VOLTAR

Professores da Unesp lançam movimento de repúdio à nomeação de diretor da Fundação Palmares

Alma Preta - https://www.almapreta.com/
Autor: Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Unesp campus de Marília
01 de Jun de 2020

Laércio Dias, novo diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA), é contra ações afirmativas e em 20 anos de estudo nunca pesquisou a temática negra

Os professores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília, no interior de São Paulo, iniciaram um movimento de repúdio a nomeação de um docente da instituição de ensino à diretoria da Fundação Cultural Palmares (FCP). O professor Laércio Fidelis Dias, novo diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA), é contrário ao sistema de cotas, às pesquisas sobre desigualdade social com recorte racial, e recentemente assinou um manifesto público que pede ao governo federal a liberação do uso da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada e que aumenta o risco de morte, no tratamento de pacientes da Covid-19.

Os professores da Unesp fizeram uma moção com o objetivo de que a universidade se manifeste oficialmente sobre os riscos das declarações e posicionamentos do novo diretor da Fundação Palmares, que são contrários aos valores da instituição. Desde 2014, a Unesp adota o sistema de cotas e o desempenho dos cotistas está no mesmo parâmetro dos demais alunos, o que comprova a eficiência da ação afirmativa para inclusão racial.

"Nós, professores, não aprovamos a ida dele para a Fundação Cultural Palmares e fizemos um discurso afirmando que era um momento muito ruim para ter uma pessoa da Unesp em um departamento do órgão devido à postura que a Fundação Palmares tem tido", diz Maria Valéria Barbosa, professora de Sociologia da Unesp.

De acordo com a moção, organizada pela professora Maria Valéria, "a universidade é um espaço da pluralidade de ideias e do contraditório, mas suas ações pautam-se pela ciência e pelos seus devidos protocolos científicos".

Laércio Fidelis Dias, do núcleo de Sociologia e Antropologia da Unesp, aceitou o convite do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, para dirigir o Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA) em março.

Ao confirmar o nome do novo diretor, a Fundação Cultural Palmares publicou uma nota no site oficial onde o próprio professor afirma que, apesar de ter 20 anos de vida acadêmica, não se envolveu em temas da comunidade negra. Sua experiência como pesquisador é focada na cultura tradicional indígena. O departamento que Dias assumiu há três meses tem obrigação, por lei, de criar atividades relacionadas à proteção, preservação e promoção da identidade das comunidades quilombolas, além das populações de terreiros de matriz africana.

"Embora a temática negra não seja tema de minhas pesquisas, como brasileiro e negro tenho a experiência vivencial (...) que acredito ser importante para o cargo que estou a assumir", afirma o diretor, em nota publicada no site do órgão.

Recentemente, no dia 6 de maio, Dias assinou uma carta aberta, com outros 12 acadêmicos, pedindo que o governo utilize a hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus, mesmo não existindo resultados conclusivos que o medicamento funciona.

A carta assinada pelos Docentes pela Liberdade (DPL) foi publicada no portal Brasil Sem Medo, um dos sites alvos das Polícia Federal nas investigações sobre fake news. No dia 20 de maio, o grupo fez um novo documento reforçando o apelo ao presidente Jair Bolsonaro para o uso do medicamento.

O diretor Laércio Fidelis Dias, a Fundação Cultural Palmares e o movimento Docentes Pela Liberdade foram procurados pelo Alma Preta para comentar as críticas relacionadas às políticas de ações afirmativas e a questão do apoio ao uso da hidroxicloroquina. Até a publicação deste texto, os questionamentos da reportagem não foram respondidos.

https://almapreta.com/editorias/realidade/professores-da-unesp-lancam-m…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.