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Projeto multidisciplinar registra as tradições em todo o vale do Rio Xingu

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
27 de Jul de 2002

Objetivo é adiantar-se aos impactos que virão com a hidrelétrica de Belo Monte

O Rio Xingu e a tradição de sua população ribeirinha serão o centro das atenções de especialistas de todo o Brasil, entre hoje e 3 de agosto de 2002. A bordo do catamarã Pará, a expedição O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia navegará de Belém até Altamira, para conhecer, debater e vivenciar a cultura e biodiversidade da região.

O projeto é uma iniciativa da Universidade Federal do Pará e tem o objetivo de reunir e preservar as várias formas de narrativa oral usadas na região.

Criado como um programa de pesquisa, cuja missão era coletar as histórias, lendas e causos das comunidades, o projeto já atinge 45 municípios e conta com um acervo de 5.300 narrativas, recolhidas com a participação de aproximadamente 2 mil depoentes.

Usando o catamarã como transporte, os 140 especialistas e voluntários participantes do projeto buscam as narrativas nos recônditos onde esse imaginário caboclo é gerado: entre rios e florestas, onde a população permanece quase isolada pela exuberante biodiversidade amazônica.

O alvo dos pesquisadores é o Rio Xingu, onde se projeta a construção de Belo Monte, uma mega-hidrelétrica, com a previsão de instalação de 20 turbinas, com capacidade de geração de 550 megawatts cada. O desafio da empreitada é identificar e registrar manifestações culturais que poderão ser afetadas por essa nova realidade, que certamente trará um grande impacto na região.

Convidados - Saindo do porto de Belém, hoje à noite, a expedição passará pelas cidades de Porto de Moz, Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e, finalmente, o câmpus da Universidade Federal do Pará, situado em Altamira, o maior município do planeta, com a impressionante área de 161.456 quilômetros quadrados. Entre os viajantes, professores da Universidade de São Paulo, PUC-São Paulo, Federais do Pará, Rio, Rio Grande do Sul, Alagoas e Brasília, além de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade de Austin, no Texas (EUA).

Além dos cientistas, compõem a comitiva estudantes e convidados como os artistas plásticos Jocatos, Antar Rohit e Vivianne Menna Barreto, que promoverão oficinas e exposições durante o trajeto. "Esta é a terceira vez que participo da expedição e posso me considerar um subproduto do projeto", conta a artista paulista Vivianne Menna Barreto, que leva na bagagem as aquarelas sobre seda, pintadas a partir de suas viagens a Oriximiná e Marajó.

Incentivo - "O impacto dessa vivência deu origem ao meu projeto de mapear a cultura cabocla por meio da pintura, que está se concretizando. Ao mesmo tempo, a chegada de mais de cem cientistas para conhecer, fotografar e falar com uma população longínqua e mostrar interesse sobre suas histórias, festas e costumes também exerce um grande impacto", diz.

Vivianne conta que o círio fluvial de Oriximiná estava minguando, mas depois de visitado pelo projeto em 2000, dobrou a produção das lanterninhas no ano seguinte. "Uma expedição como essa colabora para que quem produz essa cultura, se sinta valorizado e se reconheça como agente de cidadania, o que incentiva a continuidade das manifestações."

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