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Produtores rurais, ambientalistas e governo debatem sobre a gestão de recursos naturais

Conferência Internacional, p. 8
31 de Ago de 2005

Produtores rurais, ambientalistas e governo debatem sobre a gestão de recursos naturais

Reunir representantes do governo federal, de produtores rurais e organizações ambientalistas para debater parcerias para a gestão dos recursos naturais do país pode parecer, a princípio, uma insensatez, devido aos problemas recentes do desmatamento decorrente da expansão do agronegócio no Brasil.
Porém, o que se mostrou na Mesa-redonda 2 - "Desenvolvimento de parcerias para a gestão de recursos naturais", não foi um jogo de acusações ou delegações de (ir)responsabilidades. 0 que ocorreu foi um debate no sentido de encontrar soluções práticas e específicas para frear as conseqüências ambientais do crescimento da indústria pecuarista e de grãos, que têm grande participação no equilíbrio da balança comercial nacional.
Como exemplo de ação ambiental, Márcio Santilli, membro do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), demonstrou a importância de se preservar e recuperar as matas ciliares de rios e nascentes. "Na Bacia do Xingu/MT, com o avanço das áreas rurais, não foram respeitadas as normas que obrigam os proprietários de terras a não desmatarem as matas que protegem as nascentes e os rios. Nesse sentido, realizamos, em outubro de 2004, um encontro com empresários, poder público local e povos indígenas da região para pensar em saídas para a sustentabilidade ambiental do Xingu e salvar suas águas", lembrou Santilli.
Como representante de um grupo de empresários que têm fazendas próximas à Bacia do Xingu, Ocimar de Camargo Villela, diretor de Meio Ambiente do Grupo André Maggi, afirmou que a empresa procurou o ISA para estabelecer uma parceria para preservar a área. "Realizamos diversas pesquisas de impacto ambiental de 0ossas ações na região, de forma a não prejudicar o meio ambiente. Temos também monitorado animais, plantas e solo de maneira a garantir a sobreviria da região. Esta é uma ação efetiva das empresas que se comprometem com a responsabilidade socioambiental", expôs Villela.
William Koury, vice-presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários (CNA-CNAF), contribuiu para o debate mostrando como tem mudado a visão dos empresários rurais sobre a responsabilidade socioambiental. "Sou produtor rural há quarenta anos. Quando comecei no ramo, não tinha a menor instrução sobre preservação do meio ambiente. Essa consciência só veio quando meus filhos começaram a influir nos negócios. Eles tiveram educação para saber das responsabilidades que nós, empresários rurais, devemos ter. Isso está acontecendo com vários empresários no Brasil", afirmou Koury.
As ações do governo federal para coibir os desmatamentos criminosos têm sido muito discutidas. Segundo João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, a Amazônia ainda tem 82% de sua área intacta e deve ser mantida assim. "0 Brasil tem o privilégio de entrar no terceiro milênio com um aparato natural sem comparações no mundo. Para preservar isso, transformar o que é considerada contravenção ambiental em crime é fundamental para coibir ações predatórias", destacou Capobianco.
Reconhecendo a força que um debate como esse tem para ajudar o Brasil a resolver questões relativas ao meio ambiente, Peter Milko, diretor geral da revista Horizonte Geográfico e mediador da Mesa-redonda, propôs uma reflexão a toda a sociedade. 'Temos que reconsiderar a imagem que fazemos de nossas matas, como é o caso do Xingu. Quando pensamos como é lá, fazemos a imagem de uma tribo indígena morando no meio da floresta. 0 ISA mostrou que, na verdade, a realidade é bem diferente. Os desmatamentos têm sido freqüentes na região e em todo o país. É contra isso que a sociedade tem que lutar", finalizou Milko.
Por Vicente Gioielli

Conferência Internacional, ago 2005, p. 8

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