FSP, Mercado, p. B14
03 de Dez de 2011
Procurador orienta índios contra usina
Vídeo mostra Felício Pontes, do MPF do Pará, sugerindo etnia Xikrin a cobrar mais dinheiro de Belo Monte
Série de imagens sobre encontro foi postada na web e depois retirada; procurador se diz 'advogado dos índios'
Agnaldo Brito
De São Paulo
Numa série de seis vídeos gravados em aldeias da etnia Xikrin, da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará, o procurador da República Felício Pontes orienta os índios a exigir mais dinheiro da Norte Energia, empresa responsável pela construção da usina de Belo Monte.
Pontes é o procurador que mais combate o projeto. Ele participa das 13 ações contra Belo Monte que tramitam na Justiça paraense.
O vídeo, captado e produzido pela jornalista Rebecca Sommer, foi gravado entre os dias 13 e 14 de outubro, numa das aldeias da terra indígena Tricheira Bacajá, no Xingu.
O material chegou a ser disponibilizado por quatro dias (de 17 a 21 de novembro) no YouTube. A Folha apurou que o material foi sacado da web após pedido do Ministério Público Federal do Pará.
O procurador admitiu à reportagem que pediu a retirada dos vídeos e alegou que o fez em razão de a jornalista não ter autorização para divulgação. Mesmo assim, disse que tinha conhecimento da produção do filme. A equipe de filmagem pernoitou na aldeia com o procurador.
Pontes diz em vários trechos da gravação que a Terra Indígena deve "lutar contra a barragem", mas, caso não seja possível interromper a construção da usina, os indígenas devem se articular e exigir mais dinheiro para compensar impactos ambientais e minimizar os efeitos que o projeto terá sobre o modo de vida da etnia.
"A decisão é parar Belo Monte, mas, se não conseguir, eles têm de pagar vocês por todos os danos que vão causar a comunidade Xikrin. Essa é a decisão [sic]", diz num trecho do vídeo.
PEIXE
"Vão pagar R$ 30 mil e ficar com o rio Bacajá, porque não irá ter peixe nele [após a obra de Belo Monte]. É suficiente R$ 30 mil para tirar o rio, para comprar o rio da gente? [sic]", questiona.
Para o Ministério Público Federal, a mobilização dos Xikrin abre nova frente de embate contra o projeto. Oficialmente, o rio Bacajá (afluente da margem direita do Xingu) não será afetado pela construção da barragem ou pela redução da vazão.
O Ministério Público diz que a região será impactada, mas ainda aguarda estudos sobre o comportamento do rio para embasar uma nova ação contra o projeto, a 14ª.
A alegação é a de que a diminuição da vazão do Xingu na região da Volta Grande vai também reduzir o nível do rio Bacajá, o que trará problemas para a subida dos peixes para a desova (piracema), além de impossibilitar a navegação. As aldeias Xikrin não possuem acesso por terra. O procurador defende, como compensação, a construção de uma estrada que ligue a aldeia à Transamazônica.
A cidade-base para esses indígenas é Altamira. Além de avião, só de barco é possível alcançar a cidade. De voadeira (pequena embarcação), a viagem entre a aldeia e Altamira pode durar mais de dez horas -na cheia do rio- ou até quatro dias -quando o rio está baixo.
ADVOGADO DOS ÍNDIOS
O procurador diz ser o "advogado dos índios" e afirma ser sua missão é alertar os indígenas contra danos do projeto. A reportagem tentou ouvir a Norte Energia sobre o encontro entre o MPF e os indígenas, mas não obteve retorno. A Funai disse que o procurador tem autonomia para visitar as aldeias.
FOLHA.com
Veja o vídeo do procurador
www.folha.com/no1015798
Frase
"A decisão é parar Belo Monte, mas, se não conseguir, eles têm de pagar vocês por todos os danos que vão causar à comunidade Xikrin. Essa é a decisão (sic)"
FELÍCIO PONTES
procurador da República, em um dos vídeos gravados em aldeias da etnia Xikrin
Vídeos provocam guerra de números sobre a usina de Belo Monte
De São Paulo
O Movimento Gota D'Água, responsável pela produção do vídeo com atores globais contrários à hidrelétrica de Belo Monte, gerou uma batalha virtual de números reais e irreais sobre o maior projeto do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A despeito do atraso da discussão, que ganhou relevo apenas depois do início da construção, a série de vídeos que agora borbulha na internet informa e desinforma.
O vídeo produzido pelo Movimento Gota D'Água já recebeu mais de 885 mil visualizações. Mas esse material não é o único a ganhar destaque recentemente na web.
O primeiro é o "Tempestade em Copo D'Água", produzido por alunos do curso de engenharia civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A produção, que reproduz a narrativa do vídeo dos atores globais, já registrou audiência de 339,2 mil pessoas.
O segundo vídeo com grande procura no YouTube é o "Alguns Números sobre Belo Monte". Com outra estratégia narrativa, o material busca dar argumentos técnicos em favor do empreendimento. O material já foi visto por 62,5 mil pessoas.
A discussão sobre o empreendimento neste momento pode influenciar pouco o arranjo do projeto negociado com o Ibama e o governo. A usina, leiloada em abril de 2010, terá de começar a gerar energia em fevereiro de 2015.
Por contrato, a Nesa (Norte Energia S.A.) será punida com multas caso não cumpra essa exigência.
Projetos com dimensões equivalentes à da hidrelétrica de Belo Monte estão em fase bem mais inicial e não são alvos de tamanha discussão.
O maior é o complexo hidrelétrico do rio Tapajós, uma série de cinco barragens que totalizarão potência instalada de mais de 12 mil MW, maior que a usina do Xingu. O governo quer levar o projeto a leilão em 2012 e ainda deve passar por audiência pública no Pará e em Mato Grosso.
(AB)
FSP, 03/12/2011, Mercado, p. B14
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/12619-procurador-orienta-indio…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/12621-videos-provocam-guerra-d…
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