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Povos indígenas definem pauta de reivindicações

O POVO
Autor: Rita Célia Faheina
15 de Dez de 2007

Os representantes de povos indígenas tentam conciliar o uso da tecnologia e outros elementos da modernidade com suas tradições. Nada de auditório entre quatro paredes. Foi debaixo de uma frondosa mangueira, na aldeia Buriti dos Tremembé de Itapipoca, Região Norte do Estado, que representantes de 12 povos indígenas do Ceará debateram, articularam e deliberaram questões da terra, saúde, educação e política Indigenista. Num grande círculo, em torno da árvore, eles concluíram, ontem, no fim da manhã, o relatório da XIII Assembléia Estadual dos Povos Indígenas no Ceará.

Documento escrito à mão? De jeito nenhum. Dois índios de diferentes etnias usaram notebooks para digitar as propostas e imprimir em papel que leva a marca da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).

Representantes dos anacé, jenipapo-kanindé, jucá, kalabaça, kanindé, kariri, pitaguary, potiguara, tabajara, tapeba, tremembé e tubiba/tapuia já utilizam a tecnologia dos brancos, mas fazem questão de manter seus costumes, seus rituais e símbolos. Depois de ler o relatório final, Eliane da Silva Gomes, a Eliane Tabajara, do município de Poranga, agradeceu ao "pai Tupi e a todos os encantados de luz por terem dado forças para realizar a assembléia, por estarmos com saúde e com muitas propostas de trabalho para nossas aldeias". Os encantados de luz, segundo Eliane, são os espíritos dos antepassados. "Sentimos suas presenças entre nós para nos fortalecer", disse.

Rituais, como a dança, as falas e a cultura das aldeias foram apresentados todos os dias desde o último domingo, 9, quando começou a assembléia. Esse avanço no uso da tecnologia e na educação, sem esquecer as origens, foi destacado pelo historiador Alexandre Gomes, do Museu do Ceará, que também participou do encontro que se realiza anualmente sempre nos dois últimos meses do ano. "Os índios do Ceará sabem o que querem e é nosso dever lutarmos com eles por suas causas". Ele disse que não basta pesquisar os aldeamentos, "o nosso papel é muito maior. Os índios estão organizados e precisamos nos envolver nessa luta, principalmente na questão da terra", disse.

Funasa

A representante do distrito sanitário da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ana Parente, disse ontem que o órgão faz o que está dentro de suas condições para atender aos povos indígenas. Reconheceu que há ações que ficam sem ser executadas porque não dependem só do órgão federal. "Mas, queremos ouvir propostas de vocês para podermos avançar. Políticas de saúde, da terra, estratégias de trabalho. Aprendemos muito com vocês", completou.

No relatório final da assembléia, organizada pela Apoinme, constam propostas relacionadas à terra, saúde, educação e política indigenista. O professor Weiber Tapeba, da localidade de Lagoa dos Tapeba, em Caucaia, diz que na área educacional, os mais importantes projetos são a criação do Conselho Estadual de Professores Indígenas, concurso público específico para os índios e a criação do curso de Licenciatura Intercultural dos professores indígenas.

Referente à terra, os 250 participantes da assembléia decidiram encaminhar proposta às autoridades governamentais pedindo a anulação das autorizações de projetos imobiliários nas áreas indígenas, a reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai), a proibição da venda da terras que consideram suas de direito e a formação de Grupos de Trabalhos (GTs) para a identificação, demarcação e homologação de seus territórios. Querem ainda o cadastro (ou um censo) dos povos indígenas do Ceará.

Quanto à saúde, pedem a estruturação dos postos de atendimento, ampliação do programa Farmácia Viva, presença dos profissionais da Funasa nas áreas com escassez de água e contrato dos que trabalham voluntariamente na área sanitária. No quesito política indigenista, decidiram por lançar candidatos na política partidária municipal para que, se eleitos, lutem pela reconquista dos seus direitos. "Aqueles que não cumprirem suas promessas serão punidos", disse Eliane Tabajara. O próximo encontro será no fim de 2008, no município de Poranga.

ÍNDIOS NO CEARÁ
- O território cearense, na época de seu descobrimento, era habitado apenas por dois povos selvagens: os tupis e os cariris. As duas nações se subdividiam em mais de sessenta tribos que possuíam quase os mesmos costumes dos demais povos selvagens que povoavam o Brasil.

- Cinco grupos foram relacionados por historiadores no Ceará: tupi, cariri, tremembé, tarairiu e jê. A etnia tupi cearense compunha-se basicamente de duas grandes nações, a dos tabajaras (parentes dos tupiniquins) e a dos potiguares (próximo do tupinambás).

- Os tabajaras, que provavelmente vieram da Bahia, habitavam a serra da Ibiapaba. Guerreiros valorosos, segundo alguns, antropófagos, chegaram a dominar outras tribos (como a dos tucurijus), oferecendo feroz resistência à penetração do conquistador (foram eles que, em aliança com traficantes franceses, combateram Pero Coelho em 1603).

- Os potiguares, originários do Rio Grande do Norte, de onde foram expulsos pelos colonizadores, localizavam-se principalmente no Baixo Jaguaribe e em alguns pontos ao longo do litoral.

- Do grupo cariri ou quiriri, que ocupava áreas dispersas entre os rios São Francisco (BA) e Parnaíba (PI), pode-se citar as nações dos inhamuns (habitantes dos sertões de igual nome e aldeados por frades carmelitas em São Mateus, hoje Jucás), dos cariús (localizados sobretudo na serra do Pereiro e nas terras compreendidas entre os rios Cariús e Bastões), dos cariris propriamente dito e dos caratéus ou crateús (que se localizavam na bacia superior do rio Poti).

- O grupo dos índios tremembés ocupava uma faixa litorânea que ia da baía de São Jorge, no Maranhão às margens do rio Curu. Acabaram aldeados pelos jesuítas na Missão de Nossa Senhora da Conceição de Almofala, hoje município de Itarema.

- Dentre as nações que compunham o grupo tarairiu, destacaram-se os janduins (habitantes originais do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco, mas que incursionavam amiúde pelas terras do Baixo Jaguaribe), os canindés e os jenipapos habitantes das Margens dos rios Banabuiú, quixeramobim e cabeceiras dos cariús.

- Outros tarairius eram os baiacus, também chamados de paiacus ou ainda de pacajus, os arariús, os quixelôs e os tacarijus ou tucurijus, responsáveis pelo trucidamento do jesuíta Francisco Pinto em 1607. Do grupo jê, nas terras cearenses apenas habitavam os aruás em área próxima ao rio Jaguaribe.

- Atualmente, pode-se relacionar no território cearense as etnias: anacé, jenipapo-kanindé, jucá, kalabaça, kanindé, kariri, pitaguary, potiguara, tabajara, tapeba, tremembé, tubiba/tapuia.

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