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Projeto desenvolvido pela UFMT e Minc fomenta arranjos produtivos em comunidades indígenas de MT

Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - www.ufmt.br
24 de Jun de 2015

Iplantado em dezembro de 2014, o Projeto Territórios Criativos indígenas: arte e sustentabilidade, vem desenvolvendo atividades de pesquisa e capacitação junto a 4 comunidades indígenas de Mato Grosso, com o intuito de projetar estratégias de sustentabilidade e geração de renda geridas pelas próprias comunidades. O trabalho se organiza a partir de atividades econômicas já realizadas ou vislumbradas pelos povos, a fim de fornecer orientação técnica nos seguintes eixos temáticos: direitos culturais e patrimônio indígena; comercialização de produtos, de forma a respeitar o modo de vida dos povos indígenas; e captação de recursos que visem o benefício comunitário e familiar.

O projeto se estabeleceu a partir da escolha de produtos a serem impulsionados por cada povo, a saber: os Umutina, com as biojóias, produzidas a partir de sementes oriundas da própria região; os Chiquitano, com a orquestra de violinos, que reúne crianças e jovens com instrumentos musicais tradicionais deste povo e o violino; o povo Bakairi, que se dedica ao estudo e comercialização de artefatos e produtos originados a partir de elementos culturais deste povo, como as redes e cestarias; e Xavante, com a vivência realizada na aldeia Wederã, ação que envolve o visitante no modo de vida deste povo e compartilha experiências no cerrado mato-grossense.

A iniciativa é uma parceria entre o Ministério da Cultura e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por meio do Núcleo de Pesquisas do Contemporâneo (NEC). Em seu corpo de trabalho, conta com uma equipe mista, formada por pesquisadores doutores vinculados à UFMT e estudantes indígenas da mesma instituição, além do envolvimento das comunidades dos quatro povos articulados pela iniciativa.

A metodologia do trabalho baseia-se na interdisciplinaridade e compartilhamento de informações, pois, os estudantes indígenas vinculados ao projeto, são advindos das próprias comunidades onde o projeto está sendo desenvolvido. Dessa forma, tornam-se um elo importante entre a academia e as comunidades envolvidas, o que possibilita que se molde o trabalho a partir das necessidades reais dos territórios mobilizados.

Segundo professora Naine Terena de Jesus, uma das coordenadoras do Projeto, a metodologia está se moldando dia após dia, pois mesmo baseando-se em estudos e propostas sobre a cadeia cultural econômica dos povos indígenas, "as peculiaridades e diferenças entre as etnias envolvidas pulsam a todo momento e busca-se considerar todos os movimentos que surgem nas etapas previstas do projeto. É um exercício de ouvir".

A professora Ludmila Brandão, coordenadora do projeto, explica que esta todo dia no limite do conhecido e o desconhecido. " O que teremos agora? Como faremos? Qual a melhor maneira de encaminhar isso? O que gratifica são as repostas positivas das comunidades ao projeto. Fico muito feliz com isso e com a oportunidade de poder fazer alguma coisa pelos povos indígenas".

Na primeira etapa, foram realizados mapeamentos sobre as condições de vida nas aldeias Central e Bakalana (povo Umutina), Vila Nova Barbecho (Chiquitano), Wederã (Xavante) e aldeias Pakuera, Aturua, Paikum e Kuiakware (Bakairi). O levantamento realizado pelos pesquisadores indígenas traz dados importantes quanto ao modo de vida nessas comunidades, assim como as dificuldades, o fluxo financeiro, dados que podem auxiliar na formulação de políticas e projetos voltados para as comunidades indígenas. Essas informações serão transformadas em artigos construídos sob a orientação das professoras Ludmila Brandão e Suzana Guimarães e do professor Diego Baraldi ao final do projeto.

Já a etapa atual, consiste numa formação para que as comunidades possam realizar a comercialização de produtos de forma consciente, respeitando os interesses comunitários e o modo de vida em cada comunidade. A expectativa para esta etapa é que as atividades consigam alcançar a linguagem e os modos de atuação que cada comunidade acredita ser ideal. Para Helena Corezomaé, do povo Umutina e estudante de jornalismo, a pretensão é que o Territórios Criativos possa ajudar na divulgação e redução dos atravessadores, colaborando para um contato direto das artesãs e comprador final, proporcionando autonomia e valorizando o trabalho promovido dentro das aldeias Umutina.

Para Isabel Taukane, do povo Bakairi e estudante de doutorado na UFMT, o desafio do projeto é a implementação efetiva das ações e romper barreiras quando o assunto é a condição econômica dos povos indígenas. Para ela, "os povos indígenas, no decorrer dos mais de 500 anos de processo de colonização, sempre foram espoliados sob todas as formas, seja nos trabalhos forçados, seja no enfraquecimento de sua cultura e assim por diante, assim quando se trata da economia criativa dos bens materiais e intelectuais que esses povos conseguiram manter ao longo de todo esse processo, o assunto ou o projeto da economia criativa deve ser tratado com todo esmero".

As capacitações tem início nesta quatra-feira (24) e devem seguir até o fim de agosto. A primeira aldeia a receber a equipe é a Vila Nova Barbecho, do povo Chiquitano, e todo o trabalho está sendo desenhado pelos consultores e pelo pesquisador/articulador Soilo Urupe, estudante de psicologia e membro desta comunidade. Ele realiza a reunião com consultores, orienta quanto ao conteúdo que mais atende aos anseios da comunidade, prepara a equipe para a entrada na aldeia, entre outras ações necessárias para o bom encaminhamento das ações. Para Soilo, o projeto pode fortalecer as lutas e dar mais visibilidade e oportunidades para as potencialidades de sustentabilidade criativa dentro da terras indígenas e aldeias. "Uma iniciativa pioneira no Estado de Mato Grosso", explica ele.

Já a professora Severiá Idiorie Carajá, articuladora junto aos Xavante e mestranda, destaca que para os Xavante envolvido no projeto, o objetivo final é o bem viver, a qualidade de vida, sustentabilidade socioeconômica, ambiental e cultural, mas principalmente continuar a ser xavante. Com sua experiência de vida, projetos e atividades que envolve povos indígenas, ressalta que, só alcançarão isto se organizando internamente e aproveitando esse fortalecimento institucional proposto pelos parceiros do projeto.

Participam ainda do projeto na coordenação executiva Karine Mattos, que atua junto a Fundação Uniselva, parceira na gestão dos recursos; o cineasta Caimi Waiassé, tradutor Xavante, e Adriano Makuda, do povo Bororo, que traz contribuições no setor jurídico para povos indígenas. Adriano graduou em direito e, ao final do projeto, pretende-se que sua pesquisa resulte em um artigo ou documento que será produzido em parceria com as profs. dras. Naine Terena e Larissa Menendez e se relaciona a proteção e direitos dos povos indígenas no contexto da produção e comercialização de bens e patrimônios.
A última etapa do projeto, irá lançar um site com os produtos que cada comunidade está fomentando, oferecendo ao público consumidor, contatos para aquisição direto das comunidades, informações sobre os povos e dados coletados pelo. O lançamento do site acontecerá no evento 'Aldeia de Vivências', que será um momento de negociações, onde, membros das comunidades envolvidas estarão reunidos em Cuiabá para dialogar sobre a experiência e ter a possibilidade de aproximar a realidade dos produtores indígenas ao público em geral.

http://www.ufmt.br/ufmt/site/noticia/visualizar/23350/Cuiaba

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