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Professor sofre atentado em campos da USP

FSP, Cotidiano, p.C4
02 de Out de 2004

Em boletim de ocorrência, pesquisador citou supostas ameaças de ex-alunos, que participavam de estudo sobre biodiesel
Professor sofre atentado em campus da USP
Afra Balazina
Katiucia Magalhães
Free-lance para a Folha Ribeirão
O presidente da Câmara Setorial de Biocombustíveis do Estado de São Paulo e professor de química orgânica da USP, Miguel Joaquim Dabdoub Paz, 41, sofreu um atentado a tiros anteontem à noite, dentro de um laboratório no campus da USP em Ribeirão Preto (município que fica a 314 km ao norte da capital paulista).
Por volta das 21h30, quatro tiros de pistola foram disparados contra o professor, pela janela, mas ele conseguiu fugir sem ser atingido. O crime ocorreu dois dias depois que Dabdoub registrou um boletim de ocorrência dizendo ter recebido, por telefone, ameaças de ex-alunos, que participavam de pesquisas no Ladetel (Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas).
Dabdoub disse que os alunos roubaram técnicas e informações confidenciais para criar uma empresa privada -a MB do Brasil. A partir dela, iriam negociar contratos com outras empresas para passar o conhecimento sobre o biodiesel produzido a partir da cana-de-açúcar.
O professor também acusou a empresa Dedini, de Piracicaba, de "aliciar" os estudantes para obter o conhecimento do laboratório de maneira ilícita. A empresa e os alunos negam as acusações e dizem que vão processar o professor.
O pesquisador disse que estava sentado em sua mesa, de costas para uma janela que dá acesso à área externa do laboratório, quando um tiro atingiu a parede cerca de 10 cm acima de sua cabeça. Em seguida, houve uma seqüência de três disparos também na direção de sua cabeça. Alunos que estavam no laboratório presenciaram o fato. Nenhuma pessoa que estava no local foi ferida.
Segundo a polícia, a trajetória das balas na parede mostra que o atirador buscou realmente atingir o professor, o que caracteriza tentativa de homicídio.
A perícia recolheu no local quatro cápsulas deflagradas de pistola 635. Fora do laboratório, os policiais encontraram mais três projéteis intactos.
Dabdoub pediu, por meio do Ministério da Casa Civil, a intervenção da Polícia Federal no caso.
A Casa Civil é responsável pela coordenação da comissão executiva interministerial instalada pelo governo federal neste ano para implantar e monitorar ações direcionadas à produção e ao uso do biodiesel como fonte alternativa de energia.
A Folha tentou ouvir a Casa Civil sobre o ocorrido, mas o ministério disse que o assunto não diz respeito as suas atribuições.
A USP afirmou que não vai se manifestar sobre o episódio para não atrapalhar as investigações policiais. Pelo mesmo motivo, a universidade também não respondeu quantos homens fazem a vigilância do campus hoje e se irá aumentar a segurança na área. Para entrar na USP, os carros que não possuem o selo da universidade são parados na guarita.
Biodiesel
Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, o Ladetel, coordenado por Dabdoub, detém a patente do biodiesel produzido com a cana. Esse combustível é um substituto para o diesel e é produzido a partir de fontes renováveis, tais como óleos vegetais, gorduras animais e óleos residuais de fritura. Hoje, há vários institutos brasileiros que pesquisam biodiesel, a partir de diferentes fontes.
De acordo com a secretaria, a idéia inicial é acrescentar 5% de biodiesel ao diesel comum no país. E, a partir do primeiro ano do programa, o Brasil pode economizar de US$ 1,2 bilhão a US$ 1,8 bilhão com a substituição de importações de diesel pelo combustível vegetal e gerar 200 mil empregos.

Outro lado
Acusados dizem que pesquisador será processado
Free-lance para a Folha Ribeirão
A empresa Dedini, acusada por Miguel Dabdoub de aliciar os estudantes para que passassem a ela o conhecimento sobre biodiesel adquirido no Ladetel, e os alunos que ele apontou como ladrões de informações sigilosas do laboratório negaram as acusações e disseram que vão processar o pesquisador.
Em nota enviada à imprensa, a Dedini, de Piracicaba, afirmou que o clipping do projeto Biodiesel Brasil envolveu o nome da empresa de forma caluniosa, injuriosa e difamatória. "Tomaremos todas as medidas legais contra as acusações e insinuações que foram a nós dirigidas."
Os alunos da USP que formaram a empresa MB do Brasil afirmaram que vão entrar com processo por danos morais contra Dabdoub. "Ele vai ter que provar tudo o que falou", disse Felipe Aguiar, 23. Segundo os alunos, de um computador da USP, sob responsabilidade de Dabdoub, partiu 11 invasões de e-mails da MB.
O estudante André Luís Pereira dos Santos, 25, acusado por Dabdoub de tê-lo ameaçado de morte pelo telefone, no dia anterior, disse que ligou para questionar o professor sobre calúnias que ele teria espalhado em jornais e na internet -inclusive no site oficial do projeto, mantido pela USP- "com o objetivo de atrapalhar as negociações da MB".
Santos afirmou que, por orientação de seu advogado, iria se submeter, com seus sócios, a exames residuográficos -que detectam a presença de pólvora- para comprovar que não participaram do atentado. "O mercado é muito grande. Há espaço para todos", afirmou.

Entenda o Biodiesel
O que é?
É um combustível substituto para o diesel, produzido a partir de fontes renováveis como óleos vegetais, gorduras animais e óleos residuais de fritura. Pode ser usado puro ou misturado com diesel de petróleo, não sendo necessária nenhuma modificação nos motores
Vantagens
É nacional e 100% renovável. Em termos ambientais, reduz a emissão de gases poluentes que causam o efeito estufa. Outras vantagens são reduzir a dependência do país em relação ao petróleo, fortalecer o agronegócio e criar um novo mercado para óleos vegetais
Mercado
A frota nacional consome 37 bilhões de litros de diesel por ano. Uma comissão interministerial analisa o biodiesel. A idéia inicial é acrescentar 5% de biodiesel ao diesel comum
Economia
Estima-se que o Brasil reduziria em 33% suas importações de diesel, com uma economia de US$ 350 milhões
Testes
Em Ribeirão Preto, os ônibus circulares da USP e caminhões da empresa Ipiranga usam biodiesel.
A Unesp de Jaboticabal testou o produto em tratores agrícolas

Fonte: Ia deteI e Secretariado Estado da Agricultura

FSP, 02/10/2004, p. C4

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