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Projeto resgata dívida social com guaranis

Correio do Povo-Porto Alegre-RS
Autor: Álvaro Guimarães
24 de Fev de 2002

Mapeamento feito pela Diocese de Pelotas identifica comunidades indígenas e coloca em prática a Campanha da Fraternidade

Descendentes de guaranis guardam no rosto herança da raça

Sob o tema 'Por uma terra sem males' a Campanha da Fraternidade 2002, lançada pela CNBB, pretende resgatar a chamada dívida social com os povos indígenas e seus descendentes. Na zona sul do Estado, a equipe da Diocese de Pelotas mapeou duas comunidades, em Piratini e Pedras Altas, que deverão receber a ajuda da Igreja e ser alvos de projetos sociais e de resgate cultural.

A 90 quilômetros de Piratini está a localidade de Costa do Bica. No pequeno povoado residem os últimos remanescentes das populações indígenas que durante séculos habitaram a região. Completamente aculturados e esquecidos de suas origens, eles guardam na genética e na fisionomia a herança da raça. 'Somos descendentes de bugres, a prova é que por aí tem uns bem trigueiros', garante o agricultor Marcelino Nunes Abreu, 83 anos. Suas palavras ao mesmo tempo resumem e comprovam o pouco que se sabe sobre o passado de grande parte dos habitantes da Costa do Bica.

No caso, a palavra bugre, usada para designar todo o tipo de índio bravio, é aplicada para simplificar as origens de aproximadamente 70 famílias descendentes de indígenas que ainda vivem ali.

O mais provável é que as famílias sejam descendentes de índios guaranis, que na época do descobrimento do Brasil, no Rio Grande do Sul formavam as tribos Tapes, Patos, Carijós e Arachanes. O relato dos mais velhos, como Marcelino Abreu e Angélica Nunes, 75 anos, dá conta de que as famílias da região acabaram se fundindo numa só: Os Nunes, que sempre moraram naquelas paragens.

A totalidade das famílias de origem indígena da Costa do Bica sobrevive da agricultura e leva uma vida rústica e simples, típica dos pequenos agricultores da Campanha gaúcha. 'Plantamos de tudo um pouco para manter o sustento e vender a sobra', conta Josino da Silva Souza, 67 anos. Ao contrário de Souza, que divide a família em três casas de alvenaria, a maior parte dos herdeiros dos guaranis vive em precários chalés de madeira e sobrevive de pobres roçados ou pensões e aposentadorias de salários mínimos.

Na localidade de Várzea, em Pedras Altas, a Diocese encontrou aproximadamente 20 famílias que descendem diretamente dos habitantes primitivos do lugar. Assim como em Piratini, as equipes da Campanha da Fraternidade deverão aplicar os projetos sociais que já começaram a ser desenvolvidos pelas comunidades da região. 'Não poderemos resgatar toda a história destas pessoas, mas poderemos ajudar com ações práticas que ajudarão a resolver os problemas reais', explica o padre Silfredo Hansen, coordenador da Campanha da Fraternidade em Pelotas.

Os dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), indicam que a população indígena do Rio Grande do Sul é atualmente de 14.029 pessoas. A maior parte delas vive na região Norte do Estado. Os guaranis, no entanto, não são mais de mil e ocupam 0,3% do território gaúcho, enquanto a média nacional é de 12% do território brasileiro.

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