VOLTAR

Produtores de soja devem ter perdas de US$ 1,1 bi

OESP, Economia, p. B12
14 de Mai de 2006

Produtores de soja devem ter perdas de US$ 1,1 bi
Mato Grosso, maior vítima da crise, vai reduzir a produção em 30% a 40%

Patrícia Campos Mello

A agricultura é uma das grandes vítimas do dólar baixo. Segundo estudo do economista Fábio Silveira, diretor da RC Consultores, a margem de lucro do plantador de soja, que era de 25% em 2004, caiu para-5% neste ano (prejuízo de 5%). Isso porque o faturamento do produtor agrícola, atrelado ao dólar, caiu bem mais que as despesas.
A receita do produtor de soja caiu de R$ 37,6 bilhões em 2004 para R$ 27,1 bilhões em 2005 e R$ 22 bilhões em 2006. A queda foi resultado do recuo do preço internacional - que era de US$ 280 a tonelada em 2004, US$ 225 em 2005 e deve ficar em US$ 210 este ano-, aliado a uma queda de 25% do dólar no período. "As receitas do produtor caíram 47%, enquanto os custos como fertilizantes e insumos (também ligados ao dólar) tiveram queda de apenas 10%", diz Silveira.
Os produtores de soja do Brasil vão fechar o ano com prejuízo de R$ 1,1 bilhão (receita de R$ 22,4 bilhões e custos de R$ 23,5 bilhões). Os produtores de arroz terão prejuízo de R$ 300 milhões, e os de milho, R$ 100 milhões. Quem planta trigo terminará o ano zerado. Entre os grãos, apenas algodão (lucro de R$ 400 milhões) e feijão (lucro de R$ 1,4 bilhão) terão bom desempenho.
Será um ano positivo para o café (lucro de R$ 2,4 bilhões), cana (lucro de R$ 4,8 bilhões) e laranja (lucro de R$ 2,4 bilhões).
Mato Grosso - maior produtor de soja, algodão e bovinos do Brasil, segundo em arroz e grande celeiro de milho, milheto e sorgo - foi atingido em cheio. O Estado deve reduzir sua produção de grãos e algodão em 30% a 40% neste ano. A arrecadação de ICMS caiu 15% em relação a 2005. No ano passado, pela primeira vez desde 1999, Mato Grosso teve perda de empregos (gerou 27.768 empregos em 2004 e perdeu 5.776 em 2005). Além da queda de receita, o estoque de endividamento dos produtores é muito alto - estima-se que chegue a R$ 15 bilhões no País.
RECLAMAÇÕES
Gente como o gaúcho Aimoré Xavier, de 68 anos, um dos pioneiros da soja em Mato Grosso, pensa em abandonar a lavoura. Xavier planta há 31 anos em Itiquira, perto de Rondonópolis, cerca de 1.400 hectares. Como plantou a soja com um dólar muito acima da cotação que recebeu na colheita, teve prejuízo e suas dívidas estão na casa dos "milhões". "Não adianta só pagar a dívida, se a lavoura não dá mais dinheiro. Não vamos conseguir ganhar dinheiro para plantar a próxima safra e pagar as dividas", diz. "O dólar é uma situação que o governo criou e precisa resolver."
A crise levou os agricultores a uma onda de protestos, batizados de "Grito de Ipiranga". Desde o dia 18 de abril, produtores estão bloqueando estradas para impedir o escoamento da safra de grãos. Eles protestam contra a política cambial, alto preço do diesel e pedem refinanciamento das dívidas. As manifestações já atingem oito Estados.
Em 2004, as exportações do complexo soja, carro-chefe da balança comercial brasileira, chegaram a US$ 10,3 bilhões. Em 2005, caíram para US$ 9,1 bilhões e, em 2006, devem ficar em US$ 8,5 bilhões.
"0 principal motivo da crise na agricultura é o câmbio", diz Silveira. "Os problemas climáticos, as pragas e o recuo dos preços internacionais são fatores coadjuvantes." Os preços internacionais estão dentro dos patamares históricos e não houve nenhuma grande quebra de safra.
"Mesmo com a queda dos preços, o produtor deveria ter lucros, ainda que menores", diz. "Mas, com o câmbio baixo, houve uma sangria."
Segundo Silveira, a safra de soja deste ano ainda não irá refletir a crise do setor. Em 2005, a safra foi de 51,5 milhões de toneladas e deve encerrar este ano em 55 milhões de toneladas. Mas em 2007 haverá grande redução da área plantada.

Protesto pode ser ampliado

Os agricultores podem ampliar as manifestações que ocorrem desde 18 de abril com a interrupção total do tráfego nas principais estradas do País. Eles vão aguardar o encontro de governadores com o presidente Lula, na terça-feira, e se não for decidida uma medida concreta, "o movimento vai recrudescer, radicalizar", diz o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
No fim da semana passada, Maggi percorreu dez municípios onde ocorrem protestos e constatou que a liberação de R$ 1 bilhão para o apoio à venda de soja, anunciada sexta-feira, não foi suficiente. "Os agricultores se sentem abandonados porque a renda do plantio desapareceu", diz o governador. 0 encontro em Brasília vai reunir 13 governadores - Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Bahia e Distrito Federal. De manhã, eles vão discutir a situação dos Estados com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. A tarde, serão recebidos por Lula.
Os protestos se concentram principalmente no bloqueio de caminhões que transportam grãos, mas podem se estender para auto-móveis e ônibus. Cleide Silva

OESP, 14/05/2006, Economia, p. B12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.