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Procura-se um bom motivo para comemorar

O Globo, Eco Verde, p. 29
Autor: VIEIRA, Agostinho
02 de Mai de 2011

Procura-se um bom motivo para comemorar

Agostinho Vieira

Não precisa ser uma grande conquista, basta ser relevante. Pode estar em qualquer lugar do mundo, mas é importante que faça alguma diferença. Não vale juntar meia dúzia de prefeitos para plantar duas dezenas de árvores, numa das cidades mais poluídas do planeta. Isso beira o ridículo. Procura-se um motivo realmente bom para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, que, há quase 40 anos, acontece no dia 5 de junho.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, nunca, na história da humanidade, foi lançado tanto dióxido de carbono na atmosfera como em 2010. Foram 30,6 bilhões de toneladas de CO2. E esse dado não é completo: ele trata só das emissões provocadas por combustíveis fósseis, como carvão, óleo e gás. Se considerarmos os desmatamentos, a pecuária e o lixo, entre outros, são mais de 40 bilhões de toneladas.
Com isso, as chances de que a temperatura média mundial suba mais de dois graus Celsius passam de 50%. O que, entre outras coisas, condena à morte quase todos os países insulares do Pacífico. A decisão alemã de fechar as usinas nucleares até 2022 também não dá para ser celebrada.
Em primeiro lugar, por conta do forte cheiro de demagogia e, depois, porque ela acabará usando energia térmica a carvão ou a gás, o que aumentará ainda mais as emissões de CO2. Aliás, para complicar um pouco, nos próximos anos, China e Índia vão dobrar o consumo de carvão em suas usinas.
No Brasil, seguimos desmatando como sempre e matando ambientalistas como nunca. Agora, com a certeza de que eles não serão protegidos. O Código Florestal começa a ser discutido no Senado e deve sair de lá quase tão ruim quanto entrou. Para tornar completa a festa ambiental, vamos começar as obras de Belo Monte sem ter certeza de que as condicionantes que protegeriam o Xingu e a floresta foram cumpridas.

O Globo, 02/06/2011, Eco Verde, p. 29

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