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Prejuízos do agronegócio com a seca e as chuvas já somam R$ 10 bilhões

OESP, Economia, p. B1, B3
02 de Mar de 2014

Prejuízos do agronegócio com a seca e as chuvas já somam R$ 10 bilhões
Forte seca na região Centro-Sul e excesso de chuvas no Centro-Oeste afetaram agricultura, pecuária, provocam perdas e pressionam a inflação

Alexa Salomão e Márcia de Chiara - O Estado de S. Paulo

A forte seca que castiga o Centro-Sul e o excesso de chuvas no Centro-Oeste do País já tiraram cerca de R$ 10 bilhões de receita do agronegócio em 2014, segundo cálculos feitos por analistas. Soja, milho, café, cana, laranja, pecuária de corte e de leite registram queda na produtividade e alta nos preços - o que pode ter impacto na inflação.
A soja, que está em plena época de colheita, resume a grande confusão que o clima provocou no campo. No Centro-Sul, a lavoura penou com o sol escaldante, a falta de chuva e as altas temperaturas. Em Mato Grosso, o maior Estado produtor, é o excesso de chuvas que impede a colheita, afeta a qualidade do grão e agrava os problemas logísticos. O preço da soja voltou no mês passado ao patamar de US$ 14 por bushel na Bolsa de Chicago, revertendo as expectativas de queda que existiam por causa da entrada da supersafra brasileira no mercado.
No Paraná, o segundo maior produtor, já se sabe que com a seca houve queda média de 13% na produtividade. Dos 16,5 milhões de toneladas previstas, pouco mais de 2 milhões já se perderam. Pelas estimativas da Secretaria Estadual de Agricultura, haverá redução de R$ 2,2 bilhões na receita.
"Mais do que a estiagem em si, o grande problema foi o calor que prejudicou a formação das vagens", diz Francisco Carlos Simioni, chefe do Departamento de Economia Rural.
Chuva. Em Mato Grosso, a soja está pronta para a colheita, mas o excesso de umidade deixa o grão encharcado e a semente apodrece no pé, diz o diretor executivo da Federação da Agricultura de Mato Grosso, Seneri Paludo. Nos últimos dez dias choveu no município de Sinop, por exemplo, 225,9 milímetros, praticamente o dobro da média histórica para o período, aponta um levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Para reduzir a umidade é necessário mais tempo no secador e com isso se gasta mais energia. "Tudo é custo de produção e isso impacta na remuneração do produtor", diz Paludo. Diante desse quadro climático, ele diz que o produtor de soja de Mato Grosso não tem opção: ou perde a lavoura no campo ou tem um custo maior.
A estimativa inicial era de que Mato Grosso iria colher neste ano 26,9 milhões de toneladas, uma safra recorde. O levantamento do Imea mostra que, até a terceira semana de fevereiro, cerca de 500 mil hectares deixaram de ser colhidos no tempo ideal, o que pode representar perda de meio milhão de toneladas na produção e prejuízos diretos de R$ 400 milhões. "A preocupação maior é com as áreas atingidas pela seca do que pelas chuvas", diz o secretário executivo da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Fabio Trigueirinho.
Dados do Boletim Oil World, publicação que é referência no setor, indicam quebra de 4,5 milhões de toneladas na safra brasileira de soja. Isso significa menos R$ 5,4 bilhões de receita.
A dobradinha "chuva no Centro-Oeste e calor no Centro-Sul" também afeta a produção de milho. Uma parte da colheita de milho no verão foi afetada. A perda não é homogênea e varia de região para região. No Paraná, o maior produtor de milho, cerca de um terço da colheita já foi concluída e a estimativa é que as perdas não sejam expressivas. Em Minas Gerais, cerca de 21% da produção está comprometida. A consultoria Safras & Mercado estima que ao todo 12 milhões de toneladas de milho vão se perder, o que subtrairia cerca de R$ 400 milhões da receita do agronegócio.
Mas o desarranjo climático ainda pode comprometer o plantio da chamada safrinha - safra de milho cultivada no inverno que, apesar do nome, corresponde à maior parcela do que o Brasil produz de milho anualmente - cerca de 60% do total colhido.
No Paraná e em São Paulo, a semente encontra um solo com baixa umidade. Se não chover, a planta não vai se desenvolver adequadamente. No Centro-Oeste, o excesso de chuva, quando alguns produtores ainda colhem soja, tende a atrapalhar a entrada das máquinas para o plantio do milho. "Esta semana será decisiva para o plantio da safrinha", diz Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado.

