VOLTAR

Povo Truká realiza sua primeira Assembléia, em Pernambuco

Cimi-Brasília-DF
18 de Ago de 2005

A 1a. Assembléia do Povo Truká ocorreu entre os dias 12 e 14 de agosto e reuniu cerca de 200 delegados, que ouviram de seus anciãos e anciãs relatos de sua história e da luta pela reconquista do território. Foram lembradas especialmente as lideranças Acilon Ciriaco e Antônio Cirilo, que atuaram no início do século passado. Hoje, este povo continua lutando pela homologação de suas terras e pelo fim da criminzalização de suas lideranças. Mas, com o território demarcado e sem invasores, destaca-se pela produção de alimentos - e se orgulha de ser o maior produtor de arroz do estado de Pernambuco.

A Assembléia foi marcada, no entanto, pela ausência de um dos dois caciques do povo Truká, Aurivan dos Santos Barros, o Neguinho. Apesar de estar na Ilha de Assunção, terra Truká, ele não pode participar do encontro porque cumpre prisão domiciliar por processo que responde desde quando liderou seu povo nas retomadas das terras onde hoje os Truká vivem. "O que podemos fazer para soltar nosso cacique?" foi uma das perguntas feitas pelos participantes durante os debates. Os Truká escreveram uma carta ao Poder Judiciário, explicando a situação em que Neguinho foi processado e solicitando que seu cacique seja absolvido das acusações, que são consideradas um ato político contra o povo.

Além de continuar em busca da conclusão do processo de demarcação de seu território, os Truká pretendem definir um projeto de distribuição e uso de suas terras, que se faz cada vez mais necessário com o aumento da população. A intenção é possibilitar "a manutenção das famílias na terra, protegendo a caatinga, a terra e o rio São Francisco", segundo afirmam no documento final da Assembléia.

No encontro, foram celebrados os avanços deste povo em relação à sua organização social, à educação e à saúde. Identificados os desafios que ainda existem, os delegados começaram a planejar formas de superá-los. Na educação escolar, por exemplo, os Truká acumulam anos de experiência em escolas com professores indígenas e currículos diferenciados. A partir da 5a. série do ensino fundamental, no entanto, os alunos precisam estudar na cidade e voltam a enfrentar preconceito, além de deixarem de estudar temas específicos da vida e da cultura indígena. A isso se junta a dificuldade de profissionalização dos indígenas e a quase impossibilidade de seguirem para a universidade, pelos custos que isso implica. Para superar estes problemas, os participantes da Assembléia propõem a mobilização para a implantação dos cursos nas aldeias e a criação de uma escola agrícola, que permitiria aos jovens conhecer mais sobre técnicas agrícolas, qualificando-os para continuarem vivendo da produção de alimentos, e contribuirá também para o uso sustentável da terra indígena.

Para além das discussões, a Assembléia foi espaço para manifestações culturais como o Toré, dança ritual indígena, e para a integração entre os membros do povo Truká que, vivendo espalhados nas aldeias da Ilha, nem sempre têm oportunidade de se encontrar. Músicas e teatro também fizeram parte do encontro."A presença, o interesse e a participação do nosso povo na Assembléia foi o que tivemos de mais positivo", afirma a liderança Mozeni.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.