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Povo Yanomami realiza assembléia anual

CCPY-Boletim Yanomami-Boa Vista-RR
27 de Fev de 2003

Encontro reuniu 217 líderes de 41 aldeias. No documento final, os índios cobram das autoridades ações mais enérgicas contra a presença de garimpeiros na Terra Yanomami

O povo Yanomami realizou, dia 18 último, a sua assembléia anual, com a participação de 217 líderes, representantes de 41 aldeias. As conclusões do encontro foram enviadas ao Ministério Público Federal, aos Ministérios do Meio Ambiente, da Defesa e da Justiça. Os líderes indígenas denunciam o aumento de garimpeiros em suas terras e cobram das autoridades providências urgentes para a remoção dos invasores. Cobram também uma ação mais enérgica dos militares - há dois Pelotões de Fronteira e instalações do SIVAM perto das áreas invadidas - para coibir o ingresso de garimpeiros, muitos procedentes da Venezuela. Reivindicam também a expulsão dos fazendeiros invasores de suas terras (região do Ajarani) que, além do mais, distribuem bebidas alcoólicas aos índios.

Abaixo, a íntegra do documento aprovado na Assembléia:

"Terra Indígena Yanomami
Aldeia Waromapi, 18 de fevereiro de 2003
Ao
Ministério Público Federal
Ministério do Meio Ambiente
Ministério da Defesa
Ministério da Justiça

Nós lideranças yanomami reunidos em assembléia elaboramos este documento.
Os garimpeiros continuam em nossa floresta e por isso nós yanomami nos dirigimos às autoridades brasileiras para que elas tomem providências. O número de garimpeiros está aumentando nas regiões do Paapiú, Ericó, Parafuri, Yawarata, Alto Catrimani e Waikás. As autoridades devem retirar imediatamente os garimpeiros porque nós não queremos que as epidemias voltem a matar o nosso povo.
Os fazendeiros também continuam em nossa floresta, na região do Ajarani. As autoridades também devem retirar estes fazendeiros imediatamente. Se eles não forem retirados logo, eles continuarão destruindo nossa floresta. Nós estamos muito revoltados porque estes fazendeiros estão dando bebida alcoólica para os Yanomami.
Perto das nossas aldeias já existem três quartéis, em Maturacá, Surucucu e Auaris. Nós não queremos outro quartel em nossa floresta. E também não concordamos com a ampliação da pista de pouso em Surucucu, como pretendem os militares, porque ela já é bastante grande.
Quando os militares quiserem fazer alguma coisa em nossa floresta, é necessário primeiro consultar todas as lideranças yanomami para que haja um acordo. Nós nunca fomos consultados e é por isso que o comportamento dos militares em nossa terra é na maioria das vezes irresponsável: o lixo não é tratado adequadamente; é oferecida bebida alcoólica aos indígenas; são mantidas relações sexuais com as nossas mulheres; e os garimpeiros não são retirados de nossa floresta.
Por que os militares não retiram os garimpeiros venezuelanos que entram na nossa floresta, no Brasil?
Nós Yanomami também não queremos as antenas do Sivam próximas às nossas aldeias. O Sivam foi instalado em nossa floresta, mas quais benefícios que isso trouxe para nós? Se vocês querem proteger a nossa floresta é importante que antes todas as lideranças yanomami sejam consultadas. Como nós nunca fomos consultados, nós ainda não sabemos o que é o Sivam. As antenas do Sivam já foram instaladas perto das nossas aldeias, em Ajuricaba, Aracá, Maiá, Parafuri e Ericó. Nós queremos entender como funciona o Sivam e para quê. Quando o Sivam começar a identificar os aviões dos garimpeiros nós vamos acreditar na sua utilidade.
O Ibama quer se apoderar da floresta dos Yanomami. O Ibama quer proteger a nossa floresta através da Floresta Nacional (de Roraima e Amazonas), mas esta vai contra a Constituição brasileira feita pelas autoridades. Isto que o Ibama chama de Flona, não é dele. Esta é verdadeiramente a floresta dos Yanomami, e é por isso que nós defendemos com todas as nossas forças. Nós não queremos a Flona!
Nós lideranças yanomami estamos falando diretamente aos corações das autoridades brasileiras.
Participaram da Assembléia 217 Yanomami, das seguintes aldeias: Perekapiu, Heramapi, Tirei, Pakirapiu, Wanapiu, Apiahiki, Okarasipi, Watoriki, Perisi, Roko, Hakoma, Saula, Kadimani, Hawarihixapopë, Mauxixiu, Porá, Arapari, Makiu, Mauxiu, Maamapi, Waromapi, Poohohipii, Kaume, Tihinapii, Yamaraaka, Hehupii, Maimasi, Paari, Mararau, Kitao, Simoko, Nomarixitiu, Tirei II, Asimiu, Kopou, Ericó, Parafuri, Uraricoera, Alto Mucajaí, Baixo Mucajaí, Apiau."

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