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Procurador abre inquérito na PF contra ação de fazendeiros

A Tarde-Salvador-BA
25 de Out de 2001

O procurador da República, em Ilhéus, Márcio Torres,
pediu, ontem, a abertura de inquérito na Polícia Federal (PF), para apurar a violenta reação de
fazendeiros contra as ocupações que os pataxós hã-hã-hãe promoveram entre os dias 18 e 22
passados. Ontem pela manhã, o procurador se reuniu com as lideranças indígenas, que
acusaram o prefeito, o vice-prefeito e o delegado do município de Itaju do Colônia, além dos
fazendeiros conhecidos como Josino e Tomás Vicente, de estarem entre os homens armados
que na tarde de anteontem expulsaram a tiros os índios que ocupavam a Fazenda Boa Vista,
na região de Mundo Novo.
As lideranças acusaram ainda o ex-prefeito de Pau Brasil, Durval Santana, de incendiar quatro
casas na Fazenda Letícia, na região de Ourinhos. Márcio Torres, que também teve um
encontro com a procuradora da Funai, Ana Maria Carvalho, e com o administrador regional do
órgão em Eunápolis, Arival Parente, solicitou a presença de agentes da PF, para evitar mais
conflitos na área, onde é grande o número de pistoleiros armados a serviço de fazendeiros.
Cerca de 30 policiais militares também faziam barreiras na entrada da cidade e nas estradas
de acesso às fazendas ocupadas.
Segundo o ex-cacique Wilson de Souza, que comandava a ocupação na Fazenda Boa Vista,
os índios foram surpreendidos por 40 homens encapuzados e vestindo capas pretas, que
promoveram um clima de terror, abrindo fogo contra seu pessoal, incluindo mulheres e três
bebês, que correram para o mato. Seis índios que estavam sumidos reapareceram hoje de
manhã. Na fazenda, de cerca de 600 hectares, ontem só havia cinco trabalhadores, mas há
informações de que os pistoleiros estavam escondidos e havia muitas armas em um curral.
O administrador da Boa Vista, Rogério Santos, confirmou o tiroteio para intimidar os índios que
estavam promovendo desordens. "Eles arrombaram a porta de uma casa, roubaram facões e
iam jogar nossos pertences na estrada, quando começou o tiroteio", disse ele, preocupado
com a presença de agentes da PF na área.
Homens armadosNa Fazenda Letícia, Nizan Tenisi, genro do ex-prefeito Durval Santana, disse que o clima está
difícil na área. Ontem, ele guardava a propriedade com um grupo de homens armados. Tenisi
acusou os índios de invadir duas das cinco fazendas que o sogro tem na área da reserva
Caramuru-Paraguaçu e de queimar quatro casas, para os trabalhadores não voltarem ao local.
"Nossas fazendas são tituladas, com impostos pagos e onde criamos oito mil reses, que não
vamos entregar de graça para esses desocupados", afirmou.
Hoje as lideranças pataxós vão se reunir para apreciar a proposta dos fazendeiros de
permanecerem nas terras, até que o grupo técnico da Funai faça o levantamento das
benfeitorias e se inicie o pagamento das indenizações. Ontem, durante a reunião com as
lideranças, o procurador Márcio Torres aconselhou os índios a evitar novas ocupações e a
aceitar permanecer nas propriedades junto com os fazendeiros e suas famílias, para não
agravar a tensão social em Pau Brasil.
A procuradora Ana Carvalho afirmou que a Funai tem R$ 5 milhões para pagar indenizações e
disse que parte desse dinheiro será remanejada para solucionar as questões em Pau Brasil.
Disse ainda que vai tentar pagar as indenizações também aos fazendeiros com problemas de
penhor com o Banco do Brasil. Ela pediu bom senso aos pataxós, que haviam prometido não
ocupar mais terras, sem comunicar à direção da Funai, e afirmou que o grupo técnico começa
a trabalhar nos próximos dias.

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