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Projeto Formação de Professores Yanomami para o Magistério

CCPY-Boletim Yanomami no. 38-Boa Vista-RR
11 de Jun de 2003

A escola, e todo o acervo de conhecimento que ela propicia, deixou de ser algo distante para os Yanomami. Hoje, o aprendizado da língua e da escrita dos não-índios está associado à defesa da cultura e da terra dos Yanomami. A escola é vista como importante instrumento para a defesa da língua indígena e também para a obtenção de novos e úteis saberes advindos da sociedade nacional.
Nos últimos quatro anos, dezenas de escolas foram abertas na Terra Indígena Yanomami, em parte devido ao esforço dos próprios índios e, em grande medida, graças ao apoio das organizações não-governamentais que atuam em defesa dos interesses desse povo, como a Comissão Pró-Yanomami (CCPY), o Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), a Urihi-Saúde Yanomami e a Diocese de Roraima. Criado em 1995 para atender à reivindicação dos índios das regiões do Demini, Toototobi e Parawau, o Programa de Educação Intercultural da CCPY (PEI) para os Yanomami ampliou-se desde então e se articulou com iniciativas semelhantes de outras organizações não-governamentais, até formar-se a rede de colaboração que atualmente sustenta os cursos de formação dos professores para o magistério.
Hoje, aprimorar a formação dos professores possibilita expandir o acesso das comunidades à escola e, ao mesmo tempo, permite que elas participem da gestão do novo processo educativo intercultural, criando um corpo docente yanomami. Essa formação, promovida pelas organizações envolvidas, apoia-se em três temas: terra, língua e saúde. A sua implementação ocorre de quatro maneiras: cursos intensivos, acompanhamento pedagógico aos professores, intercâmbio com outras escolas indígenas e programa de formação de professores indígenas, além de pesquisa e estudos autônomos.
A terceira edição do curso - Economia, Ecologia e Tecnologia - está inserida na proposta curricular que prevê a realização de oito cursos intensivos, ainda em fase de elaboração. Os dois cursos anteriores - Terra, realizado em julho de 2001, e Economia e Ecologia, em maio do ano passado - foram aprovados pelo Ministério da Educação, por meio da Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas (CGAEI/MEC).
Segundo relatório do coordenador do programa, Marcos Oliveira, a situação das 78 escolas beneficiadas pelo projeto é bastante diversificada. Há aldeias que dispõem de escola há mais de dez anos. É o caso de Catrimani e Aracá. Outras, como Bicho Açu e Saula, têm escola há pouco meses. As aldeias de Demini, Toototobi e Paapiu ganham destaque pela atuação dos professores, que, com experiência de quatro ou cinco anos de docência, já alfabetizaram muitos alunos. Há escolas, como no Parafuri, em que os professores ainda estão em processo de alfabetização. Em algumas outras, como as do Ajuricaba e Demini, já estão equipadas com computadores. E ainda outras, como Kona e Raita, carecem de espaço físico destinado ao uso específico de uma escola.
Todas as escolas têm dois pontos em comum: são mantidas por organizações não-governamentais ou pela igreja e não têm ainda o reconhecimento dos Conselhos de Educação dos estados de Roraima e Amazonas.
O material didático das escolas yanomami é elaborado em conjunto pelos professores indígenas, assessores das organizações de apoio e consultores convidados. A maior parte do material é produzido nas línguas yanomami. Já o calendário escolar é definido por cada comunidade, levando em contas suas necessidades e prioridades.
Durante o último curso de formação de professores, realizado em 2002, foi elaborada a primeira versão do Projeto Político Pedagógico das Escolas Yanomami (PPP-Yanomami) que foi submetido aos Conselhos Estaduais de Educação de Roraima e do Amazonas. No documento encaminhando o projeto, os líderes e professores indígenas cobraram das respectivas Secretarias Estaduais de Educação o reconhecimento das escolas, de modo a garantir o recebimento de materiais escolares e os devidos salários dos docentes . Neste terceiro curso, o tema será retomado, juntamente com o debate sobre o currículo de formação dos professores.
Além do aprendizado da língua portuguesa, os professores yanomami querem ampliar seus conhecimentos sobre matemática, já iniciados no curso anterior. Assim, um dos principais objetivos da formação continua sendo capacitar os professores yanomami a efetuar operações aritméticas em diversas situações, especialmente naquelas que envolvem, entre outras, comercialização, censo, medidas, calendário e orçamentos. Será utilizado o ábaco e realizadas atividades práticas que envolvem o uso do dinheiro, com simulações de compra e venda de mercadorias.
Durante o atual curso, a intenção é estimular os professores Yanomami a uma reflexão crítica sobre a produção de mercadorias, com suas opções tecnológicas e conseqüências sociais (desigualdade social, má distribuição de renda, exploração da força de trabalho) e ambientais (resíduos do processo de produção e lixo). Serão incluídas na pauta as alternativas econômicas que os Yanomami pretendem criar ou incrementar.
A temática da tecnologia, inserida nesta terceira edição do curso, dá continuidade ao trabalho com os mapas da Terra Indígena Yanomami, iniciado no primeiro curso. O objetivo desta vez é ensinar os Yanomami a interpretar as imagens de satélite de sua terra. Para isso, a CCPY vai pôr à disposição dos professores indígenas imagens de satélite de toda a Terra Indígena Yanomami, como parte de um projeto financiado pela Fundação Cartier.

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