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Povos da floresta cobram em Brasília a conta antiga da preservação

Kaxi.com.br
16 de Set de 2007

"Está na hora da onça beber água", é como falam os seringueiros do Acre quando se referem a um momento de decisão. E cobrança de decisões é o que não vai faltar no II Encontro Nacional dos Povos das Florestas, que será aberto em Brasília nesta terça-feira, dia 18, e prossegue até o próximo domingo, dia 23.

No encontro, cerca de três mil índios, seringueiros, ribeirinhos, pescadores, quebradeiras de cocos e outros povos tradicionais da Amazônia vão cobrar do governo federal medidas para fortalecer a sustentabilidade sócio-ambiental na região, que vem sendo preservada por eles há séculos, mesmo vivendo todo o tipo de dificuldades.

O II Encontro Nacional dos Povos das Florestas em Brasília está sendo possível graças à retomada da aliança entre esses povos, que se uniram pela primeira vez em março de 1989, em Rio Branco (AC), para cobrar políticas destinadas ao desenvolvimento sustentável da região de maior floresta tropical do planeta.

Desta vez, o objetivo do encontro é unificar e fortalecer o movimento pela sustentabilidade dos povos tradicionais que vivem na Amazônia e nos biomas Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado, Pampa e Pantanal. O evento na capital federal é promovido pela Aliança dos Povos da Floresta, entidade composta pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), e o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).

O encontro será aberto nesta terça-feira, às 19 horas, na sala Villa-Lobos do Teatro Nacional com o show do cantor Milton Nascimento e a apresentação da Orquestra Sinfônica de Brasília, e deverá ser prestigiado pelos ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, e Marina Silva, do Meio Ambiente. Caberá ao coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Saterê-Mauê, dar as boas-vindas aos participantes.

As discussões do II Encontro terão início na quarta-feira, às 9 horas, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, e prosseguem até sexta-feira (21), quando as populações tradicionais da Amazônia estarão fazendo suas reivindicações ao governo federal para reduzir a pobreza numa das regiões potencialmente mais ricas do mundo. No sábado (21) e domingo (22), as atividades acontecem no Jardim Zoológico de Brasília.

Os participantes do encontro vão discutirão temas que estão na ordem do dia, como mudanças climáticas, redução da pobreza entre os povos tradicionais, conservação da biodiversidade, e o Programa de Aceleração do Crescimento voltado para o desenvolvimento socioambiental. Também serão discutidas alternativas à implementação de políticas públicas que assegurem a sustentabilidade dos povos que vivem nas florestas.

No sábado (22), haverá a mostra de arte e artesanato, que terá início às 11 horas, no Jardim Zoológico de Brasília. No domingo (23), será feito um plantio de árvores com o objetivo de neutralizar as emissões de carbono do encontro.

Conferência livre da juventude

Durante o encontro, jovens e adolescentes de todo o país vão acampar em uma área de camping do Jardim Zoológico, onde serão desenvolvidas várias atividades culturais. Eles também vão participar da conferência livre da juventude, que reunirá 50 jovens, com idade entre 15 e 25 anos, indicados por organizações não-governamentais ligadas à Aliança dos Povos das Florestas.

Cinema para todas as tribos

O encontro também terá a realização da mostra "Cinema para todas as tribos", promovida em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). As exibições de curtas metragens e vídeos documentários serão de quarta (19) a sexta-feira (19), das 14 às 19 horas, no centro de convenções. As inscrições ainda podem ser feitas pelo site povosdasflorestas.org.br, ou no local do evento.

Segundo o coordenador-geral da Coiab, Jecinaldo Saterê-Mawê, a retomada da aliança significa a abertura do diálogo do movimento com os governos e a cooperação internacional. "Nas últimas duas décadas, cada entidade atuou individualmente, mas agora é preciso uma agenda unificada. As comunidades indígenas não aceitarão o modelo de desenvolvimento econômico que leva à miséria a população da Amazônia", destacou Saterê-Mawê.

Para o diretor do Conselho Nacional dos Seringueiros, Júlio Barbosa de Aquino, o Brasil avançou na luta pela proteção aos povos das florestas. Contudo, ele defende que o debate exceda os limites amazônicos. "Precisamos discutir os problemas que ocorrem em outros biomas, que são igualmente importantes, ricos em biodiversidade e com uma população expressiva vivendo nesses ecossistemas", disse Aquino.

"O segundo encontro será um momento para ampliar e fortalecer as nossas alianças e conscientizar sobre os efeitos das mudanças climáticas. Também vamos definir uma agenda para acelerar o processo de redução da pobreza entre as comunidades tradicionais, que vivem nas florestas", afirma o secretário-geral do GTA, Adilson Vieira. De acordo com dados da GTA, o país possui 4,7 milhões de quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a 55% do seu território nacional.

I Encontro dos Povos da Floresta

O segundo encontro ocorreu 18 anos depois do primeiro encontro, que ocorreu em março de 1989 por ocasião do 2o Encontro Nacional de Seringueiros, onde foi firmada a Aliança dos Povos da Floresta. Naquela ocasião, participaram 187 delegados seringueiros e indígenas do Acre, Amazonas, Pará, Amapá e Rondônia.

Durante o encontro, a Aliança dos Povos da Floresta foi instituída com os propósitos de defender as terras das populações tradicionais e assegurar a implementação de políticas públicas que garantissem sua sobrevivência e sua cultura. O líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri (AC), foi um dos grandes inspiradores do encontro, que foi organizado pelo Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e pela União das Nações Indígenas (UNI), além de apoiado por diversas outras entidades. O primeiro encontro incorporou a diversidade dos setores oprimidos da Amazônia, reunindo também castanheiros de Marabá (Pará), além de seringueiros do Acre, Amazonas e Rondônia.

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