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Propaganda influencia voto dos índios

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: José Rocher
04 de Out de 2002

Nativos afirmam que apóiam candidatos que visitaram reservas do estado

Os cerca de 10,5 mil índios que vivem no Paraná estão decidindo seu voto conforme a propaganda dos candidatos nas 18 reservas do estado. As tribos, que sofrem com o aumento populacional e a escassez de terras nos últimos anos, vêm declarando voto nos políticos vindos de Curitiba e do Sudoeste do estado que visitam seu território: "estamos apoiando os candidatos que visitaram as aldeias e conversaram com a gente", afirma o chefe do posto indígena de Marrecas, Pedro Cornélio. Na reserva, que fica no município de Turvo, Região Central do estado, vivem 480 guaranis e caigangues.

Nas tribos, quem já optou por um candidato tem uma justificativa na ponta da língua. "Vou votar no Litro porque ele já deu cinco jogos de camisas e prometeu um carro novo para a tribo", diz o caingangue Aristides Corimbas. O candidato a deputado estadual Luiz Fernandes da Silva (PSDB), o Litro, que tenta a reeleição, nega ter assediado a tribo. "As camisetas devem ter sido dadas em meu gabinete. Não tenho compromisso com eles nem eles comigo. Vamos discutir os problemas indígenas depois das eleições", afirmou. O cacique da tribo, Dílson Matias, teme que os eleitores indígenas enfrentem a urna eletrônica ainda indecisos e acabem optando pelos candidatos que distribuiram propaganda eleitoral na aldeia.

Contas

A propaganda da campanha eleitoral entra inclusive nas salas de aula de Marrecas. A professora Ângela Cornélio, filha do chefe do posto indígena, ensina os pequenos nativos a fazer contas com os números dos candidatos estampados na camiseta. Ângela alega que vestiu a peça de roupa sem a pretensão de convencer alguém.

Para a antropóloga Kimiye Tommasino, que trabalha em pesquisas relacionadas aos índios do Paraná há 15 anos, os indígenas estão enganando os políticos. "Eles são bem mais espertos do que parecem. Vestem a camisa de um candidato mas não votam nele". Kimiye diz acreditar que as tribos aprenderam a tirar vantagem do governo do estado, das prefeituras, das universidades e de oportunidades como as campanhas eleitorais. Em sua avaliação, a postura dos nativos representa evolução no relacionamento com comunidades externas.

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