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Povos indígenas: (in)visibilidade social

Gazeta do Sul (RS) - http://www.gazetadosul.com.br/
Autor: Carina Santos de Almeida
19 de Abr de 2010

No dia 19 de abril comemora-se o dia do índio. O que, infelizmente, muitos não-indígenas ignoram no sul do Brasil, e especificamente no Rio Grande do Sul, é que os diversos povos indígenas - sobretudo os de tradição Kaingang e Guarani que espacializam-se pelo território rio-grandense - buscam seus espaços na sociedade enquanto atores sociais e não representam grupos étnicos que teriam sido extintos, assimilados ou aculturados.

A sociedade gaúcha em geral (não indígena) quando pensa no "índio" imagina populações isoladas, que vivem como nos tempos pretéritos da história brasileira (índio de arco e flecha), visualiza o indígena da região amazônica como sendo o "verdadeiro índio" e nem sempre reconhece as especificidades socioculturais, linguísticas e étnicas, como se falar em índio fosse o mesmo que falar em um único povo.

Muitos grupos indígenas são frequentemente encontrados nas cidades comercializando seu artesanato. Isso representa, muitas vezes, a principal economia de subsistência de tais grupos. Neste sentido, os indígenas situam-se como população marginal nos municípios e são indesejados pela sociedade local, prefeituras, comerciantes e produtores rurais, que veem neles "empecilho" ao desenvolvimento da dita "civilização brasileira e gaúcha".

Por outro lado, desde que a Lei n 11.645, de 10/03/2008, normatizou e veio a garantir que a história e cultura indígena, assim como afro-brasileira, sejam contempladas nos currículos escolares, muitas instituições públicas e privadas do país, a partir da iniciativa ainda incipiente de alguns professores, estão desenvolvendo estudos em sala de aula, o que contribui para acabar com uma visão reducionista da questão indígena.

Desculpem-me os professores e profissionais de imprensa esclarecidos, mas o desconhecimento de quem são os indígenas no Rio Grande do Sul permanece, e a culpabilidade recai grandemente aos professores e à mídia, que manifestam muitas vezes, discursos preconceituosos ao analisarem superficialmente a partir de seus preceitos de "civilização" as populações indígenas. Nas escolas costuma-se pensar o indígena a partir da visão capitalista, utilitarista, colonialista, colonizadora, romântica ou mesmo através de uma visão simplista da condição indígena atual, sem reconhecer as questões que estão imbricadas nas complexas relações que foram tramadas ao longo da construção da nação brasileira.

Não cabe aqui, em poucas linhas, querer citar e explicar as inúmeras violências simbólicas e físicas que sofreram as populações tradicionais indígenas no Brasil e no Rio Grande do Sul. Por outro lado, não é correto vitimizar o indígena. Contudo, é preciso reafirmar que suas etnicidades e identidades integram o território gaúcho, visto que, na maioria das vezes, as populações Kaingang e Guarani não são reconhecidas como integrantes da sociedade. Quando se fala em identidades, etnicidades, a maioria dos gaúchos enxerga todos os povos que aqui "colonizaram" - açorianos, alemães, poloneses, italianos, africanos (em certa medida) - mas não visualiza as seculares e tradicionais sociedades kaingang e guarani. Simplesmente a sociedade gaúcha os ignora, os desconhece, caindo por vezes no malfadado discurso de extinção, assimilação e aculturação.

Espera-se que, aos poucos, à medida que as novas gerações tematizem a questão indígena em sala de aula com seus professores, em decorrência da obrigatoriedade da lei (nem sempre cumprida), ou mesmo passe a ler sobre os mesmos na mídia, não como marginais, exóticos ou quase extintos, mas como agentes da sociedade gaúcha e brasileira, uma nova história do Brasil esteja sendo construída, a partir do respeito à diferença e à especificidade, visto que todos os povos integram a condição humana.

Carina Santos de Almeida/Doutoranda em História Cultural e pesquisadora junto ao Laboratório de História Indígena/LABHIN - UFSC

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