No Paraná, perdas na soja chegam a 80%
Por causa das altas temperaturas, alguns grãos cozinharam antes que pudessem ser colhidos

Fábio Cavazotti - Especial para o Estado

Tradicional região produtora de soja na safra de verão, o norte do Paraná amargou perdas que variam de 35% a 80% por causa da estiagem de 45 dias, acompanhada de altíssimas temperaturas. Uma das áreas mais atingidas foi o chamado norte pioneiro, na divisa com São Paulo. Muitas lavouras literalmente queimaram com o calor. Nem a chuva que veio depois conseguiu salvar as plantações. Os caules das plantas já haviam secado, impedindo que a umidade irrigasse os grãos, que também secaram dentro das vagens antes da colheita.
Na Fazenda Boa Esperança, propriedade com 150 alqueires, localizada no limite entre os municípios de Santa Mariana e Cornélio Procópio, as perdas são enormes. Nas áreas já colhidas, o resultado gira em torno de 20 sacas (de 60 kg) por alqueire, resultado catastrófico em comparação com as 120 sacas por alqueire do ano passado. Nessa região já se chegou a colher 160 sacas por alqueire.
"Foi quase tudo queimado pelo calor. Nos piores dias, a temperatura passou dos 50"C na terra. A planta cozinhou no pé", explica o agrônomo Luis Otávio Bernardeli Gonçalves.
Frustração. O resultado fica ainda pior quando se compara com a expectativa de produtividade até o início do ano. "A gente achou que ia colher muito porque a soja estava linda. Mas, com o calor, a terra chegou a trincar e os grãos ficaram todos enrugados", conta Gonçalves.
Segundo o agricultor Leandro Scarlon, há grande preocupação com a qualidade da soja colhida. Numa mesma área, encontram-se grãos secos, verdes e alguns maduros. "Isso não passa no porto", diz ele,
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Cornélio Procópio, Floriano José Leite Ribeiro, explicou que as perdas apresentaram grandes variações de acordo com o período de plantio e as variedades de sementes. "É um mosaico. Alguns tiveram mais sorte, outros foram duramente atingidos."
O Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura estima que o total de perdas no norte pioneiro do Paraná chega aos 50%.

Safras de 2015 de café e de cana serão afetadas
Seca no Centro-Sul provoca estrago em lavouras; estimativas apontam para perdas de R$ 2 bi no setor sucroalcooleiro

Alexa Salomão e Márica de Chiara - O Estado de S. Paulo

O estrago que a seca do Centro-Sul provoca em lavouras permanentes, como cana e café, deve ir além desta safra. No caso do café, a falta de chuvas derruba as folhas que vão gerar os frutos da safra de 2015. Na cana, as mudas perdem qualidade por causa do calor excessivo.

Nas projeções da consultoria Safras & Mercado, as perdas no setor sucroalcooleiro podem chegar a R$ 2 bilhões neste ano. Na Bolsa de Nova York, o contrato do açúcar já subiu quase 19% desde janeiro, mas boa parte dos produtores não consegue aproveitar essa valorização porque eles já venderam a maior parte da produção.

Ainda que o aumento no preço internacional possa compensar parte das perdas na produção e na exportação ao longo do ano, é certo que os efeitos negativos do clima sobre a cultura vão se prolongar e podem extrapolar o campo. A falta de água afeta principalmente a concentração de açúcar na planta e, por tabela, a produção de dois de seus subprodutos industriais - o açúcar e o etanol. Como o etanol é misturado à gasolina, se a oferta do combustível verde cair, a tendência é que haja aumento da demanda do derivado de petróleo. "É bem possível que o Brasil tenha de importar mais gasolina no segundo semestre", prevê Plínio Nastari, diretor da consultoria Datagro.

No café, a falta de chuvas nas áreas produtoras do sul de Minas Gerais e na região Mogiana Paulista deve levar à perda de rendimento e à má formação do fruto. "Os efeitos da seca são variados. Em algumas regiões, a perda é de 15%, no cerrado mineiro oscila entre 20% e 25%", afirma o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café, Nathan Herszkowicz. Ele calcula que as perdas devem atingir entre 5 milhões e 6 milhões de sacas da safra, inicialmente estimada entre 46,5 milhões e 51 milhões de sacas. Com isso, pode ocorrer queda de R$ 2,280 bilhões na receita. Já Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café, acha que o maior estrago deve ocorrer em 2015: redução de 7 milhões a 8 milhões de sacas.

