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Prefeito ameaça barrar tropas federais

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
26 de Abr de 2005

O prefeito de Pacaraima, Paulo Cesar Quartiero, decretou ontem à tarde estado de emergência em todo o município enquanto durar o bloqueio à BR-174, que ele ajudou a organizar e desde domingo à tarde isolou boa parte do Norte do Estado. A barricada de pedras, automóveis enferrujados, pneus e toras de madeira - guardada por brancos e índios com o rosto pintado - impede a travessia de turistas e comerciantes para a Venezuela, que fica a poucos metros da cidade.

Com o seqüestro dos quatro policiais federais mantidos como reféns em Flexal e o bloqueio da estrada de Contão já são três as manifestações de protesto contra a homologação em área contínua da reserva Raposa Serra do Sol. Ontem chegaram a Roraima mais 70 federais e está previsto ainda o deslocamento de mais 30.

Dono de duas lavouras de arroz dentro da reserva e organizador dos protestos na região, Quartiero diz que a intenção é fechar também a BR-174 na saída de Boa Vista, o que impediria o deslocamento de tropas federais para todos os pontos de acesso à reserva e a Pacaraima - o município todo fica dentro de duas reservas, a sede na São Marcos e a área rural na Raposa Serra do Sol.

O alvo de fazendeiros e índios contra a demarcação é o governo. Eles querem chamar a atenção, promover um levante em todo o Estado e expulsar as forças federais designadas para garantir a retirada dos não índios que estão na reserva.

Hostilidade
Sem instrumentos para negociar com lideranças indígenas, a Polícia Federal foi atraída para uma situação constrangedora. Além do delegado e outros três policias mantidos como reféns desde sexta-feira à tarde na aldeia de Flexal, a 360 quilômetros da capital, e isolada em meio a uma cadeia de montanhas, com estradas estreitas e de difícil acesso, ontem à tarde os índios conseguiram a retirada de uma tenda que o Exército havia montado para abrigar os policiais num terreno à margem da rodovia, perto da barricada.

"Quero pedir por favor que os senhores se retirem, para evitar conflitos. Estão chegando aqui outros guerreiros. Vocês devem concentrar forças para combater outro inimigo, os Estados Unidos", disse o presidente do conselho de tuxauas (caciques), Anisio Pedrosa de Lima. O delegado Cristian Barth determinou que os agentes fossem para a sede do posto da PF, um quilômetro acima, um ponto tão fora de qualquer estratégia de segurança que, numa eventual situação de emergência, a única saída por terra é em direção à Venezuela, através do chamado marco BV 8.

Há um clima de hostilidade generalizada contra o governo, transferida para as forças federais. "A polícia está gerando intranqüilidade na região. Não temos nada a negociar com eles e sim com os patrões deles", disse o prefeito Quartiero, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Paredes e muros da cidade pichados com expressões como "covarde" e "traidor" denunciam a revolta contra Lula. "Nós sabíamos que poderia haver reações, mas estamos firmes na decisão de manter a ordem e dialogar até à exaustão para evitar conflitos. Somos instrumento do governo", explicou o superintendente da PF, Francisco Malmann.

Desocupação
Ontem chegaram ao Estado mais 70 federais. O secretário de Segurança, André Diniz, enviou 30 policiais da tropa de choque da PM para ajudar num eventual desbloqueio da rodovia federal em Pacaraima. Mas diz que qualquer operação deve ser de iniciativa da PF.

O prefeito está tentando uma audiência com o presidente venezuelano Hugo Chávez, que visita a cidade vizinha, Santa Elena, no próximo dia 30. Ele quer demonstrar que a demarcação inviabiliza a integração e o repovoamento da fronteira entre países da região amazônica.

Também sugere que o governador Ottomar Pinto construa um pacto com outros governadores do Centro-Oeste e Norte do País que enfrentam os mesmos problemas para fazer frente à política de demarcação de Lula. O governador tem audiências hoje em Brasília com os ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Márcio Thomaz Bastos, da Justiça.

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