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Projeto Rondon de volta

CB, Brasil, p.10
13 de Jan de 2005

Projeto Rondon de volta
Duzentos estudantes e professores partem no sábado para 13 cidades da Amazônia Ocidental com o objetivo de reconhecer as carências locais
Hércules Barros
De equipe do Correio
Quatro alunas do sétimo semestre de Odontologia da Universidade de Brasília (UnB) estão de mochilas prontas para desbravar o interior do país. Elas nunca acamparam e nem andaram de barco, mas integram o grupo de 200 pessoas de todo o Brasil, entre professores e estudantes, selecionadas para a primeira fase de retomada do Projeto Rondon. As atividades começam no dia 15, mas a abertura oficial ocorre em Tabatinga (AM), no dia 19, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O resgate do Projeto Rondon é iniciativa do governo federal a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE). Os novos rondonistas partem com destino a um dos 13 municípios da Amazônia Ocidental para reconhecer as principais carências das localidades. As ações serão desenvolvidas em São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Tefé, Yauarete, Maturacá, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, Santo Antônio do Iça, Carauari, Eirunepé, Fonte Boa, Coari e Santa Isabel do Rio Negro.
As estudantes da UnB realizarão diagnóstico dentário da população de Fonte Boa, município a 680 quilômetros de Manaus. Prometem levar só o essencial, mas vão carregar biscoito para substituir a alimentação, caso não gostem da refeição que será oferecida pelo Batalhão de Infantaria da Selva e do Centro de Instrução de Guerra. Estão empolgadas e nem têm idéia do que vem pela frente, conta o professor João Milki Neto, do Departamento de Odontologia da UnB.
Milki coordenará as quatro futuras dentistas. No início dos anos 80, ele participou da primeira versão do Projeto Rondon, em Minaçu (GO). Das quatro universitárias, Ana Paula Magalhães, 22 anos, foi a única que fez trabalho voluntário até hoje. Ela ensinou higiene bucal em comunidades próximas a Luziânia (GO). As outras três, Monique Pyrrho, 20, Kátia Seibert, 23, Luísa Barreto, 22, nunca trabalharam além dos limites de Ceilândia (DF). As estudantes vão passar só 14 dias no Amazonas. Estarão de volta dia 29.
Quatro alunas do curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília também vão para o Amazonas. Coordenadas pela biomédica Fabiana Nunes Carvalho Guimarães, professora do Centro de Ciências da Vida, elas vão fazer diagnóstico da população próxima ao município de Coari.
Receio
A iniciativa de se inscrever no Projeto Rondon partiu das próprias universitárias dos quarto e quinto semestres de Enfermagem. Segundo a professora, o maior receio das alunas é contrair alguma doença tropical. Cumprimos o cartão de vacinação exigido pelo projeto, afirma Fabiana. São cerca de cinco vacinas contra febre amarela, hepatite A e C, entre outras. Vamos evitar exposição às áreas ribeirinhas às 6h e às 18h para não sermos picadas pelo mosquito que transmite a malária. Tenho uma amiga que já trabalhou no Projeto Rondon com índios há mais de 20 anos e deu essas dicas, conta.
Das 125 instituições federais de ensino superior inscritas no projeto, apenas 40 foram selecionadas pela comissão organizadora, coordenada pelo Ministério da Defesa. Da UnB, 17 equipes se candidataram, mas apenas uma foi contemplada. Depois de ouvir a população e fazer o diagnóstico das necessidades locais, os grupos voltam para suas universidades.

Memória
22 anos de experiência
A primeira versão do Projeto Rondon foi realizada pelo governo militar, de 1967 a 1989. Universitários eram levados para o interior das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para desenvolver serviços sociais e realizar atendimentos de saúde em comunidades carentes.
No dia 11 de julho de 1967, partiu do Rio de Janeiro para o território de Rondônia a primeira equipe, constituída por um grupo de 30 estudantes e dois professores. Em sua primeira edição, o projeto envolveu cerca de 350 mil jovens.
O impacto provocado pelo conhecimento da realidade interiorana brasileira ganhou dimensão no meio acadêmico à medida que os rondonistas transmitiram suas experiências nos círculos universitários.
O nome do projeto é inspirado no marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), oficial do Exército e sertanista fundador do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) — atual Fundação Nacional do Índio (Funai).
Em 1910, Rondon foi encarregado pelo governo brasileiro a comandar uma expedição com a missão de avançar por terras virgens e levar o telégrafo aos sertões do Oeste. A vocação de expedicionário lhe rendeu como homenagem o nome do estado de Rondônia.

CB, 13/01/2005, p. 10

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