VOLTAR

Prédios perdem lixo reciclável por falta de coleta

OESP, Cidades/Metrópole, p. C7
11 de Fev de 2012

Prédios perdem lixo reciclável por falta de coleta
Grandes condomínios de São Paulo reclamam de coleta seletiva e têm de desperdiçar papel, plástico e vidro com o lixo comum

FABIANO NUNES

Os condomínios da cidade de São Paulo têm acumulado lixo reciclável por falta de coleta seletiva. A demanda está cada vez maior, mas a estrutura da Prefeitura, com 21 centrais de triagem, não consegue atender ao processamento diário de todo o material produzido na capital. Os síndicos jogam o lixo que poderia ser reciclado com os detritos comuns.
O problema tem ocorrido com frequência no Edifício Saint Moritz, na Avenida Moema, na zona sul de São Paulo. Há quatro anos, o prédio aderiu à coleta seletiva. Neste ano, no entanto, teve de despejar o material reciclado com o lixo comum por atraso na coleta.
A Ecourbis, empresa responsável pela coleta de lixo na zona sul e parte da leste da cidade, tem se recusado a levar o material, dizem os responsáveis pelo condomínio. "Eles (funcionários da Ecourbis) alegaram que não tinham para onde levar, porque as centrais de triagem estavam lotadas. Como o contêiner de reciclado estava transbordando, tivemos de despejá-lo no lixo comum", contou a fisioterapeuta Patrícia Botto, de 35 anos, subsíndica do prédio. A coleta seletiva no edifício é feita uma vez por semana.
Longe do ideal. De 2009 para 2011, o volume médio de resíduos coletados diariamente na cidade de São Paulo teve um aumento de 12,5%. Passou de 16 mil toneladas por dia para 18 mil. A quantidade de itens enviados para a reciclagem, porém, continua por volta de 1% do total. Passou de 120 toneladas (0,71%) por dia em 2009, para 214 (1,13%) em 2011.
"O ideal é que a cidade estivesse reciclando cerca de 25% do total do lixo produzido", disse a arquiteta e urbanista Nina Orlow, da Rede Nossa São Paulo.
De acordo com Nina, a cidade precisa fazer um estudo gravimétrico (separação e pesagem) do lixo coletado diariamente, o que traduz o porcentual de cada componente recolhido.
"O que afinal temos no nosso lixo da varrição? Quanto há nele de plástico, papel, que poderia ser reaproveitado? Enquanto a cidade não fizer essa análise, fica impossível traçar planos e metas para a reciclagem", disse a especialista, ao analisar o atual sistema de coleta e reciclagem.
Iniciativa pontual. O Edifício Copan, no centro da capital, que tem cerca de 5 mil moradores, chega a produzir 75 toneladas de lixo por mês. Desse total, consegue enviar para a reciclagem 15 t.
O prédio também tem encontrado dificuldades na hora da coleta do material reaproveitável. "As cooperativas nem sempre funcionam. Como sou grande gerador de lixo, fiz uma parceria com uma ONG para a coleta, mas tem semanas que eles não recolhem o material reciclável e ele fica se acumulando na garagem", disse o síndico do condomínio, Affonso Celso Prazeres de Oliveira, de 73 anos.
Só de pilha de recicláveis ele tem cerca de uma tonelada que ainda não teve destinação adequada. "Nessa semana não vieram coletar o lixo, a gente quer ajudar, mas tem horas que dá vontade de descartar o lixo para reciclagem com o lixo comum", disse Oliveira.
Sem sucesso. A síndica do Edifício Rio Sena, na Rua Henrique Schaumann, em Pinheiros, zona oeste da capital, tenta há um ano instituir a coleta seletiva no seu prédio. Em vão. Chegamos a fazer a coleta seletiva por quatro anos, mas a empresa que coletava parou de fazer o serviço. Mantivemos a filosofia da coleta seletiva, pois temos os contêineres, mas o lixo reciclável é despejado com o lixo comum, pois a Loga (empresa responsável pela coleta) não incluiu nossa rua no itinerário da coleta seletiva", disse.
A Loga informou que o serviço não ocorre porque a via não está cadastrada para coleta seletiva.
Secretaria afirma que há 'problemas pontuais' na coleta
A Secretaria Municipal de Serviços, responsável pelo Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb), disse que houve uma falha na coleta do Edifício Saint Moritz, em Moema, e por isso a Ecourbis foi notificada e pode receber multa. Já no caso do Edifício Rio Sena, a Limpurb explicou que o local não tinha coleta seletiva porta a porta, mas que agora o endereço foi incluído no roteiro.
Segundo a Ecourbis, estão ocorrendo atrasos pontuais porque muitas das centrais de triagem estão trabalhando no limite de sua capacidade. A Loga disse que também tem problemas em descartar os materiais nas centrais, mas explicou que tem um projeto para uma central de triagem e está projetando mais quatro unidades na zona norte.

Centrais de triagem da cidade também estão lotadas

A montanha de sacos de lixo vai até o teto do galpão. A central de triagem da Coopervivabem, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, uma das 21 da cidade, chega a processar 230 toneladas de material reciclado por mês e está no limite. "Tem dias que tenho de barrar o caminhão da Loga. A gente não consegue atender toda a demanda", contou a presidente da cooperativa, Elma de Oliveira Miranda.
Segundo Elma, no fim de ano há uma grande remessa de materiais, como papelão, latas, garrafas e isopor - a unidade é a única que recebe esse último material. "Isso acaba lotando as centrais. A gente precisa fazer um rodízio com os caminhões para não ficar com tudo. Vamos precisar de outras centrais para dar conta de tudo que é produzido." Sua cooperativa também faz a coleta com caminhões-gaiola. "Mas temos só quatro. Não dá para atender todo mundo."
Ela espera aumentar a produtividade da central para até 300 toneladas por mês. "Recebemos mais três caminhões e vamos poder ampliar o atendimento."
Para Carlos Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), existem dois gargalos no processo. "A capital ainda não está bem estruturada com as centrais nem a indústria que recicla consegue atender a demanda. É preciso resolver essa equação para ampliar a coleta."
A Agenda 2012, plano de metas da Prefeitura, prevê a instalação de mais cinco centrais até o fim do ano.
"O ideal era uma para cada um dos seus 96 distritos", calcula Delaine Romano, coordenadora de projeto com catadores da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).

OESP, 11/02/2012, Cidades/Metrópole, p. C7

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,predios-perdem--lixo-recicl…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.