onde atua: café, chocolate, produtos químicos, soja, cana de açúcar, sementes" (Gerardo Iglesias e Javier Amorim - Rel UITA, 28/05/07). É uma das empresas com uma engrenagem gigantesca, uma das empresas mais modernas quanto a satélites, controles digitais remotos e tecnologia. Contraditoriamente mantém uma relação considerada pelos especialistas, como escravocrata, em que os trabalhadores são vistos como inimigos, e em que se busca obstaculizar a organização sindical dos mesmos.

No final da manifestação foi lida uma proposta do sindicato com relação à morte de Pedro e a melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores na Cargill. Aprovada a proposta, uma delegação nacional foi para entrega-la aos responsáveis pela empresa. Porém não foram recebidos. Diante da negativa prevaleceu a decisão de novas manifestações e "parar a Cargill no Brasil inteiro".

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