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As principais bacias fluviais têm água suficiente para duplicar a produção sustentável de alimentos nas próximas décadas

Fórum Amazônia - http://www.forumamazoniasustentavel.org.br
26 de Set de 2011

Apesar de os conflitos relacionados com a água e escassez da mesma abundarem nas sociedades em rápida mudança de África, Ásia e América Latina, existe, claramente, água suficiente para responder às necessidades alimentares, energéticas, industriais e ambientais, durante o século XXI, de acordo com dois numeros especiais da revista, alvo de arbitragem científica, Water International (Volume 35, Numero 5 e Volume 36, Numero 1), lançada hoje no XIV Congresso Mundial da Água.

O relatório do Challenge Program on Water and Food (CPWF) do Grupo Consultivo para a Investigação Agrícola Internacional (Consultative Group on International Agricultural Research, CGIAR, pelas suas siglas em inglês) afirma que o "gigante adormecido" dos desafios hídricos não é a escassez, mas a utilização ineficiente e distribuição injusta das quantidades enormes de água que fluem dos "celeiros" das principais bacias fluviais, como dos rios Nilo, Ganges, Andes, Amarelo, Níger e Volta.

"A escassez de água não está a afectar a nossa capacidade de produção alimentar actual," disse Alain Vidal, diretor do CPWF. "Sim, há escassez em certas áreas, mas as nossas conclusões mostram que o problema é, acima de tudo, a incapacidade de fazer uma eficiente e justa utilização da água disponível nestas bacias fluviais. Isto é, em última análise, um desafio político, não uma preocupação em termos de recursos."

"Há enormes volumes de água pluvial que se perdem ou nunca são utilizados," acrescentou, "particularmente nas regiões secas da África Subsariana. Através de melhorias modestas, podemos produzir duas ou três vezes mais alimentos do que aqueles que produzimos hoje em dia.

Apesar de África possuir maior potencial de aumento da produção alimentar, os investigadores identificaram grandes áreas de solos cultiváveis na Ásia e na América Latina onde a produção se encontra, pelo menos, 10 por cento abaixo do seu potencial. Por exemplo, no rio Indo e no rio Ganges, os investigadores concluíram que 23 por cento dos sistemas de produção de arroz se encontram a produzir apenas cerca de metade daquilo que poderiam produzir de forma sustentável.

A análise - que envolveu cinco anos de investigação de cientistas de 30 países diferentes - corresponde ao esforço mais global, até à data, para avaliar como, ao longo de várias regiões, as sociedades humanas estão a lidar com a crescente necessidade de água para alimentar culturas e pastagens, gerar electricidade, saciar a sede dos centros urbanos em rápido crescimento e sustentar o nosso ambiente. As conclusões traçam, também, um quadro do papel cada vez mais político da gestão da água, em termos da resolução destas necessidades concorrentes, especialmente na forma como se lida com o problema mais urgente que a humanidade enfrenta actualmente: duplicar a produção alimentar no mundo em desenvolvimento para alimentar uma população em crescimento que, globalmente, se espera que aumente de sete para 9,5 mil milhões de pessoas, até 2050.

As 10 bacias fluviais estudadas incluem: os Andes e São Francisco, na América do Sul, as bacias dos rios Limpopo, Níger, Nilo e Volta, em África; e os rios Indo-Ganges, Karkheh, Mekong e Amarelo, na Ásia. As bacias - distintas e gigantescas áreas geográficas definidas por fluxos de água vindos de terrenos elevados para riachos que alimentam sistemas fluviais principais - cobrem 13,5 milhões de quilómetros quadrados e acolhem cerca de 1,5 mil milhões de pessoas, estando 470 milhões delas entre as mais pobres do mundo.

De acordo com Vidal, as 10 bacias foram escolhidas para o estudo porque incorporam todos os desafios relacionados com a água do mundo em desenvolvimento. A investigação examina o papel da política e governação em relação à gestão dos recursos hídricos, no modo como estes reduzem a pobreza e melhoram os níveis de vida para o maior número possível de pessoas.

"A conclusão mais surpreendente é que, apesar de todas as pressões que as nossas bacias enfrentem hoje em dia, existem oportunidades relativamente simples para se satisfazerem as nossas necessidades de desenvolvimento e para aliviar a pobreza de milhões de pessoas sem esgotar o nosso recurso natural mais precioso," afirmou o Dr. Simon Cook, do Centro Internacional de Agricultura Tropical (International Center for Tropical Agriculture, CIAT pelas suas siglas em inglês), e líder do Basin Focal Research Project (BFRP) do CPWF.

Por exemplo, Cook e os seus colegas concluíram que se os doadores e os ministérios governamentais colocassem mais ênfase no apoio à agricultura irrigada pela chuva, a produção alimentar poderia aumentar significativa e rapidamente. Em África, verificou-se que a maior parte das terras de cultivo é irrigada pela chuva e os investigadores concluíram que apenas cerca de quatro por cento da água disponível é capturado para as culturas e pecuária.

"Havendo um grande impulso para intensificar a agricultura irrigada pela chuva, poderíamos alimentar o mundo sem aumentar a pressão sobre os sistemas das bacias fluviais," disse Cook.

Os autores também observaram que o aumento da produção alimentar nas bacias estudadas requer que se olhe para além das culturas, de modo a se terem em conta utilizações mais eficientes da água, para aumentar as operações de pecuária e pesca. As políticas hídricas ignoram muitas vezes o papel que a pecuária e a pesca desempenham nos meios de subsistência e dietas locais. Por exemplo, os investigadores observaram que, na bacia do rio Níger, a pesca de água doce sustenta 900.000 pessoas, enquanto 40 milhões de pessoas da bacia do rio de Mekong dependem da pesca durante, pelo menos, uma parte do ano. No Nilo, os investigadores notaram que quase metade da água da bacia flui através de sistemas pecuários.

"A perspectiva da bacia é crucial para que se avaliem os impactos a montante e a jusante das políticas de afectação de água, e para que se determinem as oportunidades para optimizar a soma dos benefícios entre muitos moradores," afirmou Dennis Wichelns, Director-Geral Adjunto do Instituto Internacional de Gestão da Água (International Water Management Institute, IWMI, pelas suas siglas em inglês), que foi um importante parceiro desta investigação.

Os investigadores contrastam a fraca utilização dos recursos hídricos das bacias fluviais, observada em muitas áreas - às quais estes se referem como "áreas mortas" para o desenvolvimento agrícola - com "áreas vivas" em termos de eficiência hídrica. Afirmaram que as áreas vivas podem ser encontradas nas grandes áreas das bacias dos rios Ganges, Nilo e Amarelo, onde os agricultores e governos responderam aos desafios de desenvolvimento, ao melhorarem enormemente a quantidade de alimentos produzidos a partir da água disponível. Também destacam "áreas críticas" - que podem ser encontradas nas bacias dos rios Indo, Amarelo, Nilo e Limpopo - onde existe crescente preocupação e conflitos quanto à partilha dos recursos hídricos e à obtenção de um consenso acerca das abordagens de desenvolvimento.

Confrontar a "Fragmentação Completa" da Gestão da Água

Cook e os seus colegas avisam que, apesar de, a nível global, existir água suficiente para sustentar o desenvolvimento humano e as necessidades ambientais, os conflitos relacionados com a água irão continuar se problemas particulares, como a segurança alimentar e a produção energética, forem tidos em conta separadamente. Cook observou que, na maior parte das áreas, existe uma "fragmentação completa do modo como as bacias fluviais são geridas pelos diversos actores e mesmo por países onde as necessidades hídricas de diferentes sectores - agricultura, indústria, ambiente e exploração mineira - são tidas em conta separadamente, e não como inter-relacionadas e interdependentes.

"Em muitos casos, precisamos de repensar por completo a forma como os ministérios governamentais tiram vantagem dos diversos benefícios vindos das bacias fluviais, em vez de nos concentrarmos num sector único, como a produção hidroeléctrica, irrigação ou indústria," afirmaram os autores.

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