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Progresso em área desmatada não é sustentável

OESP, Vida, p. A16
12 de Jun de 2009

Progresso em área desmatada não é sustentável
Cidade enriquece após desmate, mas qualidade de vida piora, diz estudo

Alexandre Gonçalves

Os ganhos obtidos pelo desmatamento na Amazônia rapidamente desaparecem. Sobra apenas a pobreza que precedeu a exploração, mas sem os recursos da floresta que poderiam remediá-la. A conclusão é de um estudo publicado hoje na revista americana Science.
Um grupo de pesquisadores analisou os indicadores de qualidade de vida de 286 municípios brasileiros na Amazônia e verificou que localidades com um processo de desmatamento em curso apresentam indicadores acima da média. Mas a prosperidade dura pouco. Municípios que devastaram suas florestas possuem índices semelhantes, do ponto de vista estatístico, ao de localidades onde as árvores ainda estão em pé. Os cientistas dividiram os municípios em sete grupos segundo a extensão do desmatamento. Depois, calcularam a média do índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal em cada grupo. O IDH leva em conta variáveis como renda per capita, expectativa de vida e alfabetização.
As localidades com floresta intacta ou devastada possuíam, em média, IDH próximo a 0,6 (o índice varia de 0 a 1). Nos municípios com metade da cobertura vegetal e atividade predatória em curso, o índice sobe a 0,7.
Antecedentes
Um estudo realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em 2000, intitulado Amazônia sustentável: Limitações e oportunidades para o desenvolvimento rural, apontava para o ciclo enriquecimento-declínio na exploração das terras da Amazônia.
O relatório Avanço da Fronteira na Amazônia: do boom ao colapso, publicado em 2007 pelo Imazon, relaciona a evolução do IDH ao fenômeno do desmatamento e do consequente empobrecimento do solo. "Agora, também separamos cada uma das variáveis que compõem o IDH", explica a pesquisadora portuguesa Ana Rodrigues, principal autora do trabalho publicado na Science. "A variação dos índices de alfabetização, expectativa devida e renda per capita também seguiu o ciclo boom-declínio." Ana realizou a maior parte da pesquisa na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Hoje, atua no Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva em Montpellier (França).
Outra característica do novo estudo é a opção pela análise acurada da situação em cada município. "Adotamos uma perspectiva semelhante à do governo federal que analisa o desmatamento cidade por cidade e divulga listas dos municípios que mais derrubam", aponta Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon e coautor do artigo.
"As populações na Amazônia arcam com os custos da preservação e o mundo recebe de graça os benefícios", diz o brasileiro Bernardo Strassburg, que faz seu doutorado em economia ambiental na Universidade de East Anglia, no Reino Unido.

OESP, 12/06/2009, Vida, p. A16

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