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Produtores de Holambra (SP) dão lição de reflorestamento

OESP, Agrícola, p. 6-7
08 de Jul de 2009

Produtores de Holambra (SP) dão lição de reflorestamento
Principal centro produtor de flores e plantas ornamentais já recompôs 60% de sua área de mata ciliar
Fernanda Yoneya

Longe de questionar o Código Florestal, que exige que produtores rurais da Região Sudeste preservem 20% de suas áreas com mata nativa e mantenham intocadas as áreas de mata ciliar e no entorno de nascentes e mananciais, produtores do município de Holambra, na região de Campinas (SP), vêm dando uma aula de preservação e recuperação florestal.

No principal centro de comercialização de flores e plantas ornamentais do País, agricultores provam que é possível, sim, investir em reflorestamento. Conforme o engenheiro agrícola Charles José Lopes, da Casa de Agricultura de Holambra, de uma área rural de 6 mil hectares, 1.100 hectares devem ser obrigatoriamente de mata ciliar, dos quais 60% já estão reflorestados ou intocados no município.

EM DIA COM A LEI
"Daqui a 15 anos toda a área degradada deve estar recuperada", acredita o consultor Flores Welle, cuja empresa elabora projetos e faz o plantio de árvores. Considerando que produtores do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste devem, por lei, preservar 20% da propriedade com mata nativa, a iniciativa, além de trazer benefícios do ponto de vista ambiental, faz o setor produtivo ficar em dia com a legislação.
"Reflorestar é um investimento de longo prazo e, por isso, muito produtor não faz, porque quer retorno econômico imediato", diz o casal de produtores Francisco Cornelius Klein Gunnewiek e Maritha Domhof. "Quem se preocupa com a natureza, porém, sabe a importância de reflorestar. Dá um certo orgulho falar para o vizinho que estamos plantando árvores", diz Gunnewiek.

Em fevereiro, o casal reflorestou 2,5 hectares, que vão se somar a outros 2 hectares de mata do sítio de 55 hectares. Ali foram plantadas 2.500 mudas, de 100 espécies. "Começamos limpando a área, que era de pasto, na mão, fizemos a trilha onde as mudas estão plantadas, e, por fim, a área foi estaqueada." O casal recorreu a uma empresa de plantio de árvores. A empresa responsabilizou-se pela aquisição das mudas e pela marcação e espaçamento do plantio. Ao produtor, coube a manutenção do plantio - irrigação, aplicação de herbicida e limpeza da área, até as espécies maiores sombrearem o solo e inibir o crescimento do mato.

Gunnewiek diz que o que o motivou a investir no plantio de árvores foi a preocupação com a escassez de água. "Temos curvas de nível e nove sistemas de captação para evitar enxurradas. Aqui não se perde nem uma gota de água de chuva." Ele compara seu terreno a uma esponja. "Estou saturando a minha esponja para não ter problemas no futuro."

MAIS UMA NASCENTE
A comparação do produtor está certa. No solo protegido, a água se infiltra lentamente e abastece lençóis freáticos; sem proteção, o solo compacta-se, impedindo a infiltração e provocando enxurradas. Para comprovar a teoria de Gunnewiek, há cerca de 40 dias uma mina de água "estourou" na área reflorestada. "Em dez anos, outras minas vão aparecer."

O produtor de plantas ornamentais Theodoro Breg, do Sítio Kolibri, também fez um projeto para preservar a margem de um lago. "Já era uma área de preservação permanente e resolvi expandir o plantio de árvores", conta Breg, que, em 2003, reflorestou 2 hectares com 1.700 mudas, de 76 espécies. "Vale também pela estética, já que as árvores deixam a área muito mais bonita."

Gunnewiek calcula os custos do reflorestamento separadamente das despesas do sítio - o casal produz crisântemos em vaso, feno e ovos. "Vamos fechar a planilha no fim do ano, mas, até agora, o custo por muda está em R$ 10." Cada muda consome 15 litros de água, duas vezes por mês. "O custo é alto, por pelo menos dois anos, mas vale a pena."

