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Projeto muda a vida em comunidade indígena

Agência Roraimense de Notícas - http://www.portal.rr.gov.br/
Autor: Albani Mendonça
24 de Mar de 2011

Indígenas da Comunidade da Ilha, na reserva São Marcos, se preparam para colher na primeira quinzena de abril uma expressiva safra de melancia. Aos poucos, os índios da região distante cerca 60 quilômetros da capital, na zona rural do município de Boa Vista, conquistam autonomia financeira, mudam o padrão de vida e, por meio de exemplos, incentivam as novas gerações a retornar ao campo.

De acordo com o secretário-adjunto do Índio e técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ozélio Izídório Messias, a parte mais difícil do trabalho com a comunidade foi convencer os indígenas a sair das proximidades do rio Uraricoera, um dos mais importantes afluentes do rio Branco, e plantar na região do lavrado.

Eles plantavam às margens do rio e as chuvas mais intensas causavam inundações e prejudicavam as lavouras. Foi necessário um trabalho embasado em muitas informações técnicas para convencer os associados da Organização dos Povos Indígenas de Roraima (Opir) a iniciar o manejo sustentável no lavrado.

Inseridos no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), os 173 produtores rurais da Comunidade da Ilha conseguiram com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Embrapa financiamento no Banco da Amazônia (Basa) e implantaram o projeto de irrigação por gotejamento.

O secretário-adjunto do Índio é um dos orientadores da comunidade na implementação do projeto. Ozélio Izidório viu pela primeira vez o trabalho de irrigação por gotejamento na região Nordeste. A técnica foi trazida de Israel e se adaptou ao semi-árico nordestino e ao lavrado roraimense.

Mantendo a preocupação com a sustentabilidade, a irrigação por gotejamento evita o desperdício de água e tem maior eficácia, porque molha os brotos cova por cova. Esse tipo de irrigação foi adotado há três anos pelas comunidades indígenas da Ilha e rendeu importantes resultados no plantio e na colheita, sobretudo da melancia.

BOM PLANTIO GERA BONS NEGÓCIOS - Além de vender o produto para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PPA), do governo federal, os agricultores abastecem o mercado de Boa Vista e já conseguiram mandar parte da produção para Manaus. Uma importante multinacional do Amazonas comprou na primeira safra duas toneladas de melancia do grupo de agricultores indígenas.

De acordo com o tuxaua Alvino Morais, sempre há interesse na compra de alimentos. Ele ressalta a importância da atividade para as comunidades indígenas que além do cultivo da melancia, plantam mandioca, feijão, milho e hortaliças. A evolução desde a primeira colheita foi substancial, eles passaram de 200 covas, na primeira experiência com o projeto gotejo, para 13 mil covas neste ano.

A expectativa de crescimento é patente. Impulsionados pelos primeiros resultados da colheita, os índios querem inserção em outra linha de crédito do Pronaf, o Mais Alimento, que financia investimentos em infraestrutura da propriedade familiar.

Para o secretário-adjunto do Índio, Ozélio Izidório, a aquisição de crédito foi um grande avanço para as comunidades indígenas. Segundo ele, antes havia desconfiança quanto à capacidade desse segmento de cumprir os acordos financeiros. Após as primeiras experiências, os bancos mudaram a postura.

O sucesso dos empreendimentos fez mudar também a postura das novas gerações na comunidade. Muitas famílias que saíram da terra indígena para morar em Boa Vista à procura de oportunidade no mercado de trabalho estão retornado para o campo. O êxito na atividade agrícola atrai os interesses de novos empreendedores.

De acordo com o produtor Rangeldo Morais, a agricultura familiar depois da implantação do projeto de gotejamento "não apenas melhorou a situação financeira da comunidade, mas transformou alguns agricultores em empregadores". Rangeldo contrata na época da colheita cerca de 20 trabalhadores para ajudar na tarefa.

Questionados sobre a maneira como investem os bons frutos econômicos colhidos do projeto de agricultura familiar, os indígenas da Comunidade da Ilha revelam que compram imóveis na capital e reinvestem em novos plantios.

Na região de Normandia, maior produtora de melancia do estado, uma cooperativa formada por 11 irmãos da etnia Macuxi chega a exportar três carretas da fruta por mês para o Amazonas. A visão mercadológica dos pequenos agricultores também mudou, eles almejam conquistar o mercado amazonense com número de consumidores estimado em dois milhões.

POSIÇÃO GEOGRÁFICA PRIVILEGIADA - De acordo com Ozélio Izidório, Roraima é um campo certo e vantajoso para qualquer cultura. A incidência do Sol na Linha do Equador faz com que os dias sejam longos e com muito calor e luz na maior parte do tempo. Enquanto uma melancia plantada no Rio de Janeiro, segundo ele, precisa em média de 90 dias para ser colhida, em Roraima esse tempo cai para 60 dias.

No caso da soja, em outras regiões do País o grão necessita de pelo menos 120 dias para amadurecer e ficar pronto para colheita. Aqui, o tempo necessário é de mais ou menos 70 dias. Com um ciclo curto e água em abundância, o estado com planejamento baseado nos padrões nacionais de sustentabilidade pode se tornar em médio e longo prazo um grande produtor de alimentos.

O PAPEL DO GOVERNO - As secretarias estaduais do Índio (SEI) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) são parceiras das comunidades indígenas no desenvolvimento de alguns projetos. A Seapa fornece calcário para o tratamento do solo e dispõe técnicos agrícolas para ajudar os produtores.

Além disso, as secretarias desenvolvem em conjunto o projeto "Chuva na Roça" que vai beneficiar cerca de 50 comunidades indígenas. Em cada comunidade, seis famílias terão acesso à infraestrutura de irrigação para o plantio em qualquer período do ano. As feiras indígenas também têm rendido bons resultados.

Iniciada no município do Bonfim e realizada uma vez por mês, a Feira Indígena é a oportunidade de o agricultor das comunidades vender seus produtos na área urbana. Verificado o êxito das primeiras experiências, já existe intenção de expandir o modelo de exposição para outras localidades. O próximo município a realizar a feira indígena é Pacaraima.

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