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Procura-se professor que fale guarani

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: SILVANA CASTRO
05 de Mai de 2005

O último concurso para o magistério estadual revelou a falta de interessados em lecionar para pequenos índios

De língua mais falada nos séculos 17 e 18 em parte do Rio Grande do Sul, o guarani se restringe hoje aos povoados indígenas espalhados pelo Estado. No último concurso para o magistério estadual, ninguém se inscreveu para o cargo que exigia conhecimento de guarani.

Para concorrer à vaga de professor de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental para Séries Finais, era preciso ter curso superior em licenciatura e noção de guarani. Esse foi o único cargo para o qual não houve prova. O Estado vai ter de recorrer a um banco de contratos para permitir que as crianças indígenas da 5ª à 8ª série continuem usando sua própria linguagem em aula.

- Com o contrato, as exigências são outras. O professor poderá estar cursando o 4o semestre da faculdade - diz a presidente da comissão do concurso da Secretaria Estadual da Educação, Cleci Jurach.

Segundo ela, ainda não há inscritos para a área em questão. Também não há no Rio Grande do Sul nenhum guarani com curso superior, ao contrário do que já ocorre com caingangues. O professor contratado passaria a atuar no ano que vem em escolas específicas para as comunidades guaranis. Após concluir a 4ª série nos colégios das aldeias, as crianças são integradas à rede pública com os demais alunos.

Além de a população ser reduzida - são cerca de mil no Estado -, os índios guaranis resistem à educação formal por temer a dissolução da cultura.

- Até 10 anos atrás, os guaranis não aceitavam a escola - comenta o indigenista da Fundação Nacional do Índio Francisco Witt.

Apesar de ser uma das três línguas do Mercosul, o guarani não é ensinado aos não-índios. Não há escola de língua indígena no Estado, conforme Witt. Quem tem conhecimentos da linguagem são os que convivem com os índios ou um autodidata.

O idioma era falado em parte do Rio Grande do Sul, da Argentina e do Paraguai na época das Reduções Jesuíticas. Com o fim das Missões e a morte dos indígenas, a língua ficou restrita, de acordo com o professor de História da Universidade Regional Integrada (URI) em Santo Ângelo, Antônio Ramos.

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