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Projeto pedagógico propõe ensino bilíngue e respeito ao calendário indígena

Universidade Multicampi - http://www3.ufpa.br
17 de Set de 2013

A comunidade indígena da reserva Alto Turiaçu, localizada na região do Gurupi, no noroeste do Maranhão, vive hoje uma nova experiência na formação educacional de jovens e adultos. Por meio do Projeto Ka'a namõ jumu'eha Katu - que significa 'Aprendendo com a floresta', uma nova estrutura curricular foi construída com o intuito de atender aos anseios daquela comunidade, como o ensino bilíngue (ka'apor/português) e o calendário indígena, o qual respeita o período de caça e pesca.

Desde fevereiro deste ano, os Ka'apor vêm trabalhando na construção de seu sistema de escrita. Durante um encontro realizado em maio, representantes indígenas e pesquisadores (professores e alunos) do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, do Campus da UFPA em Bragança, discutiram e registraram bases para o Primeiro Acordo Ortográfico do povo. Como resultado, iniciaram no dia 1o de setembro, o I Ciclo de Formação, na aldeia sede Xie Pyhun Renda. Aos arredores desta localidade, por iniciativa dos ka'apor, começará a construção de um Centro de saberes, destinado ao aprendizado escolar.

"Antes do projeto, quando realizávamos as pesquisas e produzíamos com eles materiais sobre a língua, na época, com o apoio do Laboratório de Línguas Indígenas (LALI) da UnB, já percebíamos o grande interesse dos alunos indígenas quando comparávamos os aspectos da língua ka'apor com os da língua portuguesa durante as aulas. O maior ganho neste empreendimento tem sido observar e participar da reconstrução da escrita desse povo", afirma a coordenadora do PPG em Linguagens e Saberes na Amazônia, Raimunda Benedita Cristina Caldas.

Projeto Pedagógico - A proposta de ensino que contemplasse os conhecimentos de mundo dos Ka'apor em consonância com os saberes ensinados na escola surgiu a partir do contato dos índios com o pedagogo e antropólogo José Mendes Andrade. Ele observou, ao longo de meses de convivência nas aldeias, as necessidades de mudanças na formação educacional desses indígenas e construiu com eles uma estrutura curricular com as definições dos temas geradores do Projeto Pedagógico e Curricular da Educação Básica Ka'apor, voltados para valorização da cultura, para o cuidado com o Território e Sustentabilidade na Floresta.

Em 2013, o Projeto passou a contar com a participação dos pesquisadores Tabita Fernandes da Silva e José Guilherme dos Santos Fernandes, professores, e alunos do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, do Campus da UFPA em Bragança. Eles fazem o acompanhando desde o ensino das crianças até a chegada à Universidade. Os primeiros alunos Ka'apor a concluírem o ensino médio e que estão inseridos no Projeto de educação vão participar do Processo Seletivo 2014 da UFPA.

"Com a ampliação do projeto, passamos a construir uma base de dados acerca de populações tradicionais e originárias, no sentido de reconhecer seus saberes como um dos saberes que constituem o conhecimento acadêmico, com uma epistemologia própria. Outro objetivo foi interagir com as populações locais a fim de produzir um conhecimento em mão dupla, mesmo que tenha um caráter pragmático, por isso nosso envolvimento com a construção coletiva e partilhada da proposta pedagógica para a educação básica ka'apor: todos aprendem com todos e todos com a floresta", explica.

De acordo com a coordenadora do PPGLS, professora Cristina, a condição da educação escolar desses índios era precária. A maioria deles, em idade escolar, não possuía qualquer certificação do ensino básico.

Nesta região do Gurupi vivem atualmente cerca de 1.900 indígenas da família Tupí-Guaraní, distribuídos em doze aldeias. A língua materna dessa população é o Ka'apor.

Pesquisa - Para Cristina, juntamente com o trabalho de extensão, o Projeto Aprendendo com a Floresta abriu oportunidades de trabalho de campo e formação em pesquisa para os estudantes de graduação e pós, no campus de Bragança. "Devemos considerar que a pesquisa não deve estar dissociada de ações mais pragmáticas do trabalho de extensão, e é isso o que realizamos com os ka'apor. Ao mesmo tempo em que aprendemos e fazemos nossa pesquisa, estamos dando o retorno a essa demanda social para a construção de uma proposta pedagógica que parte de sua realidade e de seus anseios", conclui.

Texto: Ericka Pinto - Assessoria de Comunicação da UFPA

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