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Produções artísticas indígenas estimulam protagonismos, mas requerem políticas públicas

Jornal da USP - https://jornal.usp.br/diversidade
17 de Abr de 2023

Produções artísticas indígenas estimulam protagonismos, mas requerem políticas públicas
Encontro na USP pretende compreender os desafios contemporâneos das políticas culturais indígenas e as produções artísticas de grupos originários como garantia de visibilidade e direitos

Publicado: 17/04/2023
Por Camilly Rosaboni

Não me Chame de Índio é o evento organizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP que reunirá, nesta terça-feira, 18 de abril, produtores artísticos, pesquisadores e líderes indígenas para refletir sobre o desenvolvimento de projetos culturais e artísticos entre os povos originários. Produzido pelo eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos da USP, o encontro acontece das 14h30 às 17h30, presencialmente no IEA, e com transmissão ao vivo pelo link. Para participar, não é necessário se inscrever.

Como expositores, participam do encontro Daiara Tukano, artista, ativista, educadora e comunicadora indígena, do povo indígena Tukano; Pedro de Niemeyer Cezarino, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA) da USP; Pedro Lôbo dos Santos, professor indígena da etnia Potiguara na Educação Básica e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Popular, Serviço Social e Movimentos Sociais, da UFPB; além de Ara Mirim, líder indígena Guarani, do Museu das Culturas Indígenas.

"Nosso interesse é gerar discussões sobre como o campo da cultura, a partir de suas especificidades, tem colaborado na definição de protagonismos em instâncias de participação política", conta Victor Hugo Neves de Oliveira, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e bolsista no Eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos.

De acordo com os organizadores, as reflexões dos participantes se baseiam nos questionamentos: há cura para o que dura? E é possível inspirar e transformar um mundo que não respeita nosso chão?. "Acreditamos que a partir dessas provocações, cada participante poderá compartilhar e conjecturar teorias e práticas a partir de suas próprias experiências e sabenças*", conta Victor Hugo.

De acordo com o Grupo de Pesquisa Fórum Permanente: Sistema Cultural entre o Público e o Privado, discutir sobre políticas culturais indígenas expressa tanto um modo de ampliar a emergência dos povos originários como atores sociais na esfera pública, quanto uma possibilidade de estimular o entendimento da dimensão cultural como arena de luta. "Nosso interesse é compreender quais os desafios contemporâneos das políticas culturais indígenas e como a produção artística dos povos originários tem contribuído no agenciamento de políticas e na garantia de visibilidade e direitos", afirmam os organizadores.

Protagonismo indígena
"A criação de equipamentos culturais como escolas ou museus indígenas, a produção de espaços de visitação nas aldeias e a realização de torés [rituais que unem dança e religião] e grafismos corporais têm consolidado maior visibilidade pública para as demandas dos povos originários e, ao mesmo tempo, fomentado reflexões sobre a importância de valorizarmos as maneiras por meio das quais os povos indígenas organizam e articulam suas próprias formas de conhecimento", afirma Victor Hugo.

"Nós buscamos justamente trazer pessoas que estejam tanto no campo artístico, quanto pessoas que estão nas instituições e refletem teoricamente sobre questões ligadas à arte e à cultura, dialogando sobre políticas públicas que são fundamentais na contemporaneidade", afirma Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e supervisora do Eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos.

Dia dos Povos Indígenas
O tradicional Dia do Índio, celebrado dia 19 de abril, foi oficialmente substituído pelo Dia dos Povos Indígenas, conforme a Lei 14.402, de 2022. A mudança do nome se deu em respeito à diversidade das culturas indígenas e grupos originários. Apesar disso, as tratativas de índio e indígena, para se referir a grupos nativos, ainda costumam gerar dúvidas na população.

A expressão Não me Chame de Índio que consta na abordagem temática do evento do IEA faz referência a um dos versos do poema Índio eu não sou, de Márcia Wayna Kambeba, poeta e geógrafa pertencente à etnia Omágua/Kambeba. "O poema alerta para o perigo do uso da categoria índio por considerá-la não apenas uma apologia à colonização, mas também um processo de apagamento da diversidade cultural, política, social e histórica das populações originárias", explica Victor Hugo. O poema pode ser lido neste link.

"O termo índio tem sido indicado pelos povos indígenas como um termo genérico, de caráter colonial, que consolida e expressa violências históricas de dominação e genocídio. A escolha por esse título se deu a partir de um desejo de desenhar geografias artísticas e afetivas sobre o tema", conta Victor Hugo.

O Boletim Sirad Isolados, do Instituto Socioambiental (ISA), identificou que, entre março e abril de 2022, 133 hectares foram desmatados no interior das terras indígenas monitoradas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o que equivale a aproximadamente 133 campos de futebol. Além disso, o levantamento observou o roubo de madeira e a abertura de garimpos ilegais nas terras desmatadas.

"Propor subsídios para políticas públicas requer conhecimento, como também uma sensibilidade territorial que leve em conta a complexidade, diversidade, pluralidade cultural deste país", afirma Martin Grossmann, professor da ECA e um dos coordenadores do Eixo Cultura e Artes do Programa Eixos Temáticos da Reitoria da USP. "Esse assunto ser tratado no contexto do programa mostra que estamos sintonizados não só com a situação emergencial na qual se encontram diferentes etnias como os Yanomamis, mas também pensando na situação de indígenas nas grandes cidades do Brasil, como em São Paulo, vivendo em situação de pobreza extrema", complementa.

Serviço:

"Não me Chame de Índio": Reflexões Sobre o Desenvolvimento de Projetos Culturais e Artísticos Entre os Povos Originários

Dia 18 de abril, das 14h30 às 17h30

Presencialmente na Sala Alfredo Bosi, no endereço: Rua da Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária, São Paulo; com transmissão ao vivo pelo link.

*Sabenças: neologismo de pesquisadores negros e negras de saberes que atravessam o corpo pela experiência abençoada da vida.

Mais informações: clauregi@usp.br

https://jornal.usp.br/diversidade/producoes-artisticas-indigenas-estimu…

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