Viveiros não atendem à demanda

Fernanda Yoneya

A produção atual de mudas e sementes não atende à demanda de áreas degradadas. Segundo dados do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef) e da Embrapa, são produzidas, por ano, 280 milhões de mudas, o equivalente a 170 mil hectares. A estimativa, porém, é a de que haja mais de 200 milhões de hectares de áreas degradadas no Brasil. "Abrir e gerenciar um viveiro no Brasil não é tarefa fácil", diz o sócio do Viveiro Agromineira, em Holambra, Flávio Antônio Xavier. O viveiro tem mais de 150 espécies de flores e árvores nativas e comercializa, por ano, 500 mil mudas e 50 quilos de sementes. A área de produção é de 6 mil metros quadrados. Cerca de 80% das mudas vendidas são para reflorestamento. "Até toda a papelada ficar pronta, com todos os registros e autorizações necessários, foram dois anos e meio", diz Xavier. "A demanda tem crescido, mas, além de todo o processo burocrático, os viveiros não têm escala de produção e espécies diversificadas para atender a quem refloresta", diz o técnico agrícola do viveiro, Emilson José Rabelo.

Sua profissão é plantar árvores
Autodidata, Flores Welle plantou a primeira semente aos 7 anos

Fernanda Yoneya, Holambra (SP)

A profissão de plantador de árvores, como ele define seu trabalho, começou cedo para o consultor Flores Welle - que traz no próprio nome o gosto por plantas. "Quando tinha sete anos, meu pai me mostrou um punhado de grãos e perguntou o que era. Respondi que era milho, mas a resposta foi negativa. ?São sementes de milho?, ele disse, me explicando que, plantadas, cada uma das sementes daria origem a uma nova planta com outras novas espigas", conta. "Foi esse ato singelo que despertou meu interesse."

A partir daí, Welle não parou mais. Autodidata, coletava sementes de todas as árvores que encontrava e plantava. Seu pai, Guilherme Welle, um dos fundadores de Holambra, era professor de botânica e identificava as espécies coletadas pelo filho. "Só de olhar, ele já sabia que árvore era. Imagina um holandês saber, de cor, nomes de espécies nativas do Brasil." Aos 12 anos, Welle plantou 100 mil mudas de ipê roxo. "Lembro que 30 mil plantas vingaram." Na época, vendeu tudo. "Também aprendi a importância de diversificar o plantio, porque muitas pessoas vinham procurar outras espécies, mas eu tinha mudas de uma espécie só."
De hobby a profissão
Antes dos 18 anos, Welle já era conhecido na região por suas mudas. Por conta própria, coletava as sementes e fazia as mudas em embalagens de óleo recicladas. "Pegava carona para recolher essas embalagens nos postos de gasolina, que jogavam tudo no lixo. Voltava para casa cheio delas."

Ele lembra também quando descobriu que sua vocação tinha virado trabalho. "Quando fui reclamar ao meu pai que não havia recebido o dinheiro por umas mudas vendidas, ele disse: ?O que você faz não é mais hobby, virou profissão?".

O plantador de árvores mora até hoje na casa onde nasceu, em Holambra. No "quintal" da casa, Welle mostra com orgulho um jequitibá-rosa, plantado por ele há 32 anos. "A semente veio de Campinas."

Hoje, Welle contabiliza projetos de reflorestamento em cerca de 30 propriedades em Holambra, além de serviços prestados em sítios em Minas Gerais e em outros municípios de São Paulo. "Mais importante do que a remuneração por esse trabalho é o comprometimento do cliente, é se ele tem amor real à causa. Meu interesse é criar laços com pessoas sérias", diz Welle, que, na falta de reconhecimento profissional para plantador de árvores, se autointitula lavrador ou agricultor.

OESP, 08/07/2009, Agrícola, p. 6-7

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