Incógnita. A maior incógnita no momento é o tamanho da perda no setor de laranja. A seca pegou a fruta bem na fase de desenvolvimento e a tendência é que haja uma redução na quantidade de água na fruta e, por conseguinte, no seu tamanho. Para o produtor, é o pior dos mundos. As vendas da fruta para a indústria são avaliadas por número de caixas e, nesse caso, será necessário colocar um número maior de laranjas para completar a caixa.

Para a indústria, porém, um volume menor de água pode representar uma quantidade maior de suco. Segundo Ibiapaba Netto, diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o cenário fica mais claro entre março e abril.

BB aponta quebra de 15% na soja e no milho
Para especialistas, perdas na safra podem afetar as contas externas, com a redução das exportações

MAURO ZANATTA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

As planilhas do Banco do Brasil apontam uma quebra média de 15% nas lavouras de soja e milho do Centro-Sul em razão da intensa estiagem de janeiro e fevereiro. O levantamento preliminar inédito, obtido pelo Estado, deve ter mais implicações macroeconômicas do que reflexos no bolso dos produtores, protegidos por seguros rurais e preços em alta. Mas a marca histórica de 200 milhões de toneladas de grãos, puxada por soja e milho, já foi adiada pelo governo.
As perdas com a seca, embora localizadas, devem pressionar a inflação, via choque de oferta pontual, e afetar as contas externas com eventual redução das exportações, já que os volumes serão menores, apontam especialista. Soja e milho são base para rações animais e uma quebra severa influencia as cotações das carnes, do leite e derivados. Ambos são 85% de toda a produção de grãos e faturaram US$ 29 bilhões no exterior em 2013 - 30% do total das vendas externas do agronegócio.
"Há um agravamento progressivo. Vai ter impacto na balança comercial e, talvez, na inflação", diz Ivan Wedekin, diretor-geral da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), controlada pela BM&FBovespa. Além disso, inquietações econômicas no campo servem a bandeiras políticas de ruralistas no Congresso, incluindo pedidos de renegociação de dívidas. Ainda mais em ano eleitoral.
Margem. Em plena época de colheita, as perdas em soja e milho variaram de 5% a 35%, diz o BB. Mas a margem operacional dos produtores, que calcula a relação entre custo e receita da safra, segue positiva pelo sétimo ano seguido - de 40% a 60% na soja e 20% a 40% no milho, calcula o banco, principal operador do crédito rural no País.
Na média, a rentabilidade está estimada em 54% na soja e 33% no milho. "Parte disso é fruto do seguro rural, que já cobre 65% das nossas operações", diz o vice-presidente de Agronegócios do BB, Osmar Dias.
Os prejuízos já são palpáveis. O grupo segurador BB Mapfre, que detém 70% do mercado, estima que pagará R$ 275 milhões em indenizações a 4,4 mil produtores de 13 Estados. O Banco Central, administrador do seguro oficial (Proagro), calculava, até a semana passada, sinistros de R$ 177 milhões em 12,6 mil contratos. "A seca está mais grave do que se pensava", resume o diretor-geral de seguros rurais da BB Mapfre, Luís Carlos Guedes Pinto, ex-ministro da Agricultura.
Mesmo com problemas localizados em algumas microrregiões, houve quebra significativa da soja em São Paulo (35%), Mato Grosso do Sul (17,5%), Paraná (16%) e Minas (15%). Nas lavouras de milho, as quebras foram de 34% em São Paulo, 22% em Minas e 16% em Santa Catarina, apontam os dados da rede de agrônomos que abastece as planilhas do BB. "O veranico, comum em janeiro, começou em dezembro e foi até fevereiro. O cenário é ruim para plantio. Teremos mais risco para a safrinha", diz Wedekin.
Nos Estados, os cálculos do BB são realidade. "Esse estrago provocou um aumento de 10% no preço do milho e da soja, com impacto no custo de aves e suínos. E ainda não sabemos como absorver isso", diz o diretor da Aurora Alimentos, Dilvo Casagranda. A cooperativa catarinense, que atua em 450 municípios na Região Sul, faturou R$ 5,8 bilhões no ano passado.

OESP, 02/03/2014, Economia, p. B1, B3

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,prejuizos-do-agr…

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,no-parana-perdas…

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http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bb-aponta-quebra-de-15-na-s…

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