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Presidente de federação indígena elogia adoção de três idiomas por município do Amazonas

Radiobrás
Autor: Thaís Brianezi
11 de Nov de 2006

O diretor-presidente da Foirn - Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro, Domingos Barretos, elogia a adoção de três línguas indígenas como idiomas co-oficiais em município do Amazonas.

Quando a gente viaja para fora do país, precisa aprender outras línguas. Quem não for indígena e vier para cá, terá que aprender nosso idioma para se comunicar com a gente”, comentou, em entrevista à Radiobrás.

O prefeito de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Juscelino Gonçalves, assinou nesta sexta-feira (10) o decreto que regulamenta o reconhecimento de Tukano, Baniwa e Nheengatu como línguas oficiais do município, ao lado do português. É a primeira vez no Brasil que idiomas indígenas são considerados co-oficiais – a Constituição Federal estabelece que o português é o idioma oficial do país.

Para Barretos, o fundamental é fazer o controle social da nova legislação e desenvolver ações de educação e capacitação: Queremos construir com as instituições públicas um programa de trabalho para aplicar a lei, oferecendo curso de formação para os servidores entenderem a importância dessas línguas”.

A Lei 145/2002 surgiu de uma iniciativa da Foirn, uma articulação que reúne 660 entidades indígenas de 22 povos. O projeto de lei que lhe deu origem é de autoria do vereador indígena Camico Baniwa e foi elaborado em parceria com o Ipol - Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística. O decreto de regulamentação começou a ser esboçado em abril deste ano, em um grande seminário organizado pelas lideranças indígenas.

Em 1987, quando a Foirn foi criada, falar português era sinal de superioridade. Foi nossa política de valorização da cultura e da tradição que afastou esses idiomas do risco de extinção”, ressaltou Barretos. Segundo ele, a demanda pela co-oficialização das três línguas indígenas mais faladas no município veio do movimento de professores indígenas em 1998, ano em que foi criado o primeiro magistério indígena em São Gabriel da Cachoeira.

De acordo com Barretos, pelo menos 5 mil indígenas têm o Baniwa como idioma principal; 4 mil, o Tukano; e 3 mil, o Nheengatu. Ele observou, no entanto, que o número de falantes dos três idiomas é bem maior e difícil de estimar, porque é comum os indígenas da região aprenderem línguas de outros povos.

Apesar de ser hoje considerado língua materna por diversos povos indígenas que habitam a Amazônia, como os Baré, em São Gabriel da Cachoeira, as origens do Nheengatu estão no processo de catequização. O Nheengatu surgiu a partir do Tupi e foi introduzido pelos jesuítas na região. Muitos povos que perderam sua língua original durante o processo de colonização adotaram o Nheengatu como língua principal.

São Gabriel da Cachoeira é o município brasileiro com maior porcentagem de população indígena: 73,31% dos 29,9 mil habitantes, segundo dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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