VOLTAR

Prevenção contra a seca não pode esperar mais

O Globo, Opinião, p. 16
18 de Jan de 2015

Prevenção contra a seca não pode esperar mais
Já passou da hora de reagir à altura. A escassez de água se arrasta desde o verão de 2013, e o calendário eleitoral só contribuiu para agravar omissão de governos

O gesto foi simbólico e, dificilmente, será a solução a curto e médio prazos. Mas, ao beber água potável produzida a partir de excremento humano, Bill Gates chamou a atenção para a ameaça da seca, drama que o eufemismo "crise hídrica" não ameniza. Torneiras secas sob sol escaldante representam um transtorno - acompanhado de justa indignação - para o consumidor doméstico, falta de insumo para a indústria e, no momento em que o país anda para os lados, mais um entrave ao crescimento. A agropecuária, tão dependente de irrigação, é hoje o setor mais dinâmico da economia e de grande peso nas exportações.
Além disso, o problema atinge o Sudeste, especialmente São Paulo e adjacências, onde se concentra boa parte do PIB. E o desabastecimento ainda prejudica a geração de energia. Ou seja, é mazela para todos e com perspectivas sombrias sob diversos pontos de vista.
Já passou da hora de reagir à altura. A escassez de água se arrasta desde o verão de 2013, e o calendário eleitoral só contribuiu para agravar a omissão do poder público. Tanto o governo federal quanto o de São Paulo não quiseram tocar no assunto na campanha. Mas não adiantou fugir do inevitável. Semana passada, depois de o governador Geraldo Alckmin, finalmente, admitir que já há racionamento, o governo paulista revelou que estuda a implantação de rodízio de abastecimento entre as cidades da região metropolitana da capital. Uma medida impopular, da qual não estão livres outros governantes que continuarem achando que só resta rezar para chover.
Ação de marketing ou não, o gesto de Bill Gates indica que, na guerra contra a seca - fenômeno mundial, derivado de alterações climáticas -, nenhuma alternativa pode ser dispensada e todos devem colaborar. E parte da sociedade já entendeu melhor isso do que os governantes. Deixando para trás a ilusão de que somos um país de águas abundantes, ONGs, ambientalistas e mesmo pessoas sem vinculação formal a instituição ou causa alguma atuam em projetos de preservação de rios e seus afluentes, aumentando a oferta para consumo humano, conforme acontece com o Tietê em alguns municípios paulistas. Igualmente bem-vindas são as iniciativas de captação de água da chuva, reutilização de esgoto e limpeza de córregos. Conforme declarou ao GLOBO o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos, semana passada, agora que não temos abundância, precisamos procurar novas tecnologias, como programas de dessalinização e reuso.
Mas a responsabilidade final, mas não única, sobre algo tão grave é dos governantes. Cabe ao Estado a adoção - efetiva -e a coordenação de uma política ambiental, de saneamento, de combate ao desperdício e de tudo mais que for preciso para que, finalmente, a questão entre na agenda brasileira. Organismos da sociedade que já se mobilizam nesta direção também precisam contar com o poder público.

O Globo, 18/01/2015, Opinião, p. 16

http://oglobo.globo.com/opiniao/prevencao-contra-seca-nao-pode-esperar